Quando iniciei o projeto visitei por coincidência a Escola de Música de Eero Saarinen em Ann Harbor. Apesar de ser um edifício interessante, estranhei o facto de não se ouvir música nos corredores, nem nos espaços mais comuns da escola. Nessa mesma altura vi um documentário sobre o Conservatório de Música de Santiago em Cuba, era uma antiga casa colonial, inundada de gente alegria e musica.
Queria que esta Escola de Música de Lisboa tentasse levar aos limites a possibilidade da excelência acústica – e também o isolamento conventual e sonoro de cada espaço – e a convivialidade e extroversão que também são características de algumas práticas musicais.
Também na relação interior/exterior e no condicionamento climático queria procurar o equilíbrio ou o melhor dos dois mundos: abertura para o exterior e em alternativa cada espaço mecânica e sofisticadamente climatizado.
A disputa urbana por sítios centrais e acessíveis faz com que muitas escolas, mesmo de musica e até clínicas ou hospitais se localizem em áreas muito ruidosas, como é o caso desta. É uma área com uma vida intensa e uma certa “centralidade” suburbana.
A afirmação mais clara do projecto consiste na criação de um espaço exterior – um grande pátio com relva – construído por um volume com uma altura progressivamente maior que o protege do ruído exterior. Pela progressividade da sua altura alberga salas sucessivamente maiores. Desde as salas para o ensino de instrumentos com sons fracos, a flauta por exemplo, até ás maiores destinadas à percursão.
Exteriormente este volume é quase cego, excepto nos ângulos, em que grandes envidraçados fazem explodir no retirado interior as vistas do exterior suburbano. E não o som.
Nos pisos inferiores construíram-se todos os espaços mais públicos ou as salas de maior dimensão.
O espaço principal é o Auditório com 448 lugares, trata-se de um espaço didático, que deve no entanto permitir as práticas musicais ao mais alto nível e que é portanto acusticamente muito exigente. Concha em madeira.
Salas de dimensões variadas e um outro Pequeno Auditório complementam os espaços de ensino. A grande “loggia” que os envolve é também um espaço de reserva para posterior ampliação da escola.
A biblioteca, cafetaria, administração e espaços para os docentes ocupam a parte sul deste piso.
O fato de o edifício ser maioritariamente construído em concreto permite de uma forma simples obter níveis elevados de estabilidade e isolamento acústico. Silêncio. A materialidade do pavimento das salas é madeira. Vibra.