2020 foi sem dúvidas um ano marcado por transformações e novos paradigmas. Pela primeira vez na história após mais de 100 anos desde a Gripe Espanhola, enfrentamos uma pandemia que nos levou ao completo isolamento dentro de nossas casas. No que se refere ao campo do Design de Interiores, a quarentena fez com que milhares de pessoas em todo o mundo repensassem sua relação pessoal com o lar e diferentes espaços. No Brasil, apesar da alta em reformas e a aquisição de produtos da indústria moveleira, o segmento enfretou uma baixa, mas o Produto Interno Bruto (PIB) do setor da construção deve crescer 3,8% em 2021, de acordo com dados do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-SP) em parceira com a Fundação Getulio Vargas (FGV) publicados no site da Revista Época Negócios.
Debruçados sobre os projetos de interiores brasileiros publicados nos últimos meses, somado a nossa experiência diária em curadoria, mapeamos 22 tendências que apontam o caminho para o futuro do Design de Interiores no terrítório brasileiro em 2021 e nos próximos anos. Baseado na integridade da seleção realizada, dividimos em cinco grandes grupos conceituais: Cores; Acabamentos e Superfícies; Integração Espacial; Economia e Ganho de Espaço; e Materiais Construtivos ressignificados nos Interiores. Confira a seguir:
CORES
1. Pintura colorida no teto
Personalidade. Talvez essa seja a palavra-chave que definiu o uso de cores nas superfícies dos interiores em 2020 e que certamente perdurará pelos próximos anos. Se a priori, quando pensávamos em pintura, apenas as paredes pareciam-nos adequadas para receber o uso de cores, uma vez que geralmente nos concentramos ao que está na altura dos nossos olhos, agora, quem ganha destaque é o teto. Dizendo adeus a paleta variante do branco ao off-white, agora apresentam cores vivas, porém em tons fechados, evitando a aparência lúdica e infantil.
A composição também vai além e notamos a aplicação da tinta iniciando-se no rodateto ou vigas e em alguns casos, utilizando o mesmo Pantone da marcenaria no forro, criando uma superfície contínua e monocromática.
2. Marcenaria colorida em tons fechados
Mais cor, por favor! Sob o mesmo conceito abordado no tópico anterior, agora também é a vez do uso da cor na marcenaria. Foi-se o tempo em que predominava a marcenaria com acabamentos em tons neutros, e o uso da cor apenas nos objetos decorativos e mobiliários soltos. Com novos acabamentos disponíveis no mercado moveleiro – desde novas cores para as lacas e pintura eletrostática até laminados melamínicos –, o uso da cor tem crescido nos projetos de marcenaria.
Vale ressaltar que assim como na pintura, neste caso também predominam os tons fechados, superando o revival da estética De Stijl com o uso de cores primárias, ou tons pastéis aludindo ao mobiliário retrô, anteriormente já visto como antiga tendência na última década. Destacam-se o azul índigo, azul petróleo, berinjela, marsala, laranja abóbora, mostarda e ocre.
3. Lavabo monocromático
Se anteriormente o lavabo era o ambiente residencial (ou dos espaços comerciais) com menor investimento e frequentemente com revestimentos alvos, nos últimos ganhou tamanho destaque graças à intensa oferta de variedade de produtos e acabamentos na indústria, tornando-se um dos espaços com maior personalidade.
Como tendência, o Monocromatismo, ou seja, a aplicação de uma única cor em todo o espaço está se tornando muito popular. A dica é utilizar azulejos com cores sólidas sobre as paredes e pintar ou revestir o forro e piso em um material no mesmo Pantone.
ACABAMENTOS E SUPERFÍCIES
4. Tintas de pigmentação natural
As tintas naturais são aquelas compostas, em termos gerais, a partir da mistura de pigmentos vegetais – aqueles extraídos de folhas, sementes e terra – que conferem cor à substância e aglutinantes responsáveis pela união das partículas e garantindo aderência à superfície.
Esteticamente, aludem à ideia das habitações primitivas ou indígenas e de tribos africanas, que utilizam os elementos vegetais como fonte da extração de tinta para pintura do artesanato e moradias. Com isso em mente, designers de interiores e arquitetos têm apostado no essencial, criando espaços minimalistas e valorizando as nuances e texturas deste material.
5. Terracota
Evocando o aconchego proveniente da natureza, os tons terrosos estão de volta, especialmente o terracota! Em 2020, cores e texturas remetendo ao terracota voltaram novamente ao rol de revestimentos favoritos dos arquitetos e designers. Nos azulejos, cobogós, e tons dos tecidos de sofás e poltronas, parece ser a paleta ideal, uma vez que é neutra e permite ser combinada com madeira, concreto aparente, couros marrons, cobre e aço corten.
6. Estofados com costura em gomos
Cabeceiras, sofás, poltronas e cadeiras apresentam novos shapes e maior conforto com a simples mudança no padrão da costura tradicional por aquela em gomos, que ainda permitem que peças modulares extensas tenham a ideia de unidade, uma vez que as junções estarão camufladas entre os gomos.
7. Ladrilho hidráulico como revestimento de móveis e painéis
De origem remota ao Império Bizantino, originalmente utilizado para ornamentação de pisos e paredes, o ladrilho hidráulico ainda é um material frequentemente utilizado. Mas agora seu uso vai além das superfícies arquitetônicas e muitos profissionais têm aplicado as peças modulares sobre mobiliários fixos, como é o caso dos bancos, mesas e bancadas em alvenaria, numa versatilidade de padrões, cores e composição.
Vale ressaltar que azulejos cerâmicos pintados manualmente e mais frágeis, também podem ser utilizados em substituição ao ladrilho tradicional para revestir pequenas peças, como mesas laterais e de centro.
Já para aqueles mais ousados, os ladrilhos são excelentes alternativas para o revestimento de paredes e portas em painéis modulares, criando superfícies homogêneas quando fechados.
8. Luminárias minimalistas em latão
Com linhas simples e silhuetas puras, as luminárias adotam a estética minimalista como ponto-chave, prevalecendo apenas o essencial. No que diz respeito à materialidade, destaca-se o latão com pintura eletrostática semi brilho preta ou ainda escovada em cobre ou dourado.
9. Louças e metais pretos
Com a crescente pesquisa em inovação no Mercado de louças e metais, para além do design das peças, os novos acabamentos e texturas têm surgido nos últimos cinco anos. Vale salientar que o apreço brasileiro pela estética do design nórdico, que tem ascendido nas feiras de Design na Europa, permitiu que no que se refere aos banheiros – residencial e público –, a resistência pelo novo agora permite que os tradicionais metais em aço inox escovado e louças brancas brilhantes, deem espaço aos acabamentos preto fosco ou semibrilho.
INTEGRAÇÃO ESPACIAL
10. Painéis de marcenaria
A madeira é sem dúvidas um dos materiais mais utilizados no design de interiores, uma vez que assegura qualidade estética somada a sensação de conforto aos espaços. No entanto, também é matéria-prima à marcenaria, que especialmente no Brasil, torna-se fundamental no desenvolvimento das mais variadas soluções a funcionalidade do espaço.
Além disso, é sabido que historicamente a arquitetura brasileira sempre teve certo apreço a ideia de integração, seja através da relação interior-exterior, ou dos diferentes ambientes e partições residencial, sendo este último surpreendentemente cada vez mais explorado por arquitetos e designers de interiores.
Os painéis em marcenaria é um dos elementos que em 2020 ganhou destaque e marcou presença em dezenas de projetos, através de um impressionante leque de soluções: com portas de correr; de abrir; padrão camarão; giratórios; com texturas lisas; rugosas; ripados; padrão muxarabis; entre outros. Mas dentro da grande variedade de soluções, uma característica em comum esteve presente em grande parte deles: a camuflagem, permitindo ocultar portas de acesso a diferentes ambientes, armários e infraestrutura.
No que diz respeito as texturas, aqueles com superfície opaca, são os mais indicados quando pretende-se camuflar integralmente portas de acesso a ambientes e espaços de armazenamento. Mas, caso a ideia seja criar privacidade, ao mesmo passo assegurar a permeabilidade visual ainda que fechados, indica-se ripados e padrão muxarabi.
11. Caixilhos e painéis em serralheria
Limitar, mas integrar é sempre um desafio. Diferentemente dos painéis de marcenaria apresentados no item anterior, que tem por objetivo a integração total quando abertos, os painéis e caixilhos em serralheria têm sido projetados e utilizados como elementos fixos, mas que, no entanto, recebendo vidro, ora incolor, ora texturizado, permite certo nível de privacidade sonora ao passo em que assegura permeabilidade visual.
12. Sofá bilateral
Como setorizar o espaço sem necessariamente a adição de uma parede? Essa é a pergunta que muitos profissionais tem feito. Mas, dispensando elementos fixos em substituição, como painéis, caixilhos ou cortinas, designers de mobiliários tem se concentrado na criação de peças modulares com a possibilidade de serem remodeladas em layouts dos mais variados possíveis para diferentes ocasiões. Esse é o caso dos sofás bilateral.
Com esta peça, o living residencial (sala de estar, sala de TV, sala de jantar), que certamente é o espaço da casa onde passamos a maior parte do tempo, ganha fluidez no layout mediante a concentração do espaço de estar e TV no mesmo ambiente, integrado, mas livre de limitadores físicos.
13. Banheiro integrado ao dormitório
Como já vimos em alguns dos tópicos anteriores, a diluição dos limites físicos entre os espaços, tornando-os perenes a permeabilidade visual e integração é sem dúvidas um dos itens requeridos no design de interiores. Mas, engana-se quem pensa que isso se aplica exclusivamente as áreas sociais. Nas áreas privadas, como é o caso dos dormitórios, as paredes da suíte são substituídas por vidros ou materiais diferentes no piso.
ECONOMIA E GANHO DE ESPAÇO
14. Área de serviço reduzida ao mobiliário
Com empreendimentos residenciais cada vez menores, dedicar um cômodo inteiro à área de serviço parece ser certo desperdício espacial. Por outro lado, reduzir esse ambiente ao máximo, a apenas um eletrodoméstico como é o caso da lava e seca, e integrá-la junto a marcenaria parece ser a melhor opção, permitindo ampliar a cozinha ou o living, áreas fundamentais no lar e que permanecemos a maior parte do tempo.
Projetualmente torna-se possível integrar o eletro a marcenaria de maneira aparente ou ainda, de modo mais sofisticado, em armários com porta de correr, abrir ou camarão, apenas atentando-se a abertura do eletrodoméstico, frontal ou superior.
15. Camas dobráveis e de correr camufladas no espaço
Em apartamentos compactos, cada centímetro é importante! É com isso em mente que profissionais tem investido em trilhos, roldanas e dobradiças como sistemas ideais capazes de melhor aproveitamento e transformação do espaço em poucos segundos. Esse é o caso das camas! Sendo o mobiliário com maiores dimensões no lar, se combinadas com ferragens e um bom projeto de marcenaria, podem, como num passe de mágica, serem ocultas em poucos segundos, poupando espaço e permitindo melhor aproveitamento do mesmo.
16. Cabeceira como home office
Com a necessidade (e conscientização) de permanecer em casa em prol da quarentena decorrente do novo coronavírus, milhares de pessoas em todo o mundo tiveram de readaptar a própria casa ao novo espaço de trabalho. Mas, com empreendimentos cada vez menores, e com a necessidade latente de adaptação, a criatividade tornou-se a chave da solução. Neste contexto, as áreas de trabalho tornam-se menos formais e outros ambientes residenciais deram espaço aos chamados home offices. Isso levou ao aparecimento de pequenos nichos de trabalho somado a marcenaria multifuncional, mas uma a solução que chamou mesmo a atenção foi a adaptação da cabeceira das camas como escrivaninha, apoiando pequenas bancadas ou criando-as num sistema refinado com tomadas embutidas sobre o estofado.
17. Canto Alemão no living
Solução frequentemente vista em projetos comerciais de bares e restaurantes, o popularmente chamado “canto alemão” – sofá ou banco disposto diretamente sobre a parede junto à mesa de jantar –, propiciando economia espacial, uma vez que dispensa circulação de ambos os lados, tem ganhado protagonismo nos projetos residenciais, especialmente nos pequenos apartamentos.
Explorado em uma variedade de soluções, desde projetos especiais de marcenaria linear contínua para os bancos, viabilizando receber gaveteiros e espaços de armazenamento na área inferior, até armários com nicho central que acomodam espaço para se sentar.
18. Varandas como espaços fundamentais
Talvez nunca se tenha percebido tanto a importância da varanda quanto em 2020. Com o isolamento dentro de casa decorrente da pandemia do novo covid-19, o que antes era um espaço negligenciado e frequentemente incorporado ao living dos apartamentos, com a nivelação do piso e a retirada dos caixilhos, agora se provou verdadeiramente um espaço utilitário, independente, mas integrado.
Pesquisas indicaram o aumento na procura por apartamentos com varandas e o espaço antes dedicado exclusivamente ao churrasco dos finais de semana, agora se torna espaço cotidiano fundamental, ora dedicado a pratica da yoga ou de exercícios físicos matinal, ora como espaço social aos cafés da manhã e almoço, ou ainda como home office.
MATERIAIS CONSTRUTIVOS RESSIGNIFICADOS NOS INTERIORES
19. Mobiliários em concreto
Ressignificar o uso dos materiais, quebrando os “rótulos”, parece ser o futuro do design de interiores, e esse é certamente o caso do concreto. Se a priori, durante décadas, foi utilizado exclusivamente ao desenvolvimento estrutural arquitetônico, agora tem sido explorado no desenvolvimento de mobiliários fixos anteriormente desenvolvidos em madeira ou pedra, a exemplo das bancadas de cozinhas e áreas de serviço, bancos e estantes, apresentando alta durabilidade e baixa manutenção.
20. Estantes em chapa metálica
Durante muito tempo a madeira foi eleita como matéria-prima ideal no desenvolvimento do mobiliário fixo residencial. Mas, assim como abordado no tópico anterior, novos materiais antes vistos apenas na construção civil foram apropriados ao design. Este é o caso das chapas metálicas. Se anteriormente, víamos frequentemente nas estruturas metálicas ou ainda num refinado desenho, dobrada, nos degraus de escadas, agora, são tendência como materialidade em estantes. Com alta resistência e durabilidade, possuem um bom desempenho na sustentação de cargas a despeito de sua leveza e esbeltez.
21. Mobiliário Suspenso
É fato que a arquitetura brasileira sempre esteve intimamente conectada ao elemento ar, sob a ideia de volumes pousados sobre delgadas estruturas e parecendo flutuar. Viabilizando novas visadas e sob a busca por estruturas que parecessem desafiar as leis da gravidade. Esse mesmo ideal parece ter influenciado arquitetos modernos no desenvolvimento de mobiliários aos seus projetos residências, em peças com pés esguios, por exemplo. No entanto, esse ideal tem atingido outro patamar na atualidade, com extensas estruturas que verdadeiramente parecem flutuar, uma vez que suspensas por cabos de aço e engenhosas estruturas nas lajes, liberando a área inferior.
22. Marcenaria, mobiliário e acessórios com linhas orgânicas
Apesar da ainda prevalência da racionalidade das linhas retas, nota-se um pontapé do que seria a volta do mobiliário com linhas fluidas e da organicidade na marcenaria e móveis soltos. Explorando a chamada “curva livre e sensual” de Niemeyer, o mobiliário ganha linhas ameboides tanto em superfícies bidimensionais, quanto tridimensionalmente, através da exploração de técnicas de curvatura da madeira e de avanços na indústria moveleira. As linhas curvas também se destacam na tapeçaria.