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Arquitetos: MRM Arquitectos; Miguel Alonso Flamarique, Roberto Erviti Machain, Mamen Escorihuela Vitales
- Área: 1917 m²
- Ano: 2011
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Fotógrafo:Mikel Muruzabal
Descrição enviada pela equipe de projeto. Descrição da Obra
A localização isolada do cemitério e do próprio município, sobre a encosta de San Martin, define alguns critérios arquitetônicos de projeto em grande escala, baseada na relação com a paisagem e a ausência de continuidade formal e funcional com a morfologia urbana do povoado. A arquitetura do cemitério insere-se no território como uma nova marca, referência física do mesmo.
A formalização do programa passa através do invólucro do novo cemitério com muros reinterpretados a partir dos existentes. Modeladores da própria paisagem, adaptam-se a ela, à sua topografia, contendo-a e apenas delimitando-a, côncavas e convexas, como ecos corbuserianos formais, incorporando seus pontos de vista, a paisagem e o céu genérico, integrados nela.
As novas paredes reordenam e reescrevem, agregam novos significados e ressignificam o conjunto partindo da preexistência da parede do velho cemitério. A transparência parcial do mesmo permite uma mediação na relação com a paisagem e evita sua percepção massiva e fechada.
Apesar da estaticidade intrínseca ao programa, a obra adquire um enorme dinamismo ao ser percorrida, ativando-se de alguma maneira no percorrer. Descobrem-se relações com o entorno, onde qualquer caminho é uma sucessão de sequências cambiantes, desenhando distintas percepções e permitindo a releitura e compreensão da mesma paisagem.
A fábrica é construída sóbria, com um esqueleto semi-enterrado, presença da ausência que ali cresce, que guarda e contém o tempo de todos e seu próprio, representado em cada peça do bloco colocada. A parede não somente está, mas seu próprio tempo ocorre cada vez que apresenta-se ante nós.
Critérios Compositivos e Paisagísticos
O projeto surge a partir da redefinição de um espaço interno tradicionalmente fechado, desocupado e subutilizado da paisagem, para através da concepção de um limite descontínuo menos impermeável, melhorar a continuidade da paisagem, ventos, luz e natureza, elementos imutáveis da paisagem e tempo.
Uma arquitetura carregada de relações que deriva suas formas das mesmas. A oposição positivo-negativo, côncavo-convexo, espaço-matéria, permite extrair dessas considerações o projeto paisagístico.
As paredes construídas se despojam de revestimentos e apresentam-se na estrutura pura, esvaziados de qualquer construção desnecessária ou acabamentos, percebendo-se assim, as qualidades anteriormente descritas. Desta maneira, evoca com a sua forma a metáfora da presença das ausências que permanecem em nossa memória e que ali enterradas, crescem.
Estas paredes suavizam ou eliminam as esquinas como processo de adaptação orgânica final para com a natureza da trama urbana passando pelo antigo cemitério. O cemitério existente modifica-se nos dois extremos para habilitar uma nova comunicação interna e um depósito de cadáveres coberto.
As formas da parede descontínua, iluminada e com material descontextualizado obstrui seu binômio função-forma habitual, permitem a leitura de uma intenção de projeto que pretende estar acima de seu uso, forma e práticas construtivas habituais.
Programa de Necessidades
O programa proposto consiste na expansão do espaço reservado para sepulturas para 100-120 na superfície, 60 nichos e 31 columbários, assim como a reorganização dos exteriores e a relação formal e funcional com o cemitério existente.
Critérios Funcionais e de Jardinagem
A nova expansão adiciona dois novos espaços mais recolhidos, mais íntimos e duas áreas abertas, além do espaço modificado do cemitério existente.
O desenho das paredes permite manter a topografia atual do lote evitando terraplanagem e a construção de muros de contenção muito agressivos à paisagem. Como não trata-se de um muro fechado em si, permite a inclinação e árvores descenda naturalmente para dentro do cemitério, favorecendo a integração na paisagem nativa existente.
As paredes que se articulam e definem a proposta são como vidros que, através de uma maior ou menor transparência, garantem a privacidade quando necessário.
Os fechamentos do cemitério deixam passar a vegetação progressivamente em alguns lugares. Na zona central e no contorno foram replantadas árvores nativas na encosta, oferecendo no interior outros tipos de árvores mais ornamentais.