Mineirão / BCMF Arquitetos

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Belo Horizonte, Brasil

Descrição enviada pela equipe de projeto. O projeto de remodelação do Mineirão da BCMF Arquitetos inclui uma plataforma de serviços e comércio que funciona fora do horário dos jogos como uma grande praça aberta ao público. A esplanada é esculpida e moldada ao terreno, configurando diversos espaços e programas de necessidades escalonados em desníveis. Essas praças são integradas com o entorno imediato e percebidas como uma continuação do solo da cidade.

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Lojas na esplanada sul © Leonardo Finotti

UM ESTÁDIO PARA A CIDADE

Belo Horizonte. Um edifício modernista em uma paisagem modernista.

Mineirão / BCMF Arquitetos - Orla, Urbano, Costa
Vista Aérea do Mineirão, com a Igreja e Lagoa da Pampulha em primeiro plano, e Serra do Curral ao fundo © Alberto Andrich

O Estádio do Mineirão e o bairro da Pampulha foram idealizados na década de 1940, início da febre desenvolvimentista que regeria a política econômica do Brasil nos anos seguintes. Não por acaso, o mentor do Complexo de Lazer e Turismo da Pampulha foi Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, que convidou Oscar Niemeyer, Roberto Burle Marx e Cândido Portinari, entre outros, para imprimir a cara de seu projeto eminentemente moderno. Um ensaio bem-sucedido para sua Brasília dos anos de 1950 e 1960.

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Estádio Mineirão em 1970 © Coleção Museu Abilio Barreto

O Mineirão foi inaugurado em 1965 como o segundo maior estádio de futebol do mundo, com capacidade final para cerca de 130 mil pessoas. Com sua ritmada estrutura de concreto armado e monumental volumetria, projeto de Eduardo Mendes Guimarães Júnior e Gaspar Garreto, tornou-se um ícone na paisagem. Hoje, a Lagoa da Pampulha, os edifícios de Niemeyer e a estrutura do Mineirão são tombados.

Croqui Complexo da Pampulha - BCMF Arquitetos "d'après" Oscar Niemeyer

Na época da construção, a Pampulha era um bairro isolado, a 10 km do centro consolidado de Belo Horizonte, mas hoje integra a mancha urbana da cidade e se encontra em seu eixo de expansão. Apesar de contar com boa infraestrutura, o bairro ainda carece de equipamentos urbanos e melhor oferta de serviços.

Com a escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo de 2014 e a escalação do Mineirão para abrigar jogos do torneio, veio a oportunidade de transformar o Gigante da Pampulha em um complexo esportivo multifuncional, tendência dos estádios contemporâneos: oferecer variedade de serviços que virem foco de atração para a vizinhança e para a cidade inteira, possibilitando a sustentabilidade econômica do complexo.

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Vista interna da arquibancada a partir do setor Sul © Joana França

O instrumento escolhido para viabilizar esse modelo de operação foi a parceria público-privada (PPP), na qual se definiu que a remodelação do estádio eria assumida por uma empresa que receberia, em troca, a concessão de uso do empreendimento por 25 anos.

A empresa vencedora da licitação foi o Consórcio Minas Arena, que convidou os arquitetos da BCMF (Bruno Campos, Marcelo Fontes e Silvio Todeschi), de consolidada experiência em projetos de arquitetura esportiva, para ser responsável pelo projeto executivo do Novo Mineirão. (A BCMF já havia projetado o Complexo de Deodoro para os Jogos Pan-Americanos Rio 2007, e a maioria dos estudos conceituais para o dossiê da vitoriosa Candidatura dos Jogos Olímpicos Rio 2016.

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Vista geral a partir do nordeste © Leonardo Finotti

A tarefa era rever o projeto básico utilizado no termo de referência da licitação, assinado pela GPA&A e pela alemã GMP, e entregar um novo design para a construção de acordo com as demandas do consórcio e da PPP. As inovações foram desde a adequação a novos requerimentos da Fifa, da Lei Geral da Copa e da nova IT do Corpo de Bombeiros, a novos conceitos para integrar o complexo ao seu contexto imediato e potencializar a exploração comercial do complexo, passando pela reconfiguração da arquitetura externa (“esplanada”) e da nova extensão da cobertura - tudo isso levando em conta um prazo enxuto.

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Vomitório arquibancada inferior - Setor Amarelo © Joana França

As alterações dentro do estádio respondem basicamente às exigências da Fifa: acessos, segurança, capacidade, visibilidade, áreas de imprensa, instalações dos atletas, logística. O destaque é a extensão da cobertura, fundamental para o conforto do público dentro do estádio (proteção contra intempéries) e fora dele (fim do efeito penumbra na transmissão televisiva). Externamente, foi necessário reconfigurar o uso do terreno, antes utilizado quase em sua totalidade como estacionamento, para dar condições de acesso e apoio ao estádio e possibilitar a operação comercial característica do modelo de PPP.

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Vomitório arquibancada inferior - Setor Vermelho © Joana França

Uma análise da evolução das tipologias de estádios esportivos nas últimas décadas revela a tendência à incorporação de novos programas que, por estarem fora da arena, encontram duas expressões clássicas: ou ao stadium é acrescentado um podium, ou seja, uma plataforma na base do edifício principal - como nos estádios Green Point, na África do Sul, Allianz Arena, em Munique, Alemanha, e o Castelão, recém-inaugurado em Fortaleza -, ou a ele é acoplado um volume vertical que forma um todo compacto - caso do Itaquerão, em São Paulo.

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Esplanada © Leonardo Finotti

A adição de programa no Mineirão não poderia ser feita de outra forma que não pela inserção de um podium, dado que o estádio é, não apenas uma estrutura existente, mas tombada. A grande inovação da equipe da BCMF foi articular essa plataforma com a cidade e com o estádio: subvertendo a solução clássica de podium, que remete a um edifício horizontal (como nos exemplos descritos acima e no projeto básico do Mineirão), a plataforma executada é esculpida no terreno, moldando-se a ele, organizando- se em diversas praças de uso semipúblico em níveis escalonados.

Mineirão / BCMF Arquitetos - Escada
Escadaria esplanada (acesso sul) © Leonardo Finotti

Essas praças são integradas em nível com o entorno imediato e percebidas como uma continuação do solo da cidade. Suaves rampas e planos inclinados, ladeando escadarias com proporções de arquibancada, conferem acessibilidade universal a todos os pontos, inclusive à arena. A aproximação do público é gradual e muitas áreas de estar são encontradas pelo caminho. A partir de uma delas foi feita a conexão com o Ginásio do Mineirinho, sobre o sistema viário existente.

Mineirão / BCMF Arquitetos - Fachada
Escada de acesso ao nível -1 © Leonardo Finotti

Toda a topografia artificial do térreo é, assim, destinada ao fluxo de pedestres - ou de multidões. Já o subsolo aloca uma intrincada rede de fluxos operacionais e áreas de serviços, além de programas próprios à PPP (áreas comerciais e institucionais) e de requerimento do governo (Museu do Futebol, posto de saúde, tribunal de pequenas causas). É criada, assim, uma setorização vertical (em corte) associada à tradicional setorização horizontal (em planta), que separa o front of house, por cima, do back of house, por baixo.

Mineirão / BCMF Arquitetos - Viga
Área comercial na praça de acesso sul © Leonardo Finotti

Eventualmente, porém, esses dois mundos se encontram: fachadas de lojas emergem à superfície da esplanada em pontos de desnível, estrategicamente locadas de maneira a ativar as várias plataformas. Somadas a um anfiteatro conformado pelas escadarias e à intenção de promover eventos públicos e atividades, as lojas devem garantir o fluxo de pessoas sete dias por semana, contribuindo para a qualidade da experiência urbana no bairro e para a rentabilidade do negócio para a operadora.

Corte Geral

Enquanto os pórticos estruturais, a laje da cobertura e a arquibancada superior, que são tombados, foram mantidos, os anéis intermediário e inferior foram demolidos e, o campo, rebaixado em 3,40 m. Com isso, foram atingidos os requerimentos técnicos da Fifa. Sobre toda a área de arquibancadas foram dispostos assentos numerados, ergonômicos, resistentes e em três tons de cinza, o que gerou um inusitado efeito pixelado, um fundo neutro para a aplicação da comunicação visual de cores vibrantes dos quatro setores, projeto da Hardy Design. A capacidade do estádio passou a ser de 62.160 lugares.

A extensão da cobertura teve sua solução integralmente redefinida. A equipe da Engeserj, responsável pelo projeto estrutural, utilizou estudos feitos na UFMG sobre a estrutura de concreto do Mineirão e concluiu que seu esqueleto forte e sólido poderia e deveria participar do projeto para a cobertura. A solução mista acompanha o ritmo dos 88 pórticos do estádio, apoiando-se neles, e cria 26 m de extensão de cobertura em balanço.

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Arquibancada - Setor Sul © Joana França

O primeiro passo foi fazer um alívio de tensões com um trabalho de protensão das vigas, com macacos hidráulicos e cabos de aço. A estrutura, que havia cedido cerca de 30 cm ao longo dos anos, foi levada acima de seu nível original de maneira que, no final, com a nova carga, pudesse voltar para uma condição próxima à de seus primeiros dias. Em seguida, os pilares foram reforçados com sistemas de contraventamento integrados por chapas metálicas e tirantes de aço. Foram então inseridas, uma a uma, treliças planas compostas por tubos de aço, engastadas a peças de concreto moldadas junto a cada um dos pórticos estruturais. Finalmente, o conjunto recebeu uma membrana autolimpante.

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Detalhe arquibancada setor sul © Joana França

Sobre a laje da estrutura existente foi instalada uma rede de painéis solares que farão do Mineirão a maior usina fotovoltaica sobre cobertura do Brasil. A estimativa é que seja produzida energia suficiente para atender a 1.200 residências: o estádio disponibilizará essa energia para a rede pública, de onde a buscará de volta para uso próprio. A água das chuvas será coletada e reutilizada. Cerca de 90% do material demolido foi triturado, britado e reutilizado no novo concreto. Cadeiras e gramado antigos foram doados para outros estádios.

O Estádio do Mineirão aponta caminhos sobre como megaeventos podem deixar um legado para as cidades. Nesse caso, ainda que as intervenções tenham sido feitas na escala do edifício, vêm em resposta às demandas de escalas maiores, do bairro e da cidade - um novo programa incorporado com a criação de praças e espaços semipúblicos. Assim, o solo da cidade se expande pela arquitetura.

Planta - Nível 01

Texto por: Mariana Siqueira, originalmente publicado na revista AU – Arquitetura e Urbanismo (Editora PINI), edição 229, abril de 2013

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Localização do Projeto

Endereço:Pampulha, Belo Horizonte - Minas Gerais, Brasil

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Sobre este escritório
Cita: "Mineirão / BCMF Arquitetos" 03 Jun 2013. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-117752/mineirao-slash-bcmf-arquitetos> ISSN 0719-8906

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