Em termos de ativismo, a interrupção é um elemento necessário para um protesto eficaz. Quando atos de perturbação se espalham pelo domínio público, eles criam espaços por meio de bloqueios, defesas e reivindicações territoriais, dando origem à "arquitetura de protesto". Esse conceito é o foco da exposição organizada pelo DAM - Deutsches Architekturmuseum e pelo MAK - Museum für Angewandte Kunst, de Viena. Intitulada Protest/Architecture. Barricades, Camps, Superglue, o evento apresenta uma coleção de maquetes, fotografias e filmes sobre a arquitetura de protesto em todo o mundo. A exposição, com curadoria de Oliver Elser e assistência curatorial e pesquisa de Anna-Maria Mayerhofer, estará aberta até 14 de janeiro de 2024 no DAM OSTEND em Frankfurt.
A exposição explora o impacto de 13 protestos que ocorreram entre 1968 e 2023 na Áustria, Brasil, Egito, Alemanha, Hong Kong, Índia, Espanha, Ucrânia e Estados Unidos. Cada manifestação foi caracterizada por uma estrutura e duração únicas, desde a cobertura improvisada de Madri em 2011 até as tendas de Hong Kong e do Occupy New York, todas apresentando diversas expressões arquitetônicas. Protestos mais longos, como o bloqueio de rodovias em Delhi que durou 16 meses, transformaram veículos agrícolas em moradias improvisadas, ilustrando a persistência do protesto.
Vários desses movimentos atingiram seus objetivos, levando à queda do governo, como nos protestos da Praça Tahrir, no Cairo, ou da Revolta de Maidan, em Kiev, à proteção de uma floresta, no caso da ocupação da Floresta Hambach, ou à construção de moradias subsidiadas, promovida pelo movimento do MTST no Brasil. A arquitetura muitas vezes desempenhou um papel vital, com a Praça Maidan, em Kiev, transformando-se em uma fortaleza durante meses de conflito, enquanto os acampamentos do MTST no Brasil apresentavam estruturas facilmente desmontáveis, estrategicamente planejadas para rápida retirada. A transição de Hong Kong das tendas de bloqueio de estradas em 2014 para métodos mais sofisticados em 2019 é destacada como um exemplo de adaptação a contramedidas restritivas.
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Espaços públicos: lugares de protesto, manifestação e engajamento socialAo se aprofundar nas histórias locais, a exposição apresenta as diversas maneiras pelas quais as pessoas ocupam os espaços da cidade. Os locais são apropriados, bloqueados, marcados ou defendidos, instalados com acampamentos e reforçados por barricadas, dando uma dimensão espacial às demandas e aos objetivos. À medida que as estruturas são estabelecidas, elas permitem o desenvolvimento de novas formas de comunicação. O objetivo da exposição 'Protest/Architecture' não é comentar sobre a legitimidade das causas dos protestos, mas sim investigar as formas complexas pelas quais esses eventos temporários dependem de elementos espaciais para ganhar força e apoiar os manifestantes. Os 13 estudos de caso incluídos na exposição são apresentados com modelos em escala, fotos e uma instalação cinematográfica documental de 16 minutos do diretor de Frankfurt Oliver Hardt ("The Black Museum", 2018), produzida especificamente para a exposição.
Protestos públicos, manifestações e engajamento social podem ter muitas implicações para o ambiente construído, desde bairros que resistem à gentrificação por meio do uso de grafite até formas criativas de usar os espaços urbanos como telas de expressão cívica ou mudar o caráter das praças e ruas públicas para se tornam espaços de encontro para protestos numa expressão da liberdade de movimento. À medida que esta função dos espaços públicos se torna crucial em qualquer democracia, a gama de utilizações do espaço público precisa considerar estes tipos de eventos.