Nesse âmbito, muito se fala sobre as diferentes técnicas vernaculares empregadas na arquitetura, seja a produção dos tijolos em adobe, os telhados de palha, as paredes trançadas de bambu, entre muitas outras. No entanto, enquanto a técnica vernacular concentra-se em ações ou habilidades específicas, seu significado difere das tecnologias vernaculares.
O filme "Vida sobre as Águas" (2023), com direção principal e pesquisa da arquiteta Danielle Khoury Gregorio, será exibido na Mostra Ecofalante de Cinema, o maior e mais importante festival cinematográfico socioambiental da América do Sul. O filme também participará da SEMEIA – Semana do Meio Ambiente do Museu do Amanhã.
Das casas sobre palafitas às moradias flutuantes, o documentário destaca a arquitetura única das comunidades ribeirinhas da Amazônia, e as adaptações engenhosas para lidar com as paisagens inundadas das planícies fluviais amazônicas brasileiras, desafiadoras e em constante transformação. O filme revela as técnicas de construção coletiva que materializam uma arquitetura
O documentário "Mesquita de Abijo", lançado recentemente, explora a jornada de projeto e construção da Mesquita de Abijo em Lagos, Nigéria. O documentário oferece uma narrativa detalhada do processo projetual e do contexto cultural que envolve a nova estrutura. Projetada pela Patrickwaheed Design Consultancy (PWDC), a mesquita é um exemplo da integração de materiais tradicionais com a arquitetura contemporânea. Além disso, o projeto da Mesquita de Abijo ajuda a promover a "linguagem arquitetônica nigeriana".
Desde o surgimento do modernismo, os arquitetos têm enfrentado um dilema ao lidar com a realidade do tempo. Isso se torna um problema, pois o tempo e a gravidade são duas forças universais. Os arquitetos são extremamente bons em lidar com a gravidade — ela está presente em tudo o que projetamos e realiza uma dança simbiótica com a estrutura. Não importa o quanto um projeto simule a ausência de peso, sua massa não pode ser negada. Os arquitetos devem enfrentar a gravidade, seja nas varandas da Casa da Cascata de Frank Lloyd Wright, ou nos edifícios paramétricos potencializados pelos softwares da atualidade.
Ao falar sobre práticas de criação de espaços, arquitetos e urbanistas geralmente pensam em planejamento participativo e processos colaborativos, muitas vezes ignorando as maneiras pelas quais as próprias comunidades podem se tornar agentes de mudança. Como as pessoas possuem um conhecimento íntimo não apenas do ambiente, mas também das normas sociais e culturais, das necessidades de suas comunidades e das oportunidades latentes em seu entorno, muitas vezes são elas que iniciam ações, apoiam seus pares e contribuem positivamente. O escritório de pesquisa forty five degrees se propôs a explorar essas iniciativas de base, conhecer os moradores locais e reunir suas histórias em uma ação para obter uma melhor compreensão dos territórios culturais complexos e diversos em toda a Europa. Sua jornada, organizada sob o projeto "Radical Rituals", segue a linha paralela 45°N que atravessa a Europa de leste a oeste. O escritório foi selecionado como parte das Novas Práticas de 2023 do ArchDaily, uma pesquisa anual destinada a mostrar aqueles que enfrentam os desafios cada vez maiores de nosso tempo e levam a arquitetura a novas direções.
A arquitetura contemporânea, como disciplina e prática, jamais nasce do zero. Os projetos realizados hoje são baseados numa série de experimentações que ocorreram desde o primeiro momento que a humanidade começou a conceber os espaços de habitação e convívio. Numa costura intrínseca entre costumes, tradições, materiais locais e técnicas construtivas, surgiram as arquiteturas ancestrais e vernaculares. A influência do contexto e da cultura de cada população pode ser de grande inspiração para profissionais da arquitetura na contemporaneidade que, ao olhar para o passado, conseguem responder eficientemente ao futuro.
À medida que os desafios impostos pelas mudanças climáticas aumentam em número e intensidade, aumenta também a necessidade de encontrar práticas de construção sustentáveis que se conectem aos ecossistemas e meios de subsistência, em vez de prejudicá-los. Embora muitas vezes negligenciada na busca por inovação, a arquitetura vernacular pode oferecer respostas para questões contemporâneas. Essa linha da arquitetura não apenas depende de materiais disponíveis localmente, mas também do conhecimento indígena das condições locais, como orientação solar, padrões de vento, necessidades de ventilação e comportamento dos materiais ao longo do tempo. A Dra. Sandra Piesik, diretora e arquiteta da 3 ideas e fundadora da HABITAT Coalition, explora esse potencial em seu novo livro,Habitat: Vernacular Architecture for a Changing Climate [Habitat: Arquitetura Vernacular para um Clima em Mudança].
Enquanto os arquitetos egípcios exercitavam seu entendimento do modernismo no tecido urbano na década de 1970, uma "rebelião" na forma da Vila Badran desafiava as formas padronizadas e a geometria rígida. Gamal Bakry mergulhou profundamente em sua imaginação para construir esta obra única que ainda faz parte da cidade do Cairo. Com fachadas curvas e fluídas, a Vila Badran se inspirou em formas naturais. Na tentativa de criar um espaço mais natural em sua essência, a intervenção consiste em uma composição monolítica que abriga uma casa de dois pavimentos projetada para uma família.
Quando falamos de arquitetura vernacular, na maioria dos casos, estamos nos referindo a uma forma de se construir específica de uma determinada região—ou uma arquitetura que incorpora sistemas construtivos e materiais locais. As características que definem a arquitetura vernacular, portanto, variam enormemente de lugar para lugar, compreendendo exemplos que vão desde as Casas Colmeias de Harran, na Turquia, às tradicionais casas malaias encontradas em todo o sudeste da Ásia. Dito isso, a arquitetura vernácula continua sendo hoje uma das principais fontes de inspiração para muitos arquitetos e arquitetas ao redor do mundo.
Em Mendoza, na Argentina, o laboratório de pesquisas em fabricação digital Nodo 39 FabLab criou uma estrutura-bastidor de tecido feita em madeira cortada digitalmente com telas e pontos para facilitar o processo de tecelagem e composição iconográfica dos indígenas da região central do país. No interior do Ceará, Brasil, por meio de uma pesquisa intitulada “Artificies Digitais” da Universidade Federal do Estado, fez-se o uso de ferramentas de fabricação digital, mais especificamente a impressão 3D, para a obtenção de modelos digitais das partes danificadas do retábulo do altar-mor da Igreja Matriz da cidade de Russas, sendo possível a produção de próteses digitais para sua restauração.
Quando fluxos migratórios não se dirigem a grandes centros urbanos surge a manifestação de uma arquitetura espontânea para suprir a necessidade de abrigo e proteção, função primordial de uma habitação. O uso de técnicas que se adaptam e improvisam com os materiais disponíveis no local traz novas possibilidades de imaginar a arquitetura e o modo como o humano desenvolve o entorno para servir a seus desejos e necessidades. Na impressionante Chapada Diamantina, em Igatu, o garimpo levou aproximadamente trinta mil pessoas para morar numa região distante e sem infraestrutura, impondo à criatividade humana o desafio de solucionar a questão de moradia, que foi respondida através da interação com o próprio entorno: as pedras.
O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Tecnologias Indígenas, o Tecnoíndia, criado pelo professor da UFMT, José Afonso Botura Portocarrero, arquiteto com doutorado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, e pela antropóloga aposentada pela UFMT, Maria Fátima Roberto Machado, doutora pelo Museu Nacional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, está lançando uma nova obra, reunindo artigos produzidos ao longo de 20 anos de pesquisa e ensino sobre tecnologias e arquitetura indígenas em Mato Grosso.
https://www.archdaily.com.br/br/960435/ufmt-lanca-livro-sobre-tecnologias-e-arquiteturas-indigenas-em-mato-grossoEquipe ArchDaily Brasil
Em vidas passadas eu fiz um mestrado em semiótica e aprendi a prestar atenção nas palavras que escolhemos. Por exemplo, abra qualquer livro de arquitetura brasileira e você lerá alguns subtítulos que ajudam a organizar cronologicamente nosso espaço construído: Arquitetura Indígena, Arquitetura do Brasil Colônia, Arquitetura do Brasil Imperial, Arquitetura Moderna Brasileira, Arquitetura Contemporânea no Brasil. Notaram a sutil diferença, a palavra Brasil que dá nome a esta terra aparece em todos os períodos pós colonização mas não naquele que é justamente o modo de construir original deste lugar.
A arquitetura moderna do Marrocos, a qual tem se desenvolvido rapidamente ao longo das últimas décadas devido ao recente desenvolvimento econômico do país, encontra-se profundamente enraizada nas tradições construtivas locais. Tendo o vernacular como principal fonte de inspiração, a arquitetura moderna marroquina assume a origem de seu próprio nome árabe al-maġhrib, ou seja “lugar onde o sol se põe; o oeste”. O Marrocos é um estado soberano com uma rica cultura arquitetônica e uma vasta história, contando com inúmeros e excepcionais exemplos de arquitetura tradicional islâmica.
Uma construção impressionante foi erguida em Rudrapur, um vilarejo no norte de Bangladesh. Foram usadas técnicas e materiais locais para dar forma ao espaço que surgiu para suprir uma importante demanda. Batizado de Centro Anandaloy, o primeiro andar funciona como um centro de atendimento a pessoas com deficiência.
O projeto venceu o Prêmio OBEL 2020, uma premiação internacional que homenageia as contribuições arquitetônicas notáveis para o desenvolvimento humano em todo o mundo.
A arquitetura vernacular pode ser definida como uma tipologia de caráter local ou regional, na qual são empregados materiais e recursos do próprio ambiente onde a edificação está inserida. São, portanto, arquiteturas diretamente relacionadas ao contexto, influenciadas e atentas às condições geográficas e aspectos culturais específicos da sua inserção e, por esse motivo, surgem de modo singular nas diversas partes do mundo, sendo consideradas, inclusive, um dispositivo de afirmação de identidades.
Descolonizar. Provavelmente você já ouviu essa palavra, mas se não fizer ideia do que se trata, talvez possa imaginar que tem a ver com colonização. Nós brasileiros, conhecemos bastante o que é colonização: fomos colônia de Portugal por muito anos, falamos português, comemos bacalhau na Páscoa e somos em grande maioria católicos por conta disso.
Já entender a palavra descolonizar é compreender que a colonização não trouxe só heranças linguísticas, religiosas e culinárias, mas também envolveu muita exploração: culturas foram apagadas, líderes locais foram mortos, riquezas foram roubadas e memórias destruídas.