O Guggenheim está planejando um novo museu em Helsinki. O terreno está no coração da cidade, ao lado do mercado municipal do século XIX e do mercado ao ar livre, à dois minutos da Catedral de Helsinki. O projeto, portanto, tem grande potencial para se tornar um marco para a cidade. E muitos finlandeses são atraídos por esse mesmo potencial, querendo aumentar o turismo e evidenciar sua capital no mapa mundial. Houve também uma discussão no principal jornal do país, o Helsingin Sanomat sobre como os finlandeses devem acolher uma arquitetura mais alegre e divertida.
Destino-criação e arquitetura como entretenimento são, certamente, temas recorrentes do nosso tempo. Eles foram tratados com grande maestria por Frank Gehry no Guggenheim de Bilbao, inaugurado em 1997. No entanto, é importante lembrar que o Guggenheim de Bilbao pode ser considerada uma espetacular peça única. Prefeitos, políticos e líderes mundiais, desde então, procuraram, talvez de uma maneira muito fácil, transformar suas cidades através de marcos emblemáticos. Têm ocorrido muitas discussões sobre elevar as cidades a "nível mundial" através de gestos arquitetônicos, e muito desse marketing é totalmente alheio a ideia do que realmente faz boa uma arquitetura boa.
A reação contra o tal "fator uau!" sucedeu-se desde Bilbao, com os arquitetos para tais projetos tendendo a cair em dois campos muito simplistas: os projetistas de caixas neutras contra os de formas gratuitas. No entanto, todas as boas arquiteturas tem algo do "fator uau!" - se usarmos isso para classificar os efeitos inspiradores e imponentes. Uma arquitetura que é forte, mesmo intencionalmente, não é o problema. Uma arquitetura que procura impactar através de sensacionalismo ou simplesmente servir como propaganda para uma cidade ou instituição cultural, é. Uma grande arquitetura sempre é mais do que imagens sensacionalistas, e certamente muito mais do que uma ferramenta de marketing.
Pode-se, claro, argumentar que, através dos séculos, as religiões, reinos e estados, todos procuraram esculpir seu desenvolvimento através de monumentos e obras de arte. Mas será que tudo isso não tem ido longe demais nos dias de hoje? Na tentativa de ganhar comissões, os arquitetos agora vendem seus produtos como uma extensão da identidade corporativa e institucional - embora a maioria concorde que os melhores edifícios contemporâneos ou históricos, superam qualquer tipo de artifício. A melhor arquitetura está baseada em ideias que são sobre a tipologia de um edifício em particular, sobre o contexto físico de um projeto e sua relevância para o resto do mundo, e em mover essas considerações para frente.
Então, como é que nós vamos dos mantras de publicidade sem sentido para as formas criativas que realmente oferecem algo de valor para a cidade?
Na Finlândia, por exemplo, o Guggenheim faria bem se explorasse a ideia do que significa um museu hoje em dia. Museólogos sabem por experiência própria que as pessoas passam mais tempo na loja de presentes do que nas autênticas obras de arte em exposição, enquanto o enorme impulso dos visitante aos materiais didáticos e áudio-guais sugere que, para desfrutar uma coleção, você precisa saber o que um educador ou um curador especial escolhe lhe dizer. Esses são todos os fenômenos que precisam ser repensados. Poderíamos, como alternativa, criar galerias e curadorias que re-conectem os visitantes às obras de arte originais?
O Guggenheim também deve se questionar que tipo de arquitetura de museus funcionaria bem na cultura finlandesa: uma cultura que é modesta, pragmática e que valoriza talento e mão-de-obra qualificada acima da sensação. Aqui está uma população que cresceu com o design moderno e os ideais modernistas e possui grandes expectativas para estes.
Às vezes, parece que estamos agarrados com unhas e dentes a ideais de projeto, justificando suas necessidades pelas mais prosaicas razões: bom para os negócios e assim por diante. Grande parte disso caminha lado-a-lado com um medo obsessivo do tédio e um desejo de fazer com que tudo se torne uma experiência de compra, algo mais divertido, acessível, interativo - sem pensar muito sobre o que essas palavras significam. Projetos como o Guggenheim de Helsinki devem muito mais sérios. Eles tratar das posturas artísticas, espirituais e intelectuais das cidades - qualquer cidade - tanto em nível local como mundial.
Museus e arquiteturas precisam pensar bravamente além das manobras de marketing automáticas para atrair visitantes, ou perderão o próprio sentido que uma vez os tornou especiais: a crença no valor de suas coleções. É uma grande oportunidade para Guggenheim de Helsinki repensar as coisas, mas esse projeto exigirá um cliente de espírito, recursos e cultura independente. Um cliente menos confiante estará inclinado a correr atrás de tendências e se concentrar basicamente em um edifício para o seu dia de imprensa. Um cliente confiante saberá que os motivos mais elevados e a originalidade não irão comprometer o sucesso de um projeto em atrair atenção positiva e popularidade. Muito pelo contrário. Os finlandeses devem lembrar-se disso do mesmo modo como pensam em sair de sua atual crise econômica: popularidade e verdadeira qualidade não precisam ser mutualmente exclusivos.
Laura Iloniemi vem trabalhando no PR arquitetura há mais de quinze anos. Ela escreveu um livro sobre o assunto - Is It All About Image - publicado pela Academy & Wiley. Iloniemi estudou filosofia arquitetônica para a na Universidade de Cambridge e desenvolvimento artístico na École du Louvre. Siga-a em @BiennaleBooks