A Casa de Chá Boa Nova foi projetada em decorrência de um concurso organizado pela câmara municipal e vencido pelo arquiteto Fernando Távora. Após a escolha do terreno nos penhascos da costa de Matosinhos, Távora entregou o projeto ao seu colaborador, Álvaro Siza.
Um dos primeiros projetos construídos de Siza, é significativo que o restaurante não está longe da cidade de Matosinhos onde o arquiteto cresceu, e está localizado numa paisagem com a qual ele era intimamente familiar. Ainda era possível em Portugal dos anos 1960 fazer arquitetura trabalhando em contato direto com o sítio, e essa obra, assim como as Piscinas de Leça de 1966, é sobre “construir a paisagem” dessa zona costeira do Atlântico -através de uma cuidadosa análise do clima e das marés, da vegetação existente e das formações rochosas, e da relação com a avenida e a cidade por detrás.
Afastado da avenida central em torno de 300 metros, o edifício é acessado a partir de um estacionamento através de um sistema de plataformas e escadas, eventualmente levando a uma entrada protegida por um telhado bastante baixo e massivas pedras características da área. Esse passeio arquitetural, um caminho sinuoso coberto de pedras brancas e alinhado por paredes de concreto pintado, apresenta um série de dramáticas perspectivas da paisagem à medida em que ele alternadamente esconde e revela o mar e a linha do horizonte.
O salão oeste do restaurante está situado logo acima das rochas, e conectado por um átrio e escada de pé-direito duplo, com a entrada estando no nível mais alto. A cozinha, depósito e áreas de funcionários está semi-enterradas nos fundos do edifício, marcadas somente por uma estreita janela e uma chaminé.
Formando um borboleta em planta, os dois espaços principais se abrem gentilmente à enseada, suas paredes externas seguem a topografia natural do sítio. O salão de chá tem amplas janelas sobre uma base concreto aparente, enquanto o salão de jantar é totalmente envidraçada, levando a um platô externo. Em ambos salões, as esquadrias são abertas deslizando-se para baixo do piso, deixando os generosos beirais em continuidade com o teto. Isso cria um incrível efeito no verão, quando é possível caminhar desde o salão de jantar diretamente ao mar, fazendo com que o edifício pareça desaparecer.
Como em outros trabalhos anteriores do arquiteto, a diversidade de materiais é posta em jogo: paredes de alvenaria pintadas de branco, pilares de concreto aparente na fachada oeste, e um abundante uso da madeira “Afizelia” Africana vermelha como revestimento das paredes, tetos, molduras e mobiliário. Externamente, o revestimento dos beirais é feito de longas pranchas de madeira rematadas com lâminas de cobre. O telhado é uma laje de concreto coberto com telhas romanas vermelhas e internamente por um forro suspenso de madeira.
Alguns anos atrás, durante uma forte tormenta, o mar chegou a destruir ambos salões da Casa de Chá, levando o mobiliário e acabando com boa parte do interior. O Boa Nova foi totalmente restaurado em 1991, com todas suas características originais sendo preservadas.
Texto original em inglês: Álvaro Siza Vieira website / Tradução: Igor Fracalossi