Neste vídeo, uma das famosas casas desmontáveis de Jean Prouvé - neste caso uma variação de 6m x 6m - é rapidamente construída em uma praia, mostrando o eficiente sistema estrutural do projeto e as etapas de sua construção. O vídeo é um dentre vários publicados nos últimos anos, quase sempre produzidos em timelapse, que mostram quão rapidamente este exemplo de habitação social temporária produzida industrialmente pode ser montado.
O vídeo, assim como outros antes dele, oferece uma visão interessante de um dos primeiros exemplos de edifício modular de pequena escala - mas com os avanços em materiais e tecnologias produtivas nos 70 anos que se passaram após o projeto ter sido realizado, o edifício não é exatamente uma revelação em termos de como construir de forma rápida e barata. Então, de onde vem todo este interesse por trás das casas desmontáveis de Jean Prouvé?
A origem destas casas desmontáveis surge por volta do início dos anos 1930, quando Jean Prouvé - naquela época um operário metalúrgico que produzia móveis art-déco - começou a experimentar com estruturas arquitetônicas. Completamente autodidata, para Prouvé "não havia diferença entre a estrutura de um edifício e a estrutura de uma mesa", segundo explicou seu neto, Serge Drouin, ao Dwell em 2014. Ao final dos anos 1930, Prouvé havia refinado seu sistema estrutural e patenteado o "pórtico axial", a estrutura de duas pernas que serviria como apoio principal em todos os projetos desmontáveis posteriores.
A Segunda Guerra Mundial - mais especificamente o fim da guerra e a necessidade de criar rapidamente abrigos para uma população francesa em estado de choque - proporcionou uma oportunidade para as casas desmontáveis de Prouvé serem finalmente colocadas em uso. Segundo o Committee on Human Settlements, o ministério para a Reconstrução e Desenvolvimento Urbano da França encomendou 800 unidades da casa, porém, apenas a metade destas foi produzida, já que o governo logo mudou sua estratégia para a construção de habitações permanentes. Este súbito corte na produção na França, combinado com as políticas do governo de "exceção cultural" decretadas após a guerra, deixou os modernistas franceses (com exceção de Le Corbusier) "marginalizados dentro e uma espécie de bolha cultural", de acordo com Claudia Barbieri, e os projetos desmontáveis de Prouvé definharam na obscuridade por décadas.
Voltando aos anos 2010, as casas desmontáveis de Prouvé têm recebido muita atenção, mas de onde vem este súbito interesse?
A resposta curta para esta questão é: da Galerie Patrick Seguin. Fundada em 1989 para promover o design e arquitetura da França no século XX, a galeria tomou como missão reunir a maior quantidade possível das mais de quatrocentas casas desmontáveis construídas. Em um artigo para a Modern Magazine, Claudia Barbieri explica como Patrick Seguin ajudou a transformar este exemplo esquecido em um ícone do design do século passado.
"A visão de Seguin era de que a narrativa poderia ser invertida", comentou Barbieri. "Ele vende as estruturas elegantemente despojadas de Prouvé a colecionadores como instalações artísticas." Estas vendas, e atenção que atraem, é que são a fonte de tanto interesse nas casas desmontáveis nos últimos anos: os vídeos acima foram produzidos pela casa internacional de leilões Phillips em preparação para a venda de cadas da coleção da Galerie Patrick Seguin, enquanto que outro vídeo em timelapse foi encomendado pela marca de mobiliário Bally, que instalou uma casa desmontável na Design Shanghai e posteriormente na Art Basel Miami para servir de showroom para seus produtos.
Mas como boa parte do design moderno, o valor da obra de Jean Prouvé - ao menos para os arquitetos - não está tanto no aço enferrujado e na madeira envelhecida das estruturas originais, mas nas ideias que sustentam o projeto.Há uma razão, afinal, pela qual Prouvé escolheu patentear seu pórtico axial em vez de simplesmente confiar em direitos autorais para proteger sua propriedade intelectual.
No século XXI, em uma época em que arquitetos estão cada vez mais interessados em abordar questões de habitação em massa, as casas desmontáveis mostram sua idade. Elas não oferecem a mesma eficiência material e econômica de um abrigo para refugiados da IKEA, e atualmente, a ideia de uma habitação, mesmo que temporária, sem eletricidade, encanamento ou isolamento seria inimaginável. Isso não significa que não há valor no projeto de Prouvé, no entanto, sem adaptações ele não passa de mera curiosidade da história da arquitetura.
Já houve uma tentativa de modernizar o projeto da casa desmontável, também encabeçada por Galerie Patrick Seguin. Ano passado a galeria convidou o escritório Rogers Stirk Harbour + Partners a atualizar o projeto, acrescentando módulos de cozinha e banheiro no exterior do volume. Este projeto, no entanto, foi pensado como uma residência de férias e foi produzido apenas um exemplar - ainda muito pouco perto da intenção original da casa de abordar os problemas habitacionais.
Se queremos que a casas desmontável seja novamente um tópico da discussão arquitetônica, já não é hora de reconstruirmos também seus ideias além de suas antigas estruturas?