A escolha de Kéré não é apenas simbólica em um momento de demandas identitárias, onde as instituições que compõem o mainstream enfim começam a representar mais fielmente as realidades sociais, culturais e sexuais que compõem nossas sociedades, mas também confirma a abordagem mais recente do júri do Prêmio Pritzker.
Diébédo Francis Kéré fundou seu escritório, Kéré Architecture, em Berlim, Alemanha, em 2005, após o início de uma trajetória defendendo a construção de uma arquitetura educacional de qualidade em seu país de origem, Burkina Faso. Desprovido de salas de aula e condições de aprendizagem adequadas quando criança, e enfrentando a realidade da maioria dos jovens estudantes do país, seus primeiros trabalhos foram o resultado da busca por soluções tangíveis para os problemas que a comunidade enfrentava.
“Através de edifícios que demonstram beleza, modéstia, ousadia e invenção, e pela integridade de sua arquitetura e gesto, Kéré defende graciosamente a missão deste Prêmio”, diz o comunicado oficial do Prêmio Pritzker de Arquitetura. Anunciado hoje por Tom Pritzker, presidente da The Hyatt Foundation, Francis Kéré é o 51º vencedor do prêmio criado em 1979, sucedendo Anne Lacaton e Jean-Philippe Vassal. Elogiado por ir além dos limites do campo disciplinar, o arquiteto atua simunltaneamente em Burkina Faso e na Alemanha.
A história e a arquitetura de Burkina Faso são duas coisas profundamente vinculadas à paisagem natural deste pequeno país da África Ocidental. Geograficamente, Burkina Faso ocupa um extenso planalto com savanas e algumas florestas esparsas. Mais de dois terços da população ainda vive em comunidades rurais e, como tal, a arquitetura contemporânea burquinense é o produto da engenhosidade do seu povo, desenvolvida através da apropriação de sistemas construtivos e materiais locais ao longo do tempo.
O arquiteto Diébedo Francis Kéré foi contemplado com o Prince Claus Laureate Award de 2017, destacando o valor cultural de sua arquitetura, além da qualidade estética, sustentável e empoderadora.
Fundada em 1996, o Fundo Príncipe Claus para Cultura e Desenvolvimento acredita que a "cultura é uma necessidade básica" e procura apoiar os esforços individuais e coletivos em áreas culturais onde historicamente o acesso tem sido limitado. Os prêmios anuais possibilitam o reconhecimento de conquistas extraordinárias nessas áreas, especialmente voltado à pessoas e grupos que operem na África, Ásia, América Latina e Caribe. Tanto a qualidade do trabalho quanto as suas contribuições culturais, seja no contexto local ou em esferas mais amplas, além do impacto social, desempenham um papel crítico na tomada de decisões do comitê. O juri, composto por especialistas de várias disciplinas, incluindo música, artes visuais, curadoria, cinema, arquitetura e urbanismo, são responsáveis por selecionar, a partir de uma lista de mais de 140 candidatos, sete premiados e dois grandes prêmios.