O arquiteto japonês Riken Yamamoto foi agraciado com o Prêmio Pritzker de Arquitetura 2024. Conhecido por estabelecer uma “relação de parentesco entre os domínios público e privado" e criar "arquitetura como pano de fundo e também destaque para a vida cotidiana", Yamamoto é o 53º homenageado do mais prestigiado prêmio arquitetura do mundo — e o nono arquiteto do Japão a receber a honraria, juntando-se a Arata Isozaki, Shigeru Ban, Kazuyo Sejima, Ryue Nishizawa, Kenzō Tange, Fumihiko Maki, Toyo Ito e Tadao Ando. Sucessor de David Chipperfield em 2023, Francis Kéré em 2022, e Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal em 2021, Yamamoto receberá prêmio durante a 46ª cerimônia do Prêmio Pritzker em Chicago ainda no primeiro semestre deste ano, e dará uma palestra no S.R. Crown Hall, no Instituto de Tecnologia de Illinois, em 16 de maio.
Uma das coisas que mais precisamos no futuro das cidades é criar, através da arquitetura, condições que multipliquem as oportunidades para as pessoas se reunirem e interagirem. Ao diluir cuidadosamente a fronteira entre público e privado, Yamamoto contribui positivamente para além do escopo, possibilitando o encontro da comunidade. Ele é um arquiteto tranquilizador que traz dignidade para a vida cotidiana. A normalidade se torna extraordinária. A calma leva ao esplendor. — Alejandro Aravena, Presidente do Júri e vencedor do Prêmio Pritzker 2016.
Reconhecido "por criar consciência na comunidade sobre o que é a responsabilidade da demanda social, por questionar a disciplina da arquitetura para calibrar cada resposta arquitetônica individual, e acima de tudo por nos lembrar que na arquitetura, assim como na democracia, espaços devem ser criados pela vontade do povo", os trabalhos construídos de Yamamoto, espalhados ao longo de cinco décadas, estão localizados por todo o Japão, China, Coreia e na Suíça. Seu portfólio inclui residências privadas, habitação pública, escolas primárias, edifícios universitários, instituições, espaços cívicos e planejamento urbano. Yamamoto foi homenageado com vários prêmios ao longo de sua carreira, incluindo o Prêmio do Instituto Japonês de Arquitetos pelo Museu de Arte de Yokosuka em 2010. Em resposta ao Terremoto e Tsunami de Tōhoku, fundou o Local Area Republic Labo, um instituto de pesquisa comprometido com o engajamento comunitário por meio da arquitetura, e em 2018, introduziu o Prêmio Local Republic, que reconhece jovens arquitetos cuja prática estejam mudando o futuro.
Nascido em Pequim, na China, em 1945, Riken Yamamoto mudou-se para Yokohama, Japão, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, onde ainda reside atualmente. Sua primeira experiência marcante com a arquitetura ocorreu aos 17 anos, quando visitou o Templo Kôfuku-ji em Nara, Japão, originalmente construído em 730 e reconstruído em 1426, e ficou impressionado pela "torre de madeira iluminada pela luz da lua". Formou-se na Universidade de Nihon em 1968 e concluiu o mestrado na Universidade de Artes de Tóquio em 1971. Em 1973, fundou seu próprio escritório, o Riken Yamamoto & Field Shop.
Para mim, reconhecer o espaço é reconhecer toda uma comunidade. A abordagem arquitetônica atual enfatiza a privacidade, negando a necessidade de relacionamentos sociais. No entanto, ainda podemos honrar a liberdade de cada indivíduo enquanto vivemos juntos no espaço arquitetônico como uma república, promovendo a harmonia entre culturas e fases da vida. — Riken Yamamoto, vencedor do Prêmio Pritzker de Arquitetura 2024.
Redefinindo limites: o limiar, um lugar para encontros
Durante os primeiros anos de sua carreira, Yamamoto dedicou-se a compreender comunidades, culturas e civilizações. Ele embarcou em diversas jornadas por países e continentes, levando-o à conclusão de que o conceito de um "limiar" delineando espaços públicos e privados é universalmente compreendido. Essa interpretação o levou a reavaliar os limites entre os domínios público e privado como oportunidades sociais, comprometendo-se com a crença de que todos os espaços podem enriquecer e servir a uma comunidade inteira, não apenas aqueles que os ocupam. Com efeito, reimagina limites como espaços em si mesmos e dá vida à zona de transição entre esferas públicas e privadas.
Yamamoto também desenvolveu seu estilo arquitetônico inspirando-se nas tradicionais casas japonesas machiya e na habitação grega oikos, que historicamente se mesclavam aos centros urbanos. Sua residência pessoal, Gazebo (Yokohama, Japão, 1986), foi projetada para incentivar a interação social com os vizinhos por meio de seus terraços e telhados. Da mesma forma, a Casa Ishii (Kawasaki, Japão, 1978), construída para dois artistas, apresenta uma sala pavilhão que incorpora sua abordagem inovadora de mesclar espaços internos e externos visando o engajamento comunitário.
Sociedades harmoniosas e engajamento comunitário
Definindo comunidade como um "sentido de compartilhar um espaço", Yamamoto desconstrói noções tradicionais de liberdade e privacidade. A partir disso, projetou residências unifamiliares convidativas que integram ambientes naturais e construídos, começando com a Villa Yamakawa (Nagano, Japão, 1977) e o projeto de habitação Hotakubo (Kumamoto, Japão, 1991), um projeto de habitação social que visava promover conexões entre culturas e gerações por meio de arranjos de convivência comunitária. Mais tarde, em 2010, se encarregou de um projeto de maior escala, o projeto de habitação Pangyo, onde volumes transparentes no nível do térreo promovem a conectividade entre vizinhos sem impor normas sociais específicas. Na escala cívica, Yamamoto concebeu a Prefeitura de Fussa (Tóquio, Japão, 2008) como duas torres de médio porte, harmonizando-se com o bairro circundante caracterizado por edifícios de baixo gabarito. As bases côncavas das torres convidam os visitantes a relaxarem, enquanto o terraço público e os níveis inferiores abrigam atividades e programas públicos versáteis, promovendo o engajamento e a interação comunitária.
Transparência, privacidade urbana e interação social
A transparência na forma, nos materiais e na filosofia é a base da visão arquitetônica de Yamamoto. No projeto para a Inter-Junction City (Yokohama, Japão, 1994), o arquiteto introduziu uma visão de planejamento urbano que destaca a evolução como elemento crucial no desenvolvimento. Central para essa abordagem foi uma regulamentação que exigia que todos os prédios permitissem passagem através de seus terrenos, promovendo a coesão entre os lotes adjacentes e forjando um senso de unidade entre os vizinhos. Seu compromisso em promover a interação social se estende a projetos de grande escala como a Universidade de Saitama (Koshigaya, Japão, 1999), a Biblioteca de Tianjin (Tianjin, China, 2012) e a Escola Primária Koyasu (Yokohama, Japão, 2018). A Estação de Bombeiros de Hiroshima Nishi (Hiroshima, Japão, 2000), por sua vez, se apresenta como um projeto totalmente transparente, permitindo que tanto visitantes quanto transeuntes espiem o átrio central, oferecendo um vislumbre das atividades diárias e sessões de treinamento dos bombeiros.
Entre outras obras significativas estão a Universidade de Arte de Nagoya (Nagoya, Japão, 2022), O CÍRCULO no Aeroporto de Zurique (Zurique, Suíça, 2020), Biblioteca de Tianjin (Tianjin, China, 2012), Jian Wai SOHO (Pequim, China, 2004), a Casa Ecoms (Tosu, Japão, 2004), o Shinonome Canal Court CODAN (Tóquio, Japão, 2003), a Universidade Futura de Hakodate (Hakodate, Japão, 2000), a Escola Secundária de Iwadeyama (Ōsaki, Japão, 1996) e a Habitação Hotakubo (Kumamoto, Japão, 1991).
Yamamoto foi recentemente nomeado professor visitante na Universidade de Kanagawa (Yokohama, Japão). Além disso, foi professor visitante na Universidade de Artes de Tóquio (Tóquio, Japão, 2022-2024) e lecionou na Escola de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade de Nihon, (Tóquio, Japão, 2011-2013); na Escola de Pós-Graduação em Arquitetura da Universidade Nacional de Yokohama (Yokohama, Japão, 2007-2011); no Departamento de Arquitetura da Universidade Kogakuin (Tóquio, Japão, 2002-2007); e foi presidente da Universidade de Arte e Design de Nagoya Zokei (Nagoya, Japão, 2018-2022).
Declaração do Júri do Prêmio Pritzker 2024
O Prêmio Pritzker é concedido em reconhecimento ao talento, visão e comprometimento que tenha contribuído significativamente para a humanidade e o ambiente construído através da arte da arquitetura. Em sua longa, coerente e rigorosa carreira, Riken Yamamoto conseguiu produzir arquitetura tanto como pano de fundo quanto como destaque para a vida cotidiana, borrando os limites entre suas dimensões pública e privada e multiplicando oportunidades para as pessoas se encontrarem espontaneamente, através de estratégias de design precisas e racionais.
Pela forte e consistente qualidade de seus edifícios, dignifica, aprimora e enriquece a vida dos indivíduos — desde crianças até idosos — e suas conexões sociais. Faz isso através de uma arquitetura autoexplicativa, porém modesta e pertinente, com honestidade estrutural e escala precisa, com atenção cuidadosa à paisagem.
Sua arquitetura expressa claramente suas crenças através da modularidade estrutural e da simplicidade da forma. No entanto, ela não dita atividades, mas permite que as pessoas definam suas próprias vidas dentro de seus edifícios com elegância, naturalidade, poesia e alegria.
Riken Yamamoto se envolve com uma variedade de tipologias e escalas nos projetos que desenvolve. Seja projetando casas particulares ou infraestrutura pública, escolas ou estações de bombeiros, prefeituras ou museus, a dimensão comum e convivial está sempre presente. Sua atenção constante, cuidadosa e substancial à comunidade gerou sistemas de espaços de trabalho que incentivam as pessoas a se reunirem de diferentes maneiras. Todo o espaço do edifício da Saitama Prefectural University (1999), por exemplo, é concebido como uma comunidade.
Yamamoto sugere, em vez de impor, essa dimensão compartilhada por meio de intervenções arquitetônicas discretas, porém precisas. Ao incluir espaços para atividades comuns dentro, fora e mesmo independentemente da função principal de seus edifícios, permite que estas se integrem à vida cotidiana da comunidade, em vez de serem experimentadas em circunstâncias restritas. Tanto os departamentos de pesquisa da Universidade Futura de Hakodate (2000), como a fachada de vidro com venezianas transparentes da Estação de Bombeiros de Hiroshima (2000), exemplificam sua crença na transparência como reflexo da funcionalidade e acessibilidade do espaço para usuários e visitantes.
Nascido na China e graduado no Japão, sentiu a urgência de complementar sua própria formação profissional com um entendimento real do "outro que não o eu". Viajou não para visitar monumentos renomados, mas para vivenciar a cultura e a vida cotidiana de comunidades em outros continentes. Da América do Norte à América do Sul, passando pelo Mediterrâneo até o Oriente Médio e Ásia, Yamamoto investigou as raízes e a história da vida comunitária, buscando ampliar sua própria visão para a modernização da cidade contemporânea por meio da arquitetura. Para ele, um edifício tem uma função pública mesmo quando é privado.
Riken Yamamoto não é um historiador da arquitetura, mas aprende com o passado e com diferentes culturas. Como arquiteto, não copia o passado, mas o adapta, reutiliza e evolui, mostrando que os fundamentos persistem em sua relevância. Yamamoto expandiu o conjunto de ferramentas da profissão em direção tanto ao passado quanto ao futuro com o objetivo de fornecer a cada momento, em modos muito diferentes e em escalas muito distintas, a resposta mais pertinente aos desafios tanto do ambiente construído quanto da convivência coletiva.
Por criar consciência comunitária sobre a responsabilidade da demanda social, por questionar a disciplina da arquitetura para calibrar cada resposta arquitetônica e, acima de tudo, por nos lembrar que na arquitetura, assim como na democracia, os espaços devem ser criados pela resolução das pessoas, Riken Yamamoto é o vencedor do Prêmio Pritzker 2024.
Acompanhe a cobertura completa do Prêmio Pritzker feita pelo ArchDaily.