"Para que serve a utopia?", perguntaram uma vez a Fernando Birri, cineasta argentino. "A utopia está no horizonte —disse Birri—. Eu sei muito bem que nunca a alcançarei. Porque se eu caminho dez passos, ela se distanciará dez passos. Quanto mais eu a busque, menos a encontrarei. Porque se vai distanciando à medida que eu me aproximo. Pois a utopia serve para isso: para caminhar."
Os mapas que apresentaremos neste artigo dizem muito mais do que nós possamos escrever. Quase todas as capitais do Brasil invadiram suas ruas com pessoas. Como sonhou uma vez o escritor uruguaio Eduardo Galeano, "os cachorros esmagarão os automóveis". Dessa vez, foram as próprias pessoas, com seus pés, suas mãos e suas vozes, que esmagaram os carros. Nesses dias de manifestações e protestos, as cidades brasileiras foram devolvidas a seus habitantes. Milhões de pessoas caminharam por primeira vez e de maneira única a sua cidade. As ruas foram, nesses dias, grandes parques lineares, grandes passeios da cidade.