O acesso ao edifício é delimitado pelos muros da garagem a quarenta e cinco graus em relação à fachada principal. Sobre eles uma abóboda rebaixada, aberta em ambas as frentes. Esta é a entrada da casa: o retângulo do portão da garagem e sobre ele o arco da abóbada. Entra-se por um portãozinho de ferro entre muretas de alvenaria pintadas de branco que leva a um caminho descoberto rente à garagem. Logo chega-se a um átrio coberto por uma laje plana.
A porta social está levemente à esquerda do centro da fachada. Todo o lado esquerdo do edifício fica escondido pelos muros diagonais da entrada, que formam o ângulo agudo com esse lado: aí está a área de serviço, aberta. E assim, só se vê o que interessa: a espessura branca da laje de cobertura inclinada subindo e logo descendo verticalmente pela espessura branca da parede lateral que continua pela espessura branca da laje do escritório elevado que logo vira a espessura branca dos dois lances retilíneos separados por um patamar de descanso da escada que leva a ele, a transparência do vidro, e as divisões e sub-divisões dos caixilhos de ferro.
O edifício torna-se apenas uma escada de dois lances e uma coberta inclinada: uma escada que leva da sala de estar ao escritório elevado e uma coberta inclinada que protege ambos e dá a altura suficiente para o segundo. Entre a sala, o escritório, a coberta e a escada forma-se o espaço da varanda. Mas isso não é senão a metade da superfície retangular de vinte e sete metros de extensão e seis metros de largura.
A metade esquerda do edifício abriga os três dormitórios, a cozinha, a despensa, e o banheiro comum. Ao contrário da disposição simétrica entre áreas sociais e áreas íntimas, a coberta é assimétrica: o lado maior, que avança sobre o escritório, parte da parede que separa a cozinha do banheiro, onde se cria a calha transversal. Possui sete metros e meio a mais em planta que a segunda laje inclinada, medida que representa a extensão da escada ao escritório. Porém, ainda que assimétrica em extensão, os dois lados da coberta não são de todo assimétricos: a parede que separa a cozinha do banheiro marca a metade da área interna do edifício, a partir do limite da sala de estar.
Isso quer dizer que: a escada de dois lances e um patamar de descanso entre eles, e o escritório elevado, e toda a espessura branca que define a forma do edifício não são senão a ampliação linear de um edifício simétrico.
Todas as paredes do edifício são de tijolo maciço, nunca deixados na cor natural, em geral pintados sem reboco interna e externamente, com apenas uma exceção: a extremidade do lado esquerdo, onde está o dormitório maior, rebocado externamente e pintado de branco, um volume maciço e cego, a contraposição simétrica ao escritório elevado. As paredes utilizam três cores: branco, vermelho e azul, de tons fechados. Branco, nos muros da garagem, muretas da entrada, lareira, e paredes dos dormitórios; vermelho, nas paredes dos lados maiores do edifício, na base da escada, além de aparecer no piso; e azul, nos seis pilares da varanda, nas faces que dividem a área social da área íntima, e na face externa de fundos dos quartos, onde estão as três janelas.
- Ano: 1949
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Fotografias:Nelson Kon, Pedro Kok