"Como devemos talhar o sol / Dividi-lo e fazer blocos / Para construir um palácio rubro?", Wallace Stevens se perguntava em seu poema de 1918 Architecture for the Adoration of Beauty. Inspirado por estes versos, em seu ensaio The Room, the Street and Human Agreement, Louis Kahn escreveu da seguinte maneira: "Que pedaço do sol entra no seu quarto?". Este grande arquiteto passou toda sua carreira experimentando esses dois protagonistas: luz e sombra. A obsessão de Kahn com a luz, e em particular o controle dela, acabou por influenciar inúmeros arquitetos, inclusive a Peter Zumthor e Tadao Ando.
Kynthia Chamilothori compartilha desse fascínio. Formada em Engenharia e Arquitetura em 2014 pela Universidade Técnica de Creta, onde recebeu o Prêmio Limmat Stiftung Excellence, e atualmente cursando PhD no Laboratório de Desempenho Integrado em Design (LIPID) na EPFL, o projeto de pesquisa de Chamilothori investiga como os padrões de luz e sombra se refletem na forma como percebemos os espaços construídos. Enquanto Kahn e outros arquitetos ao longo da história confiaram basicamente em sua intuição, Chamilothori utiliza métodos muito mais científicos, trabalhando com uma ferramenta que naquele tempo não estava disponível para os grandes mestres: a realidade virtual.
Até agora, a aplicação mais comum das ferramentas de realidade virtual na arquitetura, tem sido principalmente na comunicação entre arquiteto e cliente. Muitos clientes acreditam que estas demonstrações representam uma grande melhoria para a compreensão das intenções projetuais de seus arquitetos. De outro modo, os estudos de Chamilothori funcionam de forma um pouco diferente - enquanto os projetistas criam experiências de realidade virtual para apresentar mais informações para seus clientes sobre o projeto, para Chamilothori a informação essencial é o feedback inconsciente que os testes fornecem durante esta experiência de realidade virtual. Uma de suas recentes investigações, na qual trabalha com seu colega Dr. Siobhan Rockcastle, consiste em procurar padrões enquanto monitoram os movimentos que os participantes fazem com a cabeça enquanto participam da experiência de realidade virtual em cenas com diferentes características arquitetônicas e de iluminação natural.
"Isto levanta uma série de perguntas interessantes", explica. "Que parte do campo de visão os participantes passaram mais tempo explorando? Esse comportamento varia com os espaços ou entre cenas com luz difusa ou iluminação direta? Existem padrões comuns nas áreas mais exploradas da cena? O comportamento sugere atração ou é evitada em relação a características particulares do espaço construído, como o contraste ou a distribuição de luz na cena?" Todas essas perguntas, no final, servem para responder a uma suposição inicial: "O comportamento sugere atração ou repulsão a características particulares do espaço construído, como os detalhes, o contraste ou a distribuição da luz na cena?"
O monitoramento destes movimentos não é o único mecanismo de feedback que pode ser investigado na realidade virtual. Em outro estudo, conduzido por Chamilothori em colaboração com Giorgia Chinazzo, as pesquisadoras buscam obter uma melhor compreensão do projeto da fachada, analisando os assuntos testados através de um feedback fisiológico dos usuários, com foco nas respostas que possam ser associadas ao estado emocional delas, como a condutividade da pele. Ela espera que "o resultado deste estudo possa aprofundar nosso conhecimento sobre como o ambiente construído afeta o corpo e a mente humana".
Apesar de seu extenso trabalho com a realidade virtual em sua pesquisa, quando se trata de projetar Chamilothori não é uma maníaca por tecnologia. Acredita que a realidade virtual é melhor utilizada em um estágio posterior no processo de projeto: "Na fase inicial do projeto, eu gosto da idéia de usar modelos ou esboços com formas e linhas ásperas que têm uma falta de precisão inerente. Eles permitem uma infinidade de interpretações e ajudam o processo criativo de exploração." A idéia é que a realidade virtual deve apoiar, não substituir, a intuição do arquiteto.
O objetivo final de Chamilothori é ajudar a arquitetura a se desenvolver além do puramente visual em algo mais fenomenológico. Ela está particularmente animada para ver o que o futuro reserva para a realidade virtual, e como as novas maneiras de avaliar o feedback fisiológico podem contribuir para o processo de projeto. "Eu acredito que o tato e a sensação térmica podem aprofundar ainda mais a sensação de presença no ambiente virtual. Imagine se você pudesse tocar diferentes materiais com os dedos, sentir o calor dos raios solares ou a diferença de temperatura ao explorar uma seqüência de espaços! E, ao mesmo tempo, monitorar as respostas fisiológicas das pessoas, desde a atividade cerebral passando pela condutividade da pele e finalmente como o olhar da pessoa percorre o espaço. Isso poderia proporcionar um imenso avanço em nossa compreensão de como a arquitetura influencia a percepção e o comportamento humano".
Este artigo foi redigido por Thomas Musca com a contribuições de Rory Stott.