- Área: 1780 m²
- Ano: 2006
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Fotografias:Ros Kavanagh
Descrição enviada pela equipe de projeto. Conceito:
Nas cidades irlandesas é comum que um mercado, uma igreja ou, em muitos casos, uma ruína seja o elemento central em torno do qual a cidade tenha crescido. Na cidade histórica de Trim, um volume monumental, que é o Castelo de Trim, age como este elemento central. Navan tem muitas semelhanças com Trim, como por exemplo o gabarito de suas edificações, sua densidade e sua proximidade com o rio Boyne, porém, em Navan este elemento central é ausente.
O terreno para este projeto ocupa o lugar onde fora o histórico mercado central de Navan, mas que agora não passa de um vazio usado apenas como estacionamento, exceto nas sextas-feitas, quando uma feira ainda acontece no local. No perímetro do vazio há duas igrejas de pedra com suas torres e seus telhados de ardósia roxa escura. Este é um dos pontos mais complexos da cidade, onde a infraestrutura viária se impõe sobre o denso tecido urbano. O terreno inclinado nos levou a pensar no projeto como uma formação rochosa que aflora na superfície. Trabalhamos com a terra para criar um espaço "lento" em torno do qual o espaço "rápido" de tráfego se desenvolve. Criamos um novo terreno, um novo território, um jardim murado elevado. O teatro ocupa a região entre estes espaços, mas se relaciona com ambos.
Os camarins e o palco se localizam no embasamento enquanto que a torre se projeta para dentro do jardim murado. O piso do teatro segue o contorno do terreno conformando aquilo que chamamos de "uma paisagem interior".
Nós concebemos o projeto deste modo pois sentíamos que, assim como na cidade de Trim, aqui também era necessário uma presença "maciça" para definir e reinventar este lugar, e o centro de artes representaria muito bem este papel. Nós nunca havíamos criado uma intervenção tão forte em uma cidade irlandesa. Mas aqui, onde parece que muita coisa havia se perdido, sentimos uma forte necessidade de gerar um novo ponto de energia para a cidade. Este novo edifício estabelece uma coreografia dinâmica com os edifício públicos vizinhos e configura o local para a reinstauração do histórico mercado central.
Nascido como um Teatro e Tribunal.....re-nascido como um Teatro e Galeria
Concebido como um tribunal na cobertura do teatro, o programa mudou durante a construção.
Vimos o potencial simbólico e social desta mistura.. Um tribunal privado e introspectivo sobre o teatro e os ambientes abertos e públicos para a comunidade. O tribunal no nível da cobertura deveria ser apropriado pelo teatro quando não estivesse em uso. A presença do centro de artes humanizaria, de certa forma, as atividades da corte. Os ambientes do tribunal seriam utilizados pelos atores.
Três entradas independentes para a corte seriam compartilhadas com o teatro.
Réus e atores. Juiz e diretor. Audiência da corte e audiência do teatro. Quando a corte não estivesse funcionando, a cobertura se "converteria" em um espaço de exibição.
Mas o programa original deu ao edifício um potencial que não poderíamos ter inventado.
O programa também apresentou certos dilemas. Aquilo que deveria ter um uso híbrido agora teria um único uso. O resultado é um espaço de arte muito contemplativo, distante embora conectado com as atividades dos pavimentos abaixo. O vazio externo das coberturas em balanço se tornou mais expressivo...passou a ser os "olhos" para o espaço público abaixo.
Teatro para 320 espectadores.
Criamos um sentimento de intimidade quando propusemos um piso com contornos orgânicos. Isto estabelece uma relação dinâmica entre a audiência e o palco e dá a impressão de encurtar o espaço. Uma referência era o projeto do teatro Hans Sharoun em que a audiência é dividida em grupos, gerando uma dinâmica entre o público e o palco. Uma janela para o céu e uma janela no foyer de entrada permitem a entrada de luz natural e proporcionam uma conexão com o mundo exterior, permitindo ao visitante uma vista para o teatro a partir da entrada do edifício. Estas aberturas podem ser fechadas durante das performances.
Componentes;
O embasamento de pedra calcária conforma o piso de um novo espaço cívico voltado para sul que se localiza no ponto mais alto do terreno, elevado acima dos pavimentos inclinados das vias do entorno. O sinuoso foyer que se dobra em torno do teatro é projetado como uma 'cortina' com diferentes níveis de opacidade e transparência, revelando as atividades por detrás de suas paredes, porém não completamente. Ele atrai a atenção durante o dia e especialmente à noite, quando é visto como uma fita de luz suspensa sobre o pavimento que cria um jogo de sombras com o movimento da platéia.
A laje de mosaico de mármore escuro que paira sobre o espaço cívico convida o público a entrar no domínio do teatro sem passar por nenhuma porta. Este material perderá seu brilho com o tempo e foi escolhido pois combina com a coloração das coberturas das igrejas próximas.
O 'corte' na cobertura oferece uma visão da galeria acima e permite que a entrada de luz demarque o caminho de entrada.
Estrutura;
A envolvente parede do jardim murado é, na realidade, uma viga aparente com um enorme vão. Esta viga minimiza a necessidade de colunas e apoios, liberando o espaço abaixo. As três escadas independentes necessárias para as funções do tribunal - uma para o juri, outra para o público e a terceira para os acusados - formam os três apoios principais da cobertura. A escada dos 'acusados' é agora utilizada como acesso aos bastidores da torre e como entrada das obras de arte para a galeria na cobertura. A escada do 'juri' foi apropriada como depósito da galeria.