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Arquitetos: Estudio Arquitetura, TETRO Arquitetura
- Área: 4200 m²
- Ano: 2010
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Fotografias:Jomar Bragança
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Fabricantes: Avec Design, CAD Tecnologia, Canadá Pedras, GML, Indústrias Gatti, JAM, Mundo da Ardósia, Resicon, Supermix, Tensoflex, Vidro Paiva, Vidro Valle, thyssenkrupp
Descrição enviada pela equipe de projeto. A premissa inicial do presente projeto de arquitetura parte da adequação do edifício-sede da antiga Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais, localizado à Praça da Liberdade, ao uso de Memorial Minas Gerais. Se a praça é a representação simbólica da produção cultural coletiva, o Memorial Minas Gerais comparece como entidade criada para reunir e difundir os mais importantes aspectos da cultura das Minas Gerais. Logo, este projeto tem como principal função adaptar a construção existente para receber as exposições concebidas pela museografia. A identificação das modificações sofridas pela edificação ao longo dos anos em função da necessidade de atendimento às distintas demandas da época norteou o projeto, e permitiu evidenciar a frutífera relação entre o antigo e o contemporâneo.
As etapas de construção da edificação – ocorridas em épocas diferentes, entre fins do século XIX e início do século XX – foram balizadoras da proposta. A recuperação da luminosidade que ambientava a escadaria monumental (presente no projeto original) constituiu-se em condicionante fundamental para este projeto. Para garantir a iluminação da escadaria, que no projeto do final do século XIX localizava-se contígua à fachada posterior da edificação, optou-se pela retirada do telhado existente sobre o espaço onde foi locado o pátio, e pela locação de uma cobertura em vidro. E é este pátio o elemento que vem recuperar o vazio existente na edificação à época dos acréscimos ocorridos ao longo do tempo.
Como o elemento que mais claramente representa a intervenção arquitetônica contemporânea no edifício, o pátio interno recebeu tratamento no sentido de fazê-lo – além de funcionar como um captador de luz natural para grande parte do edifício – funcionar como espaço de articulação entre as salas expositivas, permitindo uma fruição da edificação a partir de diversos pontos de vista, acentuando a relação entre o antigo e o contemporâneo.
Na medida em que o vazio gerado propicia a conexão entre os espaços expositivos, a intenção de transformar a luz em protagonista da proposta permite a conformação espacial de uma articulação entre circulações horizontais (passarelas) e verticais (elevador e escada), conectando os diferentes aspectos da cultura de Minas abordados nas exposições.
Usos do Memorial
No nível de chegada do prédio, pela Praça da Liberdade, o hall da escadaria monumental articula diversos usos de apoio à chegada e distribuição de público para as salas de exposição, como café e espaços para leitura. No pátio interno, foi criado um jardim de bromélias, exatamente na projeção do vazio. Estes espaços possuem conexão com pontos de circulação vertical que viabilizam a conexão direta com os outros pontos da edificação. Neste caso, foi fundamental que se concebesse a arquitetura mediada pela desejável relação entre os espaços antigos, considerando inclusive a estrutura existente, e a intervenção proposta.
No subsolo foram locados, principalmente, espaços de apoio ao funcionamento do memorial. Um acesso pela Rua Gonçalves Dias, perpendicular à alameda central da praça, garante a acessibilidade ao edifício.
A partir do hall coberto pela laje curva que abriga o jardim (no nível superior), visitantes podem acessar os espaços expositivos, no nível superior, e funcionários podem acessar as áreas técnicas, neste mesmo pavimento. De um lado estão as salas de controle e de painéis, além de copa e vestiário para funcionários. Do outro lado, estão espaços administrativos e instalações sanitárias de público.
No segundo pavimento as salas abrigam, em sua maioria, salas expositivas. Em uma das salas, como no primeiro pavimento, foram projetados núcleos de instalações sanitárias de uso público, com acessibilidade universal. Revestidos em laminado melamínico na cor preta, a aparência destes núcleos contrasta com a dos interiores das salas em que foram locados.
O terceiro pavimento abriga, além das salas expositivas, um auditório para pequenas apresentações, com apoio de camarim.
Fluxos do Memorial
Considerando que os novos usos seriam acompanhados de um fluxo maior de visitantes internamente ao prédio, criou-se a necessidade de uma nova bateria de circulações, verticais e horizontais. A partir da contraposição à escada monumental em estilo Joly, existente junto ao hall de entrada, a nova bateria foi locada no vazio interno, junto à fachada posterior.
O novo conjunto, em estrutura metálica, compreende a escada que conecta o subsolo ao primeiro pavimento, as passarelas e a caixa do elevador panorâmico, além da cobertura em vidro. Dessa maneira, cria-se um contraponto visual ao vazio existente, protagonista da proposta.
O contemporâneo e o antigo
O encontro entre o antigo e o contemporâneo em locais com alto valor de patrimônio histórico é inevitável, pela demanda de atendimento a novos usos e, consequentemente, renovação dos espaços propostos. No caso desta intervenção, há dois aspectos de patrimônio a serem agenciados: o Patrimônio Material, edifício-sede do memorial, com todos os valores de sua arquitetura, e o Patrimônio Imaterial, agregado pela carga simbólica da cultura mineira, cuja história é contada pela museografia. Assim, considerar passado e presente permite um levantamento dos critérios mais importantes acerca das possibilidades de intervenção no edifício.
Não obstante as intervenções realizadas nos espaços internos às salas existentes, notadamente as dos espaços de apoio, o espaço com maior dignidade deste novo memorial materializa-se neste novo vazio, que abriga o jardim de bromélias, a nova fachada interna – revestida de aço corten – e o núcleo de circulações. Elemento de resgate da luminosidade para os espaços internos ao edifício, o vazio configura-se, desta maneira, num espaço em que se apropria do natural – o jardim – para valorizar o cultural: a arquitetura e a cultura de Minas Gerais, expostas ao público na Praça da Liberdade, um dos principais centros cívicos do Estado.