INTERIORS: Her

Interiors é uma revista de arquitetura e cinema publicada por Mehruss Jon Ahi e Armen Karaoghlanian. Interiors realiza uma coluna exclusiva para ArchDaily que analisa e esquematiza filmes em termos de espaço. Sua Official Store apresenta imagens exclusivas desses textos.

O quarto filme de Spike Jonze, e sua quarta colaboração com o designer de produção K. K. Barrett, cria um mundo futurístico que é ao mesmo tempo intimista e envolvente.

Her (2013), filmado em Los Angeles e Shanghai, usa a arquitetura das duas cidades para construir seu próprio mundo. Jonze e Barrett, entretanto, escolhem não abordar o filme de uma perspectiva arquitetônica; ao invés disso, estavam interessados em refletir as qualidades emocionais de seu protagonista Theodore Twombly (Joaquin Phoenix) através do design de produção. Barrett observa que apesar do futuro parecer distante e estranho para nós, "O futuro é também o presente de alguém, o presente do nosso personagem". Assim, os elementos de ficção científica se baseiam na realidade, e o futuro de Her foi projetado com estas ideias em mente.

Em uma entrevista exclusiva para Interiors, K.K. Barrett discute sua abordagem como artista em relação ao cinema em geral e Her em particular. Saiba mais a seguir.

“Também penso em filmes, estruturalmente, como músicas...introduz ideias, complica-as, deixa-as fermentar e construir, joga-as de um penhasco e as recompõe dramaticamente em seu ponto mais alto. Se você tocar mal a última nota, acaba com tudo que veio antes, não importa o quão maravilhoso." - K.K. Barrett

Barrett, que transitou da música para o cinema e participou da banda de punk rock The Screamers nos anos 1970, encontra uma correlação direta entre os dois meios. "Acho que avalio todas as decisões criativas pela dinâmica - silêncio e barulho, espaço aberto e espaço pequeno, e sempre sou um pouco minimalista, retirando até que o essencial tenha impacto", ele observa. Esta abordagem se aplica também a Her, um filme que se livra de qualquer excesso e foca no fundamental.

A localização do apartamento de Theodore é o último pavimento de WaterMarke Tower, um arranha-céu de luxo de 35 andares localizado no coração de Los Angeles, na Rua West 9th, 705. 

As locações no filme foram escolhidas por suas vistas ao invés de seus interiores ou arquitetura. Na verdade, antes de encontrar o apartamento de Theodore, Barrett considerou até filmá-lo em um terraço para que tivessem as vistas desejadas da cidade.

Como Barrett observa, "Os espaços dos apartamentos de Amy e Theodore eram folhas em branco. O espaço era originalmente frio, sem inspiração arquitetônica, morto [...] Foram escolhidos por suas vistas para o centro da cidade que sugeria densidade ao norte, e a oeste adicionamos posteriormente alguns edifícios para tornar coerente em relação aos espaços externos de Shanghai, que quando finalizado completou a sensação de densidade do novo crescimento vertical." A janela de vidro do espaço original também foi modificada para conseguir este efeito: "Transformamos o vido colorido em transparente para deixar a noite da cidade entrar."

De forma similar, para o desig do interior do apartamento, "o foco foi trazer a cidade para dentro, e a luz em direção a ele [Theodore]". A produção até cobriu os painéis de luz natural superiores existentes para concentrar a vista em uma faixa ao redor de Theodore, que então se tornaria envolvido neste espaço e "coberto pela luz".

Embora o apartamento tenha um segundo dormitório em um piso superior, este não aparece no filme; o apartamento aparece como um espaço contínuo e acolhedor: "Adicionamos piso de madeira brilhante e divisórias em tons suaves de madeira através das quais é possível ver alternadamente luz ou espaço. As paredes de vidro eram passivas à luz e profundidade e as paredes internas eram muitas vezes uma luz suave criando uma profundidade indefinida." Além disso, "os painéis iluminados mudam de cor ao longo do filme mas sempre permanecem próximos do vermelho" para criar uma sensação acolhedora nestes espaços privados. Barrett afirma que "Estava procurando espaços que fossem desfrutáveis e confortáveis para o clima de cada cena".

Cortesia de INTERIORS Journal

Ao pensar na paleta de cores deste filme, Barrett cita Red Desert de Michelangelo Antonioni como inspiração. "Não conseguia pensar em um filme vermelho. Gostei muito do uso da cor em Red Desert, um dos meus filmes favoritos." Em seu filme anterior, Extremely Loud and Incredibly Close (2011), utilizou uma grande parede vermelha em uma cena decisiva. Em Her, entretanto, observa que o vermelho é bastante passivo, ainda que insistente em sua presença; é a cor que "unificou o nosso mundo".

Em sua comparação entre o escritório e a casa de Theodore, Barrett observa que "O escritório era [inicialmente] totalmente branco, assim como o apartamento, então ao adicionar cores vibrantes adquiriu imediatamente caráter mais definitivo. Testei o arranjo de cores no escritório com modelos por cerca de duas semanas até decidir a aparência final". O escritório revela um dos poucos usos intencionais do azul no filme - um azul muito claro e transparente em painéis de acrílico; o restante do filme (do cenário ao figurino) é composto na maior parte por vermelhos, criando um ambiente confortável para o personagem. Como Barrett explica: "vermelho parecia lúdico e o oposto de frio".

Além do esquema de luz e cores do apartamento de Theodore, os objetos internos também são utilizados de forma significativa ao longo do filme, como uma maneira de explorar o estado emocional do personagem. Spike Jonze efetivamente vai e volta no tempo ao longo do filme, mostrando fragmentos do passado de Theodore com sua antiga esposa (Rooney Mara); em contrapartida, "Os detalhes em seu apartamento de solteiro são pedaços de sua vida que ainda não encontraram um lugar para descansar". Theodore não desempacotou todos os objetos - ainda não se acomodou totalmente neste espaço.

Cortesia de INTERIORS Journal

Barrett nota que "Ele ainda não esperava receber pessoas [...] Nós retiramos sua mesa de jantar mas deixamos as cadeiras". É interessante observar que ao longo do filme, vemos apenas três cadeiras em seu apartamento, e é só no final que avistamos a quarta, do lado de fora de sua sacada, sugerindo seu isolamento: "Ele está perturbado, paralisado pela dor. Os objetos foram opções de coisas que poderiam chamar sua atenção enquanto refletia sobre o dilema de seu coração partido e da vida que tinha quando era feliz."

Entretanto, Barrett aponta que no apartamento de Theodore "nada pretendia individualmente atrair nossa atenção ou ser questionado. É possível decorar com uma história de fundo ou gestos intuitivos."

Em nossa planta, apresentamos o espaço do apartamento de Theodore. É claro que, como Barrett observa, uma planta fornece um entendimento técnico do espaço, mas "paredes de cenário não são a definição real de espaço psicologicamente dramático." O filme se baseia em emoção e estado de espírito - elementos que não podem ser intelectualizados e apenas experimentados ao assistir o filme.

Cortesia de INTERIORS Journal

O diagrama da planta do apartamento de Theodore mostra seus pertences, o que sugere sua inquietude em relação a este espaço e seu lugar no tempo. Entretanto, o diagrama, como o filme, não atrai atenção para itens específicos em seu apartamento.

Em Her, Spike Jonze e K.K. Barrett estavam mais interessados nos aspectos emocionais de seus personagens e não nas "regras" tão proeminentes em filmes localizados no futuro. Do diálogo à integração de mídias na vida cotidiana do personagem, ao design da cidade e da casa de Theodore, o filme efetivamente transcende estereótipos de ficção científica conforme o espectador é absorvido pelo mundo de Theodore. Nas palavras de Barrett: "Acho que as pessoas frequentemente pensam no futuro como se ninguém vivesse lá, como se estivéssemos menos vivos. Pensam em objetos e design. Nós pensamos nos personagens vivendo e nos espaços seguindo duas histórias...e nos divertimos muito com isso."

Estes diagramas, além de outros, estão disponíveis para compra na loja oficial da Interiors

Cortesia de INTERIORS Journal

Interiors é uma revista online, publicada no 15° dia de cada mês, onde filmes são analisados e esquematizados em termos de espaço. É dirigida por Mehruss Jon Ahi e Armen Karaoghlanian. Veja seu Website, Issuu Site e Official Store e siga-os no Facebook e Twitter.

Sobre este autor
Cita: INTERIORS Journal. "INTERIORS: Her" [INTERIORS: Her] 10 Mar 2014. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-181968/interiors-her> ISSN 0719-8906

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