Por Olafur Eliasson:
Estou muito contente em ver o projeto da Harpa tomando forma e verdadeiramente orgulhoso de estar profundamente envolvido com esta instituição islandesa. Ela ofereceu a oportunidade de uma colaboração única entre os campos da arte de da arquitetura que achei imensamente inspiradora.
Minha contribuição consiste nas fachadas do edifício, que desenvolvi com minha equipe de estudo e em estreito diálogo com Henning Larsen Archtects, que projetou o edifício, sua forma exterior e interior. As fachadas são, de maneira simples, um “spacefiller”, que chamamos quase de blocos empilháveis, módulos de doze lados feitos de aço e vidro. Baseado numa simetria que se repete cinco vezes, a geometria foi desenvolvida originalmente por Einar Thorsteinn, um colaborador bastante próximo de meu estúdio em Berlin.
Ao longo dos anos, tenho sido inspirado por formas e padrões feitos pela natureza. A Islândia é rica em fenômenos naturais únicos, como as colunas de basalto cristalizadas, das quais estes blocos são quase uma reminiscência. O tamanho uniforme dos blocos tridimensionais utilizados nas fachadas sul da Harpa, que se voltam para a cidade, também se refere ao corpo humano.
Enquanto tijolos comuns estabelecem os princípios padrões de construção de dimensões, este bloco, devido à sua forma, quase abre novas maneiras de conceber o espaço e a construção. Embora transparentes e aparentemente leves, os blocos são os únicos elementos que constituem a fachada. O bloco cumpre com os requisitos estruturais e funcionais, resultando em fachadas que, em contraste com o interior monolítico da Harpa, são leves e amplas. A fim de alcançar uma modulação dinâmica e sutil, os blocos das duas fachadas voltadas para sul se inclinam em direção à cidade de maneiras diferentes.
O princípio para as outras fachadas norte, leste e oeste e também para o teto foi desenvolvido com Henning Larsen Archtects. O conceito é derivado de cortes em duas dimensões diferentes do bloco.Ao se cortar a massa de blocos em diferentes ângulos, quatro padrões diferentes aparecem como possibilidade de blocos.
Penso nas fachadas como uma pele ou uma borda que é a mediadora entre o interior do edifício e a cidade, e que reflete as negociações entre o interior e o exterior. Ativa-se o olho de modo que as pessoas que entram e saem do edifício possam experimentar uma fachada que se altera visualmente. À distância, os blocos individuais desaparecem numa superfície mais homogênea, numa escala diluída. Aproximando-se, os blocos assumem contornos, tornando visível sua distância e a velocidade.
Ao longo de um dia, o movimento do sol de leste a oeste é refletido nas fachadas sul, próximo à vida da cidade. Dependendo do clima e do tempo, a refletividade e transparência das fachadas tornam explícita a influencia da luz natural em nossa percepção do edifício. Diferentes condições de luz acompanham também as atividades da casa: uma ópera pode ser realizada em plena luz do dia ou em uma noite de verão; um concerto para crianças pode acontecer na escuridão de uma tarde de inverno. Para responder a essa variação natural, alguns blocos estão equipados com um vidro especial dicromático que refletem tonalidades de verde ou mesmo amarelo e laranja e suas cores complementares. À noite, tiras de LEDs de coloração roxa, verde e azul se integram aos blocos e iluminam as fachadas. A coloração e a intensidade de cada bloco podem ser controladas individualmente, gerando um espectro de cores.
No hall de entrada, as sombras caleidoscópicas se projetam nas pareces e no chão, criando um espaço quase cristalino. Está noção do cristalino é uma metáfora sugestiva e precisa para a Harpa como uma casa de atividades culturais. É um espaço onde as idéias se cristalizam em formas, sons em sentimentos, sentimentos em ações e ações na vida.