Seminário Planejamento Urbano-Territorial no Século XX: Relações entre a Cultura Norte-Americana e a Cultura Urbanística Paulista

Às portas da terceira década do século XXI, ao olharmos para o século antecedente, acreditamos que alguns debates provocarão algumas reflexões, tais: “como chegamos aqui ?” e “o que faremos agora?”.

A problemática inicial está em periodizar o século XX. Este foi, por assim dizer, três séculos em um. Se pensarmos em ordem cronológica seria de 1901 a 2000. Porém, se retomarmos a definição de Eric Hobsbawm, tal período se dividiria em três partes:

- De 1901 a 1914. Seria ainda o século XIX;
- De 1914 a 1991: o século XX;
- A partir de 1991: o século XXI.

Acreditamos que aqui há uma questão metodológica instigante e necessária para a própria compreensão do que foi o século XX, visto que não há dúvidas de que estamos no século XXI. Por ora, analisaremos o período de 1901 a 2000, sabendo que ainda há um debate sobre a questão em aberto.

O século XX foi o século Americano. É indubitável que, em termos econômicos, políticos, culturais e tecnológico, os anos de 1901 a 2000, para a Cultura/Civilização Ocidental, foram comandados pelo país cujo nome é Estados Unidos da América (a bibliografia aqui é abundante). Para uns, os “americanos”, para outros, os “norte-americanos” e, ainda há quem diga, os “estadunidense”. Seja como for que se chame esse país e sua população, tal nação foi, no final das contas, o fiel da balança de um século em que a marca histórica da resultante, para o próprio ocidente, do conflito das duas forças (uma que apostava no “Coletivo” e outra que apostava no “Individual”) que buscavam apontar o caminho para gesta a riqueza (material e imaterial) que, conjuntamente, fora produzida pela Civilização Ocidental, foi desastrosa, sobre muitos aspectos. A prova disso são os dados levantados e analisados até aqui Esses apontam que o legado do século XX, para a História da Civilização Ocidental, foi, por um lado, de grande avanço em todos os aspectos. Porém, isso não resultou em uma socialização equilibrada do mesmo. Por outro lado, os ônus, perdas e prejuízos de todo tipo de sorte foram socializados de forma desequilibrada. Tais observações esclarecem o controle sobre a riqueza produzida no ocidente que ficou restrita a um número cada vez menor de pessoas. Aqui também há uma vasta bibliografia, ainda que dispersa. Além disso, o século XX presenciou uma explosão demográfica planetária, sendo considerado o Século do Urbano. Não tanto demográfica assim. As massas populacionais, no período, viviam em sua ampla maioria em cidades (conturbadas ou não), mas o modo de vida, a cultura, a sensibilidade dominante no Ocidente foi a urbana. Se tomarmos o epicentro da Civilização Ocidental como a Europa, haveremos de concordar que desde seus primórdios, Roma até o século XVII a grosso modo foi o “Centro do Mundo”; cedeu o lugar para Paris ao longo do século XVIII, sendo esta sucedida por Londres, metrópole do maior Império do século XIX. O século XX fez o Ocidente atravessar o Atlântico. Nova York é também conhecida como “a esquina do mundo”. Entretanto, cidades como Chicago e Los Angeles, talvez sejam mais representantes do amplo processo de urbanização engendrado pelo Estados Unidos da América, dentro e fora desse país.

Por outro lado, de forma periférica ou não, o Brasil faz parte da Civilização Ocidental. Desde 1500, quando teve início a amálgama resultante da coexistência (imposta pelo colonizador europeu) de três civilizações em um espaço geográfico entranhado no sul do Continente Americano, a qual chamamos de Brasil. Desde sua fundação, em 1549 até o Século XVIII, Salvador foi a expressão mais bem concretizada do processo de urbanização (em seu sentido mais amplo) engendrado então por essa amálgama. Esse “eixo” passou, inegavelmente, para o Rio de Janeiro no século XIX - de Capital da Coroa se tornou para Capital do Império e, depois, da República, só perdendo esse posto no século XX. Sobre muitos aspectos, o século passado, para o Rio de Janeiro, representou sua progressiva perda da hegemonia nacional. Aqui também, os dados levantados e analisados até então são abundantes, ainda que dispersos.

Por fim, temos como hipótese que, na linha argumentativa até aqui articulada, São Paulo seria, no Brasil, a expressão mais bem acabada do processo de urbanização (em seu sentido mais amplo) engendrado pelo Ocidente a partir da Segunda Revolução Industrial, em que o palco foi, em sua maior extensão, o século XX (nesse sentido, “O Longo Século XX”, como defende Giovanni Arrighi). Se considerarmos essa hipótese, precisamos investigá-la, debatê-la, para que sua pertinência seja verificada ou não. Intentamos, com esse Seminário, contribuir para que esse debate seja considerado. Pensando em produções acadêmicas com essa temática levantada, no ano de 2007, no âmbito do HSTTFAU / FAUUSP, o Grupo de Pesquisa coordenado pela Professora Doutora Maria Lucia Caira Gitay, foi organizado o Seminário: Construindo a cidade do Século XX: uma cidade americana? O objetivo era problematizar a produção social do espaço construído em São Paulo ao longo dos anos de 1901 a 2000, aproximando-a da cultura de planejamento urbano – territorial engendrada a partir do E.U.A.

Doze anos depois, o presente Seminário busca retomar essa discussão já. Procuramos aqui articular o século XX - como o século Americano - com o processo de produção social do espaço ideado, concebido, construído (material e imaterialmente) em São Paulo vem ser a questão geradora desse encontro. Compreendendo a cidade como uma das expressões de um amplo processo (econômico, político e cultural, viabilizado por um sistema técnico – cientifico que se especializa em um dado território) o qual chamamos de “Processo de urbanização”, buscamos entendê-la como a própria manifestação da civilização (ocidental ou não). A cidade como uma parte desse processo de divisão social do território, sendo a outra parte o campo, ao longo do Século Urbano, tornou-se assim o objeto preferencial para apreender o próprio processo civilizatório empreendido pelo Ocidente no período em estudo.

Nesse sentido, o presente Seminário propõe lançar um olhar sobre o processo de urbanização, sobre a cultura urbanística, sobre o próprio processo social de construção do espaço que teve lugar ao longo do século XX, inserindo-o no contexto mais amplo da cultura Ocidental de longa duração. O objeto de estudo é o estado de São Paulo, sendo o planejamento urbano – territorial o foco. Aproximar a cultura urbanística paulista da cultura urbanística norte-americana e da própria cultura urbanística do continente americano é o intuito final desse trabalho. E aqui defendemos a cidade como a principal protagonista dessa história.

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Cita: "Seminário Planejamento Urbano-Territorial no Século XX: Relações entre a Cultura Norte-Americana e a Cultura Urbanística Paulista" 29 Ago 2019. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/923929/seminario-planejamento-urbano-territorial-no-seculo-xx-relacoes-entre-a-cultura-norte-americana-e-a-cultura-urbanistica-paulista> ISSN 0719-8906

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