Desde o início de 2016 a campanha presidencial nos EUA teve a imigração como questão central. A proposta do presidente eleito Donald Trump de construir um muro entre o México e os Estados Unidos, e sua declarada intenção de deportar todos os imigrantes indocumentados, atraiu a atenção do mundo inteiro para os complexos problemas daquela região de fronteira. Fronteiras podem ser entendidas como entidades geográficas, barreiras políticas, ou outros limites de espaço. Fronteiras podem ser exploradas através de várias lentes conceituais.
A análise da atual fronteira México-EUA revela a existência de três grandes indústrias que direcionam o discurso sobre, e em maior medida, toda a paisagem da fronteira.
A Primeira é a indústria da globalização que movimenta 500 bilhões em mercadorias entre os EUA e o México a cada ano, e cujo objetivo é facilitar esse intercâmbio.
A segunda é a indústria do trabalho mal-remunerado que emprega milhões de trabalhadores hispânicos em todo os EUA (legalmente ou não), interessados que estão em uma fronteira não exatamente fechada, mas tampouco totalmente aberta, mantendo assim os trabalhadores fronteiriços preocupados com a deportação e, portanto dispostos a péssimas condições de trabalho.
O terceiro setor é a indústria militar que vende medo e banca a violência na área de fronteira com sua ineficiente guerra às drogas, justificando o gasto de bilhões de dólares em equipamentos, pessoal e infraestrutura num círculo vicioso que alimenta a si mesmo e consome vidas e recursos de ambos os governos.
Tais indústrias são responsáveis pela insegurança e pelo assédio diário de milhões de pessoas que precisam ou querem atravessar a fronteira, sem, no entanto, conseguir controlar o fluxo de drogas rumo ao norte ou de armas rumo ao sul.
A arquitetura, com seu poder de articular uma visão de um futuro melhor, tem a responsabilidade de trabalhar tais conflitos e ser parte da solução. Fernando Lara, professor associado da Universidade do Texas em Austin convocou seus alunos de mestrado a pensar sobre a questão da imigração. A ideia foi desenhar soluções para uma fronteira México- EUA que fosse segura, sustentável e igualitária.
O atelier de projeto teve uma premissa básica: Imaginar uma fronteira em que as pessoas podem se mover livremente, mas que todo tipo de cargas seja detalhadamente inspecionada. Para tanto torna-se necessário desconstruir as bases das três grandes indústrias brevemente descritas acima, e propor uma fronteira mais humana e funcional.
Os doze estudantes no atelier da UT Austin, EUA, trabalharam em paralelo com ateliers da Universidad Autonoma Nuevo León em Monterrey, México. Os estudantes de ambos os lados da fronteira tiveram a oportunidade de interagir e trabalhar em conjunto para encontrar soluções para promover a integração em diferentes cidades fronteiriças.
Os estudantes sugeriram que estas fronteiras, em vez de terrenos abandonados e militarizados, poderiam ter parques, estações de tratamento de água, instalações esportivas e centros comerciais. A presença ativa de pessoas em atividades de lazer e negócios inibiria o trânsito de armas e drogas e ajudaria a integrar populações dos dois países.
Os problemas que cercam qualquer fronteira são complexos. Mas a arquitetura e urbanismo podem contribuir enormemente se atuarmos politicamente da forma correta. Governos devem criar integração comunitária e oportunidades econômicas para cidades irmãs e suas populações irmãs. Isso significa costura-las e não segrega-las.
Fernando Luiz Lara é Arquiteto pela UFMG; PhD pela Universidade de Michigan; Professor associado na Universidade do Texas; Fundador e consultor do LUA LAB - Laboratório de Urbanismo Avançado; Consultor da Horizontes Arquitetura e Urbanismo.