Com o que um espaço sagrado deveria parecer hoje em dia? Como ele deve funcionar? Existe tal coisa como uma ideia contemporânea do sagrado?
Apesar da escassez de pistas tipológicas nós escolhemos uma anti-forma. Nós não queríamos legibilidade. Procurou-se reforçar a experiência da procura. Religiões são definidas por seus mistérios e as histórias de indivíduos que rompem limites.
A nossa condição contemporânea está cada vez mais definida por um sentimento comum de exílio - nunca estamos totalmente em casa. A visão de um objeto estranho que resiste a iconografia e apresenta-se com uma experiência furtiva de antecipação pode ser uma versão do sagrado arquitetônico.
Nosso projeto para a Igreja das 100 Paredes em Cebu é uma tentativa de pensar com estranheza na arquitetura. Como seria ver algo que nós não sabemos? Como Cristo no Jardim da floresta Getsêmani , estamos perplexos, sem a razão para nos salvar. Precisamos vagar e pensar através do sistema por nós mesmos.
Todas as paredes são colocadas apenas em uma direção para que o edifício seja completamente opaco de um lado e totalmente transparente no sentido contrário. Em qualquer lugar entre estes dois estados é um jogo óptico entre a luz e a escuridão. As paredes estão alinhadas ao longo de uma grade que segue o espaçamento dos bancos que marcam a relação entre os dois: a escala "minuto" do indivíduo e da escala cósmica do universo. A qualidade monolítica das paredes joga fora a realidade fugaz da luz colorida que filtra através das janelas com grades. O sagrado é, afinal, inexoravelmente ligado ao fato de que estamos aqui apenas por um curto período de tempo, enquanto a nossa arquitetura aspira para a permanência.
A ideia gótica de espaço pode ter sido uma das declarações mais comoventes deste enigma. As melhores igrejas da Europa medieval procuravam apresentar aos paroquianos uma imagem arquitetônica de uma massa densa e em camadas de contrafortes, reforços, abóbadas e torres - Deus tanto como um mistério quanto uma fonte de iluminação.
A Igreja das 100 Paredes nos convida a passear os seus motivos e descobrir jardins afundados, bolsões de luz azul e uma profusão enigmática de paredes talismânicas. A infinidade de portas e passagens é um lembrete de que há tantos caminhos quanto há vidas e que um espaço sagrado hoje deve tirar significado em sua impenetrabilidade.
