Sendo um dos primeiros métodos de construção desenvolvidos pelos seres humanos, a terra batida provou sua resistência e durabilidade ao longo do tempo. Embora as técnicas de construção tenham evoluído e se atualizado com o passar dos séculos, ainda há um longo caminho a ser explorado, onde a compreensão a respeito pelo clima, localização geográfica, sustentabilidade, requisitos estruturais e outros fatores determinam até que ponto elas podem ser aplicadas.
Com baixo impacto ambiental e passível de ser usado em uma ampla variedade de técnicas, como paredes de taipa, esse material oferece a possibilidade de proporcionar não apenas estética, mas também conforto térmico, isolamento e outros benefícios. Com a intenção de descobrir as diferentes formas de utilização, selecionamos cerca de 12 projetos distribuídos pela América Latina, incluindo Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, México, Paraguai, Peru e Equador.
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Argentina
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Artigo relacionadoPavilhão Multiuso SUM Pulmão de Iscot / Patio Estudio
"Sobre a bioconstrução. Foram utilizados materiais sustentáveis disponíveis dentro da empresa. A terra é extraída do estaleiro de construção. A estrutura das paredes é de madeira reciclada a partir de embalagens de autopeças recuperadas pela mesma empresa.
Ambos os materiais compõem as paredes com uma versão híbrida de estrutura de madeira e "quincha" (uma estrutura de madeira cheia de lama e palha que proporciona leveza e isolamento térmico) e são rebocadas em lama com aditivos naturais como água de penca, guano e óleo de linhaça.
A terra é o material de construção natural mais abundante na maioria das regiões do mundo. Nos países industrializados, a exploração excessiva dos recursos naturais juntamente com o fabrico intensivo de energia e produtos químicos, geram uma grande poluição ambiental, prejudicando não só o nosso planeta, mas também a saúde daqueles que o habitam.
Entre as qualidades que a lama tem, podemos encontrar o controlo da humidade e o armazenamento de calor que alcança o conforto térmico. É um material super-isolante que poupa energia no ar condicionado, não requer transporte, reduz a poluição ambiental e é reutilizável. Também poupa nos custos de construção (25% aproximadamente) e incentiva a auto-construção."
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Brasil
Casa Discreta / Jirau Arquitetura
"A figura da taipa é um detalhe curioso, um experimento com essa técnica construtiva tão tradicional e pouco usada. Nos quartos usamos a taipa de pilão como parede e principal peça da estrutura desse bloco da casa. Já na sala foi usada a taipa de mão, uma técnica muito mais comum e recorrente nas mais simples casas sertanejas. O barro é tema recorrente, seja nas duas técnicas de taipa utilizadas, nas telhas cerâmicas, nos tijolos industriais usados nas vedações, nas tijoleiras que revestem alguns pisos, nos cobogós dos banheiros ou no tijolo manual pintado de branco na parede sinuosa."
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Casa em Cunha / Arquipélago Arquitetos
"(...) O partido da casa provém de sua implantação no alto do morro da paisagem, buscando as melhores vistas de todo o oblíquo terreno e da Serra, ao fundo. Para proteger a casa dos ventos frios, foi feito um corte de 1 metro de terra, a fim de semienterrá-la, até a altura das bancadas das áreas de serviços. Desse corte surgiu todo recurso construtivo para a execução das paredes da casa: a terra.
As paredes principais da casa são feitas em taipa, tecnologia antiga revisitada de forma contemporânea: foi proposto um sistema de fôrmas autêntico que evitasse perfurações com cabodás e desenvolvesse um canteiro de obras mais eficiente, de maneira que seus componentes modulados pudessem ser desmontados e remontados com facilidade.
Essa técnica construtiva nos proporcionou encontros interdisciplinares: física, química, geologia e geografia ampliaram o entendimento sobre a paisagem onde propusemos a casa."
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Bolívia
Casa experimental de Taipa / Estudio de Arquitectura y Planificación Kaiser
"A estrutura habitacional coincide com a estrutura de apoio. As paredes de taipa de 36 cm de espessura em forma de U com seus dois cantos garantem uma estrutura forte e rígida. Cada esquina foi murada em uma única fase de trabalho, sem juntas. Para formar a planta, cinco desses Us foram erguidos, deixando espaços entre eles, o que permite a transição espacial, a ventilação cruzada e a iluminação natural. Quatro paredes de taipa livres articulam e estendem esse volume compacto, fixando-o no chão em seus pontos extremos e definindo as zonas intermediárias entre o interior e o lado de fora.
(...) A estrutura horizontal da parede resulta do processo muito particular de compactar a terra em camadas de 5 a 8 cm. A cor e a textura da superfície resultam diretamente da mistura específica de terra e areia grossa e/ou fina. Não importa o quanto tudo seja peneirado, sempre há surpresas a serem encontradas quando a fôrma é removida.
A tecnologia da taipa é trabalhosa. A preparação, a montagem da fôrma, o prumo e o alinhamento de toda a geometria levam mais tempo do que a própria compactação da terra preparada. Três trabalhadores podem construir 1 metro cúbico de taipa por dia. O baixo custo das matérias-primas compensa o alto custo da mão de obra e produz uma carga ecológica muito baixa. Muita disciplina e precisão no trabalho também são compensadas na execução de um serviço fino. Com exceção das condições nas áreas molhadas, não é necessário reboco ou pintura. As partes danificadas são reparadas com terra e a superfície é tratada com produtos naturais, como caseína e cera. Isso resulta em uma superfície resistente à abrasão."
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Chile
Panal, Condomínio regenerativo sustentável / AYMA Arquitectura y Medio Ambiente LTDA.
"Para garantir uma emissão mínima de carbono, a quincha foi usada como sistema construtivo em todo o conjunto, utilizando a terra das escavações para isolamento e revestimentos das unidades. Este sistema, juntamente com os tetos verdes e uma abordagem solar correta, garante uma maior eficiência térmica, conferindo às unidades uma oscilação interna de 15 a 20°, alcançando uma economia de 80% de energia na climatização."
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Equador
Casa Jardim / Al Borde
"(...) O espaço interno é para cozinhar, comer e dormir, fornecendo abrigo e mantendo uma temperatura estável, olhando para o terreno ao redor, o vale e a cordilheira. Usamos a mesma terra da escavação para construir uma parede de barro que, por sua vez, repousa sobre uma base de pedra que também atua como um embasamento.
A parede em forma de 'C' permite que a fachada principal seja composta a patir de uma sequência de janelas de carpintaria estrutural. O telhado distribui seu peso sobre uma soleira de madeira e captura a luz através de duas vigas de seção comum que, para desempenhar sua função, necessitam de um reforço, que é feito por outra peça similar simplesmente amarrada, colaborando na parte da viga que mais trabalha. Em cima: tábuas, um manto impermeável, terra e telhas, entre as quais esperamos para ver como as ervas daninhas crescem."
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Paraguai
Casa Luce e Pablo / Mínimo Común Arquitectura
"O projeto, com voltas e mais voltas desde a sua concepção, consistia em uma volumetria simples, sem muitos riscos estruturais: um "L" submerso entre a vegetação. O sol poente incide todas as tardes na parte mais fechada da casa, e de manhã a espaçosa sala de estar, cozinha e sala de jantar são iluminadas. Mas o mais importante é garantir o descanso com quartos confortáveis e, com a ideia futura de aumentar a família, o conforto tinha que ser garantido. As paredes de barro protegeriam os setores íntimos, uma horta seria cultivada pelos próprios proprietários e sustentada por finos pilares de metal que alimentariam o pequeno Agus.
Depois de muitos erros aprendemos a nova técnica: fizemos testes muito pequenos até conseguirmos estabilizar o terreno que usaríamos, testes com corpos de prova nos deram resistência semelhante a do tijolo, tempos de carregamento nos permitiram transportar manualmente 2 módulos por dia com uma pequena equipe e com dosagens semelhantes ao concreto usando 10% de cimento na mistura. Como estávamos inseguros, diminuímos gradativamente esse percentual, até que passamos a usar apenas 5% como estabilizador, havia opções de outros estabilizadores com menor impacto mas, no mercado local, não eram de fácil acesso e, por ser nossa primeira abordagem, decidimos não correr mais riscos também. Havia uma família esperando por sua casa.
(...) Nós, no mesmo ato, estávamos prontos para oferecer a casa nascida da tradicional terra vermelha Guarani, moldada por nossos artesãos a um custo razoável e com a técnica que chamamos de terra vazada. Encontramos muitos exemplos ao redor do mundo, mas no Paraguai isso nunca foi havia sido feito."
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Casa Mirikina / José Cubilla
"O sistema construtivo é em taipa de pilão, que se eleva sobre uma plataforma de pedra bruta. A casa é bastante austera, construída com materiais locais e mão de obra local. O objetivo era tentar alcançar um equilíbrio em um lugar bonito e tranquilo com muita conexão com a natureza.
(...) Paredes largas e perfurações justas para a entrada de luz e ventilação, onde mantemos a penumbra necessária em um clima subtropical úmido e muito quente. A taipa é ideal para melhorar a inércia térmica, além de seu baixo impacto construtivo."
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Casa em Terra Líquida / Oficina de arquitectura X
"A construção é materializada em piso de concreto vazado, com paredes de 18cm, 15cm e 10cm de espessura. A técnica de despejar a terra diretamente como peça de fundição supõe a desconstrução da técnica conhecida como taipa. Embora a taipa tenha propriedades térmicas interessantes, as grandes espessuras com que são construídas constituem obstáculos à sua utilização em áreas urbanas de dimensões limitadas, pois num lote estreito representaria uma perda fundamental de metros quadrados, além do consumo excessivo de estabilizantes como o cimento e seu alto peso, o que a torna uma técnica antieconômica em áreas urbanas em comparação com outras formas de construção. A terra despejada, podendo ser executada com espessuras reduzidas, consome menos material, é construída mais rapidamente, é mais leve e ocupa menos espaço, sendo totalmente adaptável às cidades como alternativa ecológica, econômica e com bom desempenho térmico.
(...) A casa materializa-se como um artesanato em grande escala, onde a terra orquestra o espaço, um líquido cuja morfologia adquire a do seu recipiente, forjando-se em paredes perfuradas, lisas, oblíquas ou dobras de 10 cm de espessura que extravasam para o céu. Como um cântaro construído com as mãos, com a beleza da terra e o aroma do barro."
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Peru
Cabana Feliciana / Taller MACAA
"O adobe traz todas as suas qualidades de termorregulação para a construção. Um material nobre, robusto e ultra-simples (uma mistura de terra, água e palha), revela neste projeto toda a sua riqueza. Descansando sobre fundações de pedra, estas paredes de 40cm de largura dão à cabana uma bela estatura. O telhado é composto de uma estrutura simples com uma cumeeira e vigas de eucalipto, cobertas com canas cuidadosamente assentadas que são, por sua vez, cobertas com terra sobre a qual as telhas repousam.
(...) O uso do adobe é totalmente experimentado, de modo que a cama, as mesas de cabeceira e os espaços de armazenamento no banheiro e na cozinha são feitos deste material, fazendo da Feliciana uma unidade compacta que fica entre um espaço de habitar e um espaço de armazenar."
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México
Casa La Luciernaga / uno más uno + Moro Taller de Arquitectura
"Estruturalmente, o projeto se resolve a partir de paredes de carga de taipa, monolíticas, com 40 cm de largura, que são sobrepostas à fundação feita de pedra, e um telhado de vigas de madeira, forro e telha. Optamos por organizar o programa arquitetônico em três volumes separados, unidos por um terraço de madeira com estrutura de pilares de aço. A intenção era que a construção se integrasse à paisagem da floresta, que parecesse que sempre esteve ali. Que tivesse uma linguagem honesta que falasse de como foi feita com as mãos. Ao mesmo tempo, proporcionasse aos visitantes uma atmosfera quente e natural com a qual foi feita, sem gastar grandes quantidades de energia. Que se mostrasse prática em sua concepção, com elementos construtivos visíveis, qualidades térmicas e a cor essencial que evidenciasse o material com a qual foi feita.
É uma casa responsável por seus resíduos, que funciona com separação e filtragem de águas residuais e negras (provenientes da cozinha), possui captação de água da chuva, fogão a lenha, painéis solares e gás. É passiva em seu consumo de energia devido às qualidades térmicas das paredes. Esse conhecimento construtivo das paredes de taipa foi transmitido às pessoas da cidade que participaram da obra. Assim, esse pequeno projeto tenta ser respeitoso como a luz do vaga-lume e colocar os moradores em relação direta com seu ambiente, proporcionando abrigo aos visitantes que normalmente chegam à cidade em busca de calma."
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Casa Sal / RIMA Design Group
"Nosso foco inicial foi incorporar paredes de terra batida nos espaços principais e utilizar, como segundo material, concreto para o restante dos volumes. As paredes de terra batida funcionam como isolantes térmicos que, ao mesmo tempo, fornecem calor e umidade ao deserto seco que circunda a casa e, por sua vez, contrastam com o piso de concreto polido, bem como com as lajes do hall central em forma de 'T' criando aberturas que permitem a entrada de luz natural. Queríamos explorar o hall central como uma cobertura em palha aberta, muito comum na arquitetura costeira continental. Tanto a iluminação como a ventilação cruzada são geradas através das das janelas superiores, que juntamente com os pátios localizados em cada eixo da casa criam um fluxo passivo."
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* Os textos são descrições enviadas pelos próprios autores dos projetos.
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