Descrição enviada pela equipe de projeto. O tecido urbano peculiar da Vila Madalena, em São Paulo, define o projeto criado pela Triptyque Architecture para o edifício residencial construído na rua Arapiraca. A integração com o entorno - uma zona de casas antigas, e próxima de bares e restaurantes - foi o partido adotado pelos arquitetos do escritório franco-brasileiro, cuja estratégia dilui, com primazia, os oito mil metros quadrados de área construída em uma volumetria que dialoga e respeita o relevo.
Para isso, os arquitetos decidiram dividir a construção em oito blocos distribuídos de modo aleatório, cada um deles com acesso independente, mas com angulação que garante as melhores vistas e o máximo aproveitamento da ventilação e iluminação naturais. Um nono bloco abriga os elevadores, shafts e escadas, e concentra a saída de passarelas metálicas por onde se dá a circulação de pessoas e ocorre a sociabilização entre os moradores.
O resultado desse partido é a configuração de apartamentos onde a privacidade se iguala à de casas independentes. Com terraços de áreas generosas e amplo pé-direito, as residências têm plantas que variam de studios a triplex, e podem ter diversas configurações de planta. A área comum dos pavimentos superiores, por sua vez, e em especial as passarelas metálicas são banhadas pela luz do sol e pelo vento.
A memória coletiva da Vila Madalena também se faz presente na escolha dos revestimentos, onde predomina o concreto projetado - material rugoso e rústico, quase primitivo - na cor grafite, em uma clara reverência ao chapisco tão utilizado nas antigas construções do bairro.
O referencial histórico também se manifesta na cerâmica, como uma menção aos portugueses, primeiros imigrantes a ocupar a região. Azulejos azuis e brancos, como homenagem ao artista Athos Bulcão, estão distribuídos por todas as fachadas internas. Lisos e refletivos, eles dão vida às fachadas enquanto iluminam o centro do terreno. Camadas de gabião aparente complementam o conjunto e lhe conferem um aspecto brutalista.
A vegetação tem papel de destaque no projeto, tanto nos canteiros verdes que envolvem as passarelas metálicas suspensas quanto no nível térreo, onde a densidade verde cria uma atmosfera de floresta urbana sob o edifício. É como se o prédio brotasse sobre a mata de espécies nativas, que se abrem como uma praça em diálogo com a cidade. Nos dois acessos ao edifício, tal porosidade mistura o limite entre lote e calçadas, criando uma espécie de franja borrada entre público e privado, e revelando a generosidade do projeto como um todo.
"Projetamos o edifício da rua Arapiraca integrado ao entorno, mas, ao mesmo tempo, com uma presença marcante e inovadora", concluem os arquitetos da Triptyque Architecture.