A arquitetura e urbanismo são possibilidades de materializar o porvir. No entanto, como desenhar um futuro comum, mas manter o porvir aberto a significações e em constante movimento a partir dos sujeitos que dele se apropriam? Como a(o) arquiteta(o) pode entender-se parte do movimento de revalorização dos espaços coletivos? Como usar dessa ferramenta para distribuir poder: construir uma democracia direta e um comportamento livre a partir da participação na vida cotidiana? Como reconhecer a relação como ferramenta de construção de uma arquitetura da liberdade?
Marcella Arruda
Arquitetura da liberdade: práticas projetuais urbanas a partir da relação do corpo com o existente
A reinvenção do comum e da vida cotidiana
Com o sentido perdido, as cidades buscam novos significados. Hoje dependemos das redes sociais digitais para acessar bens comuns como cultura, lazer, encontros significativos - mas como podemos usufruir das tecnologias para permitir o direito à cidade em tempos de pandemia? Vivemos um movimento global de diminuição do ritmo do desenvolvimento urbano: o esvaziamento das cidades na Índia, o êxodo urbano na França, o retorno às menores cidades e às áreas rurais, onde há menor densidade populacional e maior qualidade de vida. O que significa a cidade se não a promessa do acesso aos bens comuns que ela oferece?
Até onde vai sua autonomia? Sobre a emergência de práticas de envolvimento
As presentes reflexões emergiram do SENEMAU, Seminário Nacional de Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo, que aconteceu em Uberlândia, Minas Gerais, entre 9 a 18 de agosto de 2019. O encontro nacional que acontece desde 1997 reuniu 12 coletivos de estudantes de diversas cidades do país em uma imersão sobre a extensão universitária, o papel social e político dos arquitetos e urbanistas. O encontro autogerido pelos estudantes realizou uma mostra de trabalhos, debates sobre temas diversos, e vivências em territórios de interesse na cidade.
Onde cidade, arquitetura, autonomia e educação se encontram?
Desde as manifestações de 2013, vive-se claramente um processo de retomada da noção de público no Brasil e em especial nas metrópoles como São Paulo. Em um contexto de especulação e de uma cidade mercantilizada, onde espaços assim como serviços públicos passam a ser atravessados pela intenção de acumulação de capital, e diante de uma realidade em que o poder público é somente poder (nada tem de interesse público), é possível perceber um movimento crescente de reapropriação dos espaços da cidade por parte de atores antes invisibilizados.
Cultivando territórios comuns: encontros para autonomia
Considerando que 90% das cidades são construídas sem arquitetos e urbanistas, quais são os reais arquitetos que estão imaginando e construindo o mundo que queremos viver? Quais os modos de produção, os materiais, os modos de relação e reprodução social que são praticados por esses coletivos e apontam caminhos de futuros possíveis, inclusivos, diversos, justos e ecológicos? Quais arquiteturas existem para instigar a liberdade, a colaboração, a co-responsabilidade, o cuidado consigo, com o outro e com o espaço que habitamos?
Inovação social e participação cidadã: a ativação do Parque Linear do Canivete
Nos próximos 20 anos, 45% do território urbano deverá ser espaços públicos (ruas, parques e praças), de acordo com os dados da ONU Habitat. Qual será a qualidade destes espaços? Quais atores se responsabilizarão pela sua gestão? É relevante no Brasil e no mundo o movimento de reapropriação dos espaços públicos pelos habitantes da cidade. O direito à cidade está em pauta e, no centro dele, muitos cidadãos estão se propondo a participar ativamente das decisões em relação à sua cidade ou, mesmo, em atividades cotidianas de melhora dos espaços públicos.
Arquitetura para autonomia: ativando territórios educadores
O Escola Sem Muros surge de um desejo por outras práticas possíveis e formas alternativas de aprender e se relacionar: com o outro, com os muros da cidade, com o potencial educador existente em cada território e sujeito. Pessoas que se juntaram por um propósito comum: ir além das barreiras físicas, sociais e políticas; abrir brechas na brutalidade urbana e nos formatos educacionais que segregam mundos. Sua metodologia é baseada na aproximação (valorização da identidade local), construção (o canteiro de obra como plataforma de aprendizado) e cuidado (gestão compartilhada de espaços públicos e estruturas de cuidado), propondo um processo de educação integral.