Redesign Tradition - Play Architecture / Mezzo Atelier + Argot ou la Maison Mobile

Escrito por Romullo Baratto
Publicado em 01 de Setembro de 2014

Sobre o Festival Walk&Talk

Uma ilha de origem vulcânica no meio do oceano atlântico com cerca de 140 000 habitantes tem sido palco de experimentação artística nos últimos 4 anos através do festival de arte urbana Walk&Talk. O museu a céu aberto se localiza na cidade de Ponta Delgada, capital regional do Arquipélago dos Açores, mas as intervenções propagam-se a outras áreas da ilha de São Miguel.

Se as primeiras edições ficaram marcadas pelos murais de aclamados artistas da street art, já nas últimas juntaram-se tantos outros de áreas como a dança, cinema, design e arquitetura, evoluindo e amadurecendo como um evento cultural multidisciplinar que colocou a ilha ao alcance do radar artístico contemporâneo.

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Redesign Tradition I Play Architecture Lab

Sendo a arquitetura uma das novas apostas da 4ª edição do festival, fomos convidados a propor uma intervenção na cidade de Ponta Delgada - Mezzo Atelier (Giacomo Mezzadri e Joana Oliveira) e Argot ou la Maison Mobile (Luca Astorri). De modo a abrir o projeto à comunidade e aos profissionais propusemos organizar um laboratório prático de arquitetura, ao qual chamamos Redesign Tradition - Play Architecture através do qual se construíram as intervenções e paralelamente convidamos estúdios de arquitetura locais e internacionais a refletir sobre o tema proposto.

O projeto teve como ponto de partida a arquitetura vernacular açoriana, mais em particular as estruturas rurais ligadas à produção agrícola que marcavam fortemente a paisagem e que em tempos faziam parte da economia regional, mas que nos dias de hoje já são escassas. A nossa pesquisa levou-nos a concentrar em apenas 3 tipologias que redesenhamos de modo a transformá-las em equipamento urbano que se integrasse no espaço público da cidade. Quisemos refrescar a memória dos habitantes de forma inusitada, suscitando curiosidade e provocando o diálogo entre os mais velhos, que reconhecem as estruturas originais, e os mais jovens ou entre os locais e os turistas que poderão conhecer um pouco da cultura local através do equipamento urbano.

1. Cafuão de milho

Um dos muitos nomes usados para a estrutura de madeira onde se amarrava o milho para secá-lo. A sua fácil construção e dimensões faziam com que fosse muito comum cada família ter o seu próprio em seu quintal. As duas novas tipologias de cafuão construídas são uma mesa de picnic com bancos incorporados, onde as pessoas podem se reunir ou comer no espaço público; e um banco acoplado a um quiosque de flores que agora pode expor suas coloridas plantas como se fossem espigas de milho.

2. Moinho de vento

Dos antigos moinhos restaram apenas as paredes de tijolo que aparecem solitárias no topo dos montes micaelences. Os poucos que foram recuperados não mantêm a moagem dos cereais ativa. Mas os moinhos, além de prestarem um serviço muito útil às populações, eram também espaço de convívio, onde ocorriam animados encontros enquanto esperavam a moagem do trigo. Nossa adaptação do moinho urbano gera um arquétipo lúdico e de lazer para crianças e adultos e convida a descobrir o que se vê do alto enquanto as suas pás giram ao vento.

3. Estufas de abacaxís

A produção orgânica de abacaxi (ou ananás) em estufas de madeira e vidro caiado de branco ainda se mantém, porém assiste ao rápido envelhecimento das estruturas, e a partir do momento em que estas se danificam, poucos se mostram interessados em restaurá-las. Nossa reinterpretação das estufas as leva até à beira-mar, à piscina natural do pesqueiro, onde durante todo o ano os locais se banham, mesmo no centro da cidade. Diminuindo sua escala, transformamo-las em plataformas para tomar sol, sentar, deitar e brincar. Construiu-se duas estufas, uma manteve-se como volume branco puro, lembrando a paisagem das quintas ao redor da cidade, e na segunda abrimos espaço para espreguiçadeiras em madeira e redes de pesca usadas na pesca da sardinha.