"Prefiro desenhar do que falar. O desenho é mais rápido e deixa menos espaço para mentiras." (Le Corbusier)
Mesmo com a evolução da tecnologia e a popularização de avançados programas computacionais, a maioria dos projetos de arquitetura ainda começa com uma folha em branco e traços descompromissados. Mais do que representar fielmente um projeto, o croqui serve para estudar uma condicionante, entender uma paisagem ou uma topografia, ou repassar uma ideia a outros membros da equipe ou mesmo ao cliente. Seu intuito principal, no entanto, é estimular a produção de ideias e vencer o medo do papel em branco. Geralmente é realizado através de traços imprecisos, sobrepostos, ambíguos, acompanhado de anotações, flechas, e não carecendo de grande precisão técnica e refinamento gráfico.
“O rabisco não é nada, o risco – o traço – é tudo. O risco tem carga, é desenho com determinada intenção – é o ‘design’”. (Lucio Costa)
A questão primordial nos croquis é o ato de registrar uma ideia ou uma cena instantânea, através de uma técnica de desenho rápida, dominada pelo projetista. Há croquis que se aproximam de desenhos infantis, alguns carregam a simplicidade como maior virtude, enquanto outros evidenciam uma complexidade e domínio de técnica que lhes outorgam grau de obras de artes.
Nesse sentido, ainda que os croquis não tenham um rigor técnico ou uma qualidade intrínseca, o importante é que possam comunicar uma imagem clara e repassar a mensagem pretendida, seja para outros, ou mesmo para futuras consultas do próprio projetista. Um instrumento muito utilizado para torná-los mais compreensíveis é a inserção de elementos que proporcionem subsídios para um melhor entendimento do objeto em questão. Entre esses subsídios destacam-se as escalas humanas - figuras que representam os futuros usuários do espaço. A escala humana, como o nome diz, tem importância nas composições, pois conforma uma relação de proporção com o objeto desenhado, independente de suas dimensões, podendo também indicar as funções a que o espaço é proposto, sugerir os percursos pretendidos e a própria vitalidade aspirada no mesmo.
Niemeyer, após anos de prática, desenvolveu a habilidade de representar seus gestos projetuais com poucos traços. Através deles, consegue representar perspectivas complexas, paisagens e situações, e refletir a clareza volumétrica a que sua arquitetura se propõe. Suas escalas humanas seriam difíceis de identificar se aproximássemos do desenho, mas fundem-se aos mesmos e tornam-se imprescindíveis para o melhor entendimento de suas escalas e usos. Outros, como Eduardo Souto de Moura, evidenciam o processo de projeto, com linhas trêmulas, sobrepostas e uma aparente confusão. Se escrever é a arte de cortar palavras, um bom projeto também deve emergir de um emaranhado de linhas? Talvez nunca saberemos.
Renzo Piano, além das figuras humanas, é adepto da escrita em seus croquis. Com uma letra artística e quase ininteligível, o arquiteto mostra que grande parte dos seus projetos são gestados a partir de cortes esquemáticos expressivos. A escala humana entra como importante unidade de medida das partes do edifício. João Filgueiras Lima, nosso Lelé, mesclava croquis artísticos e representativos com indicações de materiais, elementos estruturais e materiais. Lina Bo Bardi acrescentava cores para criar croquis bem-humorados, mas com resolução de diversos aspectos técnicos.
Em outro artigo do ArchDaily já indagamos sobre o papel do desenho à mão livre no mundo atual, com tantas tecnologias e softwares, que foi seguido de um rico debate realizado por nossos leitores nos comentários. Também já apresentamos uma interessante coletânea de escalas humanas, eternizadas por alguns arquitetos de destaque, e observamos o quanto elas espelham sua obra.
Confira a galeria abaixo com diversos croquis de diferentes arquitetos e compare o estilo de cada um e qual assemelha-se mais ao seu modo de se expressar:
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