Com curadoria de Rem Koolhaas, a Bienal desse ano impôs altas expectativas entre os arquitetos do mundo todo, algo visível na grande ansiedade durante os meses que precederam a abertura do evento. Como Koolhaas comentou na cerimônia de premiação, ele assumiu a difícil tarefa de reinventar a Bienal, reconhecendo a influência do evento em como a arquitetura é exibida em todo o mundo.
Sob o título Fundamentals, Rem mobilizou os curadores desse ano a reunir uma vasta quantidade de conhecimento, trazendo à luz pesquisas que haviam sido ocultas, esquecidas, fragmentadas e/ou previamente não examinadas, disponibilizando-as para a comunidade arquitetônica. Isso não foi alcançado apenas sob a forma e conteúdo da Bienal, mas também em diversas publicações produzidas pelos curadores (uma prática alinhada à tradição do OMA/AMO).
Essa abordagem é, contudo, uma faca de dois gumes; em muitos pavilhões a densidade e profundidade do conteúdo torna sua compreensão difícil num primeiro olhar. Festivais e exposições de arquitetura tendem a se apoiar em temas únicos, mas ao passo que “Fundamentals” tinha como foco transmitir ideias sobre a relação da arquitetura com a modernidade no curso dos últimos 100 anos, a Bienal constituiu um enorme desafio para os curadores. Muitos pavilhões produziram impressionantes publicações, assim, o rico conhecimento desenterrado por eles continuará a influenciar o pensamento da arquitetura após o término da Bienal em Novembro.
Na exposição Monditalia, um grupo de pesquisadores analisou a Itália, praticamente varrendo o país de ponta a ponta, destacando exemplos específicos que enfatizam sua transição de um país mediterrâneo para um país europeu. A metodologia resultante dessa pesquisa/compreensão do país também pode ser aumentada e aplicada a outras nações.
Para os pavilhões nacionais, o tema Absorbing Modernity convidou os curadores de diversas partes do mundo a rever criticamente a modernidade em seus respectivos países. Países como o Chile e a Coréia (vencedores do Leão de Prata e Ouro, respectivamente) produziram retratos numa antes vistos e ressuscitaram questões relevantes no contexto contemporâneo. Com o rápido crescimento das economias emergentes, um padrão similar àquele que emergiu durante a proliferação do Estilo Internacional está surgindo novamente, reduzindo a arquitetura e o regionalismo. Esse feedback do passado nos oferece a oportunidade de prever, modificar, ou pelo menos entender melhor o curso de ação da arquitetura de hoje.
Mas é na seção Elements de Fundamentals que a Bienal se transforma numa verdadeira fonte de recursos para os arquitetos, analisando os elementos centrais dos edifícios de modo quase obsessivo. Como Koolhaas comenta no vídeo acima, os arquivos são mais relevantes hoje do que jamais foram.
“Uma exposição como esta depende de arquivos, e quando estávamos desenvolvendo a noção, quando estávamos entrando no assunto mais detalhadamente, após 6 meses, percebemos que o mundo como um todo, e particularmente a Europa, está repleto dos mais impressionantes arquivos, as mais impressionantes coleções, e muitas dessas coleções são extremamente aprofundadas porém extremamente focadas. Penso que era exatamente isso que procurávamos: focar em um único elemento mas com uma tremenda profundidade. Então, não é apenas a coleção de janelas do Brookings – ou a Coleção de Edifícios do Brookings – que nós, de certo modo, transpusemos. No caso de Friedrich Mielke, encontramos um arquivo inteiro dedicado apenas às escadas com uma carga enorme de pesquisa, e também produção e percepção e conhecimento. Então em toda parte – seja em suas portas, escadas ou janelas – a exposição está repleta e só foi possível graças a esses arquivos.”