O Conjunto Governador Juscelino Kubitschek, projetado por Oscar Niemeyer e inaugurado em 1951, representa uma idealização de habitação coletiva, social. Integra originalmente múltiplas funções que refletem a intenção de introduzir uma “cidade dentro da cidade”. Aqui encontram-se expressões simbólicas e estímulos à percepção e ao imaginário.
Niemeyer trabalhou o Conjunto em duas escalas distintas e de forma precisa: uma monumental (acima da plataforma que cobre o nível térreo apoiada em pilotis) e uma escala humana no nível das ruas que se integram no complexo habitacional. A primeira escala faz referência à paisagem natural da cidade – a Serra do Curral, forte referência territorial de Belo Horizonte que abraça toda a cidade. A escala humana é cuidadosamente desenvolvida ao nível do sujeito, observador, que passa pelas calçadas que se infiltram no conjunto. A elegância dos pilares que se apresentam no momento de confronto do Conjunto com a estrutura viária urbana escondem a elaborada estrutura que se desenvolve por cima da plataforma.
Niemeyer demonstra uma forte preocupação pela valorização das áreas livres e públicas. Ao propor torres que não ocupam mais de 15% da área total de implantação, numa época em que os edifícios em Belo Horizonte ocupavam entre 50% e 80% das suas parcelas de implantação, reflete a tentativa de construir um vazio urbano harmonioso – em equilíbrio com o peso dessas torres destacadas na paisagem urbana. A praça Raúl Soares é extremamente importante nesta equação de equilíbrio pois representa um alívio da densidade do edificado, no centro da cidade, que suporta a construção do Conjunto e o aumento da sua escala face à média envolvente.
O projeto original sofreu várias alterações até a altura da construção e até os dias de hoje. Do programa inicial muito pouco foi implantado. O moderno hotel, o museu de arte contemporânea, o espaço dedicado ao governo são propostas que não se chegaram a concretizar no Conjunto. Também as unidades habitacionais foram disponibilizadas de forma gradual e nunca foram foco do mercado imobiliário. Ao contrário do que era esperado, o empreendimento não teve o impacto nacional desejado na época. Foi a exatidão da implantação do projeto que determinou a sobrevivência do Conjunto apesar de todas as mudanças urbanas e sociais que ocorreram à sua volta.
O Conjunto Governador Juscelino Kubitschek integra-se no tempo da descontinuidade, da não linearidade, da diferença, da necessidade do diálogo, da diversidade, do acaso. Deve ser abordado e interpretado através da compreensão do lugar como rede, sistema de troca, ponto de encontro, instituição, trajeto e muitas outras mediações que tornam a entidade abstrata do indivíduo participante efetivo da cidade.
- A cidade não é mais que uma casa grande e, por seu lado, a casa não é mais que uma cidade pequena.
- A. Palladio, Livro II, capítulo 12, Veneza 1570
Pesquisa desenvolvida por Bernardo Estevão, José Maria Gonçalves Vieira e Vasco de Lima Mayer, do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa.