O Fórum Internacional de Arquitetura e Urbanismo continuou a pleno vapor no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. O Rio Academy concluiu suas atividades com a fase prática, onde os participantes estudantes e profissionais desenvolveram projetos como uma forma de presentear a cidade no ano que completa 450 anos. Iniciada na quarta-feira, dia 22, a segunda etapa do evento segue a dinâmica dos talks pela parte da manhã e o resto do dia para o desenvolvimento dos projetos.
Sob o tema de Acupuntura Urbana, o segundo dia de workshop contou com a presença de Renata Strengerowski, ministrando o seu talk sobre projetos desenvolvidos por seu coletivo de arquitetos. A arquiteta que trocou o mercado comercial pelo prazer de trabalhar com pessoas apresentou metodologia e ações comunitárias para o desenvolvimento de espaços coletivos com qualidade técnica arquitetônica, em projetos de pequenas intervenções que impulsionam o empreendedorismo social com uma conexão entre a comunidade, cidade e o cidadão. Na apresentação de alguns de seus projetos, Renata sublinha a ampla participação popular ao longo dos processos, tanto na tomada de decisões como em ações práticas na construção efetiva do espaço, envolvendo a comunidade no processo que chama de ciclo virtuoso, bem diferente do ciclo vicioso.
Em seguida, Clóvis Cunha falou sobre Mobilidade Urbana apresentando alguns de seus projetos como responsável pelo departamento de arquitetura da Sistran-GPO em São Paulo, dentre eles estações de trem da CPTM e estações de Metrô paulistas. Expôs projetos como a remodelação do Boulevard Santo Amaro, Estação Lageado e Estação Pompéia da CPTM a sua abordagem de trabalhar modelagens em ArchiCAD como ferramenta de projeto e desenvolvimento das propostas, metodologia essa que ajudou muito nas discussões com o poder público. Destacou a importância da parceria dos arquitetos com os promotores públicos na construção de espaços públicos integradores, onde o arquiteto é responsável por não deixar a lógica do capital privado reproduzir lógicas segregadoras e mono-funcionais.
O palestra que encerrou a manhã de quinta feira foi dos arquitetos alemães Max Schwitalla e Oke Houser, do Studio Schwitalla, escritório interdisciplinar de prática arquitetônica, que instigaram o pensamento da plateia questionando as soluções mobilidade atual e futuras. Dentre seus trabalhos apresentados, destaque para a associação com uma empresa fabricante de elevadores e outra de automóveis, projeto que o Studio tem desenvolvido para propostas de deslocamentos urbanos inteligentes que integram lógicas de deslocamentos tradicionais dos dois fabricantes – vertical e horizontal - unidos para gerar deslocamentos também nas diagonais, gerando uma paisagem urbana otimizada e com ares futurísticos. Os arquitetos instigaram a plateia a pensar fora da caixa ao propor novas maneiras de abordar os problemas atuais, com menos foco nas estações de modais diferentes, e mais foco nos deslocamentos e destinos coletivos.
Na sexta feira dia 24, Marcello Dantas abriu o terceiro e último dia de talks com uma palestra que teve como tema principal questionamentos da Arte Pública. Defendeu importância deste tipo de intervenção na cidade por possui um alcance extraordinário de sensibilizar pessoas que não tem a cultura do museu, construindo público trazendo a arte para pessoas em suas situações cotidianas, fazendo com que todos os olhares possuam uma opinião, em suas palavras, “a arte pública não causa indiferença, ou se ama ou se odeia. ” Em diversos projetos de sua curadoria, Dantas defendeu que “O mais importante na arte pública não é criar obras, mas criar situações”, como o projeto OiR – Outras ideias para o Rio, trouxe uma série de intervenções de artistas internacionais ao Rio de Janeiro. Também apresentou o BHásia, projeto de intervenções urbanas que trouxe artistas asiáticos para expor Belo Horizonte, MG, destacando o papel do curador importante articulador da poética da obra com o público.
Ainda sobre arte, o coletivo Fleshbeck Crew seguiu com as apresentações da manhã com o tema placemaking criativo. Composto pelos artistas BR, Toz e Piá, o coletivo de artistas do deram uma aula sobre grafite e todo o seu caráter transformador, contestador e integrador, apresentando algumas das obras do coletivo espalhadas mundo afora. Destacaram a força mundial do movimento do grafite, e seu caráter colaborativo e linguagem universal. Enquanto arte pública, gratuita e democrática o grafite tem o poder de dialogar e transformar os espaços, as ruas e, portanto, a vida das pessoas, com intervenções em superfícies subutilizadas das cidades como forma de contestação.
O último palestrante dos talks, Washington Fajardo, Presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade e do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural, encerrou o ciclo de palestras do Fórum Internacional de Arquitetura e Urbanismo com o tema Patrimônio Arquitetônico. À frente de uma gestão pública que cuida do patrimônio da cidade do Rio, Fajardo apresentou um panorama histórico da cidade, evidenciando problemas de gestão urbana em relação ao Patrimônio, destacando que ele sempre esteve muito incorporado a uma visão de modernidade no que toca o planejamento urbano, o que traz atritos e problemas. Defendendo que “a melhor cidade que existe é a cidade que existe”, o arquiteto destacou a importância de se compreender a dimensão histórica e cultural das cidades e trabalhar com elas. Apresentou projetos de êxito no Rio em relação à preservação, manutenção e destaque do Patrimônio Arquitetônico da cidade, como a Praça Tiradentes, as políticas inovadoras nas operações do Porto Maravilha e projetos de restauração de edifícios históricos para uso residencial.
Durante a tarde de quinta-feira, os alunos de três dos cinco eixos temáticos realizaram uma visita técnica ao Morro da Providência, no centro do Rio de Janeiro, local escolhido para desenvolverem seus projetos dentro dos workshops. Acompanhados de líderes comunitários, os grupos de Urbanismo espontâneo, Mobilidade Urbana e Desigualdade Social foram conferir de perto as problemáticas e potenciais desta comunidade considerada a primeira favela do Brasil, em constante conflito com os órgãos do poder público e frequentemente na mídia pelas obras relacionadas ao projeto do Porto Maravilha. O grupo de Patrimônio Arquitetônico também realizou para visita guiada, com foco no Parque do Aterro do Flamengo, que celebra 50 anos em 2015.
Workshops e seus Eixos Temáticos:
Patrimônio Arquitetônico
- Coordenado por Andréa de Lacerda Pessôa Borde, Doutora em Urbanismo pela UFRJ.
Soluções Efêmeras
- Coordenado por Pedro Rivera e Pedro Évora, do escritório carioca RUA Arquitetos.
Urbanismo Espontâneo
- Coordenado por Igor de Vetyemy, Coordenador Geral do Curso de Arquitetura e Urbanismo e do Departamento da Indústria Criativa da Universidade Estácio de Sá.
Mobilidade Urbana
- Coordenado por Max Schwitalla e Oke Hauser, do Studio Schwitalla, sediado em Berlim.
Desigualdade Social
- Coordenado por Sylvia Meimaridou Rola, Diretora Adjunto de Extensão da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ, e Humberto Kzure-Cerquera, Doutor em Urbanismo pelo PROURB/UFRJ e Bauhaus Universität Weimar.
O resultado do concurso de ideias foi divulgado em cerimônia de encerramento na tarde deste domingo. Reveja nossa cobertura completa do Fórum Rio Academy aqui.