No pós-Brexit, arquitetos britânicos precisam pensar muito sobre a posição londocêntrica da profissão. Houve uma política de inclusão de arquitetos não-londrinos em júris, seu trabalho em revistas e em listas de prêmios, mas isso não é suficiente. Ficou claro em 24 de junho, quando a comunidade de arquitetos de Londres percebeu que a Grã-Bretanha deixaria a União Européia, que uma bolha a favor da permanência havia se formado na capital. O mesmo ocorre em outras grandes cidades ao redor do país que votaram em grande parte em favor da permanência no bloco político e econômico.
O que talvez tenha sido mais triste foi testemunhar como indivíduos hostis ou elitistas estavam dispostos a entrar nessa bolha urbanista. Os mantras sobre a inclusão e a tolerância estavam fora da agenda, particularmente porque os londrinos declararam seu desejo de uma cidade independente, ao mesmo tempo que minavam a inteligência e os motivos daqueles a favor da saída da UE. Em termos de arquitetura, também, aqueles a favor do Brexit foram considerados nostálgicos ou loucos pela crítica.
No entanto, aqueles a favor da saída são parte significativa da população com a qual qualquer arquiteto terá que lidar - seja como clientes, funcionários públicos ou como usuários de escolas, hospitais e centros comerciais. Assim, deve haver uma verdadeira consciência social e cultural sobre as preocupações, valores e perspectivas dessas pessoas.
Se parte da razão para votar na saída da UE era a sensação de perda de identidade nacional e privação de direitos, então, em vez de depreciar as pessoas por isso, devemos pensar como lidar com essas questões. A identidade tem muito a ver com a coesão social e não apenas com o nacionalismo em si. Estariam os arquitetos em posição, por exemplo, de pensar de forma criativa e construtiva para aumentar o sentimento de coesão ou de solidariedade nas escolas? Podemos encontrar soluções de construção que auxiliem na regeneração de áreas que precisam desesperadamente de investimentos? Podemos trabalhar com as autoridades locais e as empresas em masterplans e estudos de viabilidade que ajudam a destravar o potencial existente e a melhorar as formas de utilização, atualização e extensão dos edifícios existentes? E como, podemos perguntar, o projeto e a arquitetura podem ajudar a fortalecer a identidade local e as singularidades de cada lugar?
Infraestrutura de transportes é um tópico fundamental para muitos dos desafios de hoje, incluindo a crise da habitação. Há um mito sobre alta densidade nas cidades ser a melhor maneira de viver. No entanto, muitos moradores urbanos vivem em locais muito apertados e caros para realmente desfrutar de suas residências e bairros. Agora, é claro, as indústrias criativas de Londres também estão sob ameaça como resultado do aumento do valor dos aluguéis. Como resultado, novos centros criativos surgirão em outros lugares. Os arquitetos devem incorporar esta energia e dirigi-la de forma inteligente.
Por exemplo, se os deslocamentos diários fossem melhorados, mais famílias desfrutariam de acomodações mais espaçosas e mais acessíveis, além de terem mais acesso à cultura. Uma casa poderia ser apenas uma casa e não uma mercadoria instável. A descentralização permite que mais famílias aumentem a rede de locais onde viver, e, sem dúvida, novas empresas e atividades seguirão esse fluxo. No entanto, atualmente é comum a ideia de que a modernidade só pode existir nos centros urbanos. Precisamos superar isso com uma nova visão para a vida contemporânea fora das metrópoles.
Apesar do número de políticas de regeneração que existem para tentar resolver essas questões, muitos aspectos do que faz um bom lugar são mal compreendidos. O potencial de retrofitting inteligente é muitas vezes esquecido, talvez porque contratualmente há menos dinheiro disponível para esses projetos. Os conselhos também não são necessariamente os mais bem colocados para entender o que torna suas comunidades genuinamente atraentes ou lhes dá o potencial para serem melhoradas. Ideias vistas em outros lugares são replicadas sem pensar e, em geral, há muito pouco planejamento específico para o terreno em questão. A arquitetura deve se voltar para o futuro das cidades como estruturas, não como estilos.
Arquitetos estão bem colocados para fazer isso. Eles são por natureza generalistas. Eles gostam de questões complexas e pensamento divergente, ainda que sua influência esteja em declínio. Eles precisam desempenhar um papel mais pró-ativo no fomento de novas ideias, desafiando as visões e preconceitos de seus clientes. Precisamos de mais arquitetos em posições de influência, envolvidos na política, nos conselhos locais e mesmo na posição de clientes. Precisamos de mais arquitetos pensando para além de sua própria cidade. E precisamos pensar como os espaços físicos podem se tornar catalisadores de um estilo de vida melhor para todos, seja em Blackpool, Birmingham, Boxford, Bute ou Balamory.