Mais da metade da população mundial vive hoje nas cidades e a tendência é que este número aumente nos próximos anos. Tal mudança traz consigo implicações dramáticas que afetam os sistemas de permeabilidade de água no solo, polinização, redução de ruído, purificação do ar e regulações de temperatura, entre outros. Um novo estudo publicado por The Ecological Society of America, baseado em uma pesquisa conduzida pela University of Exeter e pela Hokkaido University, se aprofunda nos modos como a ocupação urbana do solo interfere nos sistemas ecológicos, e como podemos respeitar essas funções essenciais. O principal foco é uma comparação das táticas dicotômicas do espraiamento das cidades dos EUA versus o urbanismo denso e bem definido da Europa.
Saiba mais sobre o estudo e as soluções que ele oferece, a seguir.
Embora nem o espraiamento nem a densificação sejam abordagens perfeitas, o estudo aponta que quanto mais o solo for coberto de edifício e superfícies artificiais, menos capital natural existe para sustentar os sistemas ecológicos. À luz disso, o modelo europeu de agrupamentos compactos intercalado com áreas de parque é uma solução mais inteligente que o fragmentado - embora pontuado por áreas verdes - espraiamento dos subúrbios norte-americanos. No entanto, o estudo também descobriu que áreas urbanas com menos área verde se refletem em um declínio da saúde dos habitantes.
Tais descobertas levam à conclusão de que um ambiente melhor integrado e em harmonia com os sistemas ecológicos é benéfico para a biodiversidade. Os autores propõem que um plano urbano híbrido entre espraiamento e adensamento é menos oneroso para a natureza e mais benéfico para os habitantes das cidades. Em outras palavras, nem a ideologia da "cidade na floresta" de Atlanta, nem os parques definidos de Tóquio, mas uma proposta que mescle ambas.
O aponta a proposta da "Ville Contemporaine" de Le Corbusier (1922) como um meio termo apropriado para as necessidades de uma cidade para três milhões de habitantes. O projeto de Le Corbusier combina uma malha regular de edifícios em altura intercalados com espaços verdes. O problema deste plano, no entanto, é que as condições ecológicas não são a tábula rasa da cidade moderna e padrões de fragmentação terão um feito não-linear nos sistemas ecológicos, gerando a necessidade de diferentes escalas e táticas.
Em outras palavras, as sutis variações no clima e nos ecossistemas farão necessário diferentes soluções não apenas para diferentes cidades, mas também para diferentes áreas dos mesmos agrupamentos urbanos. A abordagem de Le Corbusier, embora altamente precisa, não leva em consideração as diversidade do terreno que tornariam tal solução impraticável.
O ritmo acelerado do desenvolvimento urbano no mundo significa que soluções ecológicas são urgentes e embora a pressa gere certos compromissos, os resultados não precisam ser atenuados. Com efeito, as cidades já estão criando soluções que efetivamente equilibram as necessidades urbanas e ecológicas. Ao criar ferramentas eficientes em diversos contextos, o estudo enxerga uma promessa no uso de soluções aplicáveis em diferentes escalas, como a vegetação de rua, pavimentação permeável, jardins verticais, coberturas verdes e outras estratégias.
Com muito a ser feito, as cidades dos Estados Unidos tiveram recentemente progressos impressionantes ao criar soluções locais. O Klyde Warren Park em Dallas é um espaço verde construído sobre a Woodall Rodgers Freeway no centro da cidade. O restauro do Klyde Warren Park em Houston envolve duas rodovias adjacentes e utiliza as passagens inferiores como locais de contemplação e caminhada.
Embora estes sejam exemplos encorajadores, a fragilidade dos sistemas ecológicos requer abordagens mais profundas. Em vez de aumentar e acrescentar estratégias a paisagens e infraestruturas existentes, as cidades e os urbanistas devem incorporar mais prontamente estas soluções nas fases iniciais do processo de projeto. Enxergar os benefícios dos projetos que complementam ou restauram sistemas ecológicos deveria servir de incentivo aos profissionais para que estudem ecologias locais e busquem soluções que criam os melhores ambientes para viver nas cidades. Embora soluções site-specific continuem a ser as mais eficientes, quanto mais predominantes estas soluções se tornarem, mais fácil será para outras cidades compreenderem e simulares soluções que sejam sensitivas às circunstâncias locais.