O novo edifício para o Museo Regional de Atacama busca ser emblemático e representar com personalidade regional e flexibilidade arquitetônica, o que é a região do Atacama e seus mais de 16 mil anos de história.
A seguir, apresentamos o projeto ganhador do primeiro lugar no Concurso para o novo edifício, proposta da equipe de Máx Núñez Arquitectos, que se inspira nos processos que deram forma à geografia do lugar: um volume pesado e maciço, fissurado por rasgos irregulares tal como ocorre com o efeito da erosão no deserto.
O deserto do Atacama é uma das regiões mais desoladas do planeta. O efeito da radiação solar faz desta latitude uma zona extremamente árida, onde a vida natural é escassa e valiosa.
As esporádicas precipitações, durante milhares de anos, rasgaram as planícies desérticas pelo efeito erosivo da água. Este lento processo gerou fissuras, rachaduras e barrancos onde a reunião de água e sombra tornam a vida possível. É assim como nos barrancos do norte aparecem os primeiros oasis e zonas de pasto que permitem estabelecer assentamentos humanos mais permanentes. São estes lugares protegidos na profundidade de um barranco ou um vale sombrio que logo deram lugar a povoados e cidades, como ocorreu com o Rio Copiapó e a cidade que alí fundou José Antonio Manso de Velasco (1744).
O projeto para o Museo Regional de Atacama é inspirado nestes processos que deram forma à geografia e vida desta parte do Chile. O projeto é compreendido como um grande volume preenchido, maciço e pesado, fissurado por rachaduras irregulares que permitem a entrada de ar e luz, possibilitando a vida no interior do edifício.
Dado seu carácter monolítico, tectonicamente o projeto se assemelha a uma grande rocha: uma pedra esculpida que em seu interior protege os tesouros da região. Uma paleta cromática de materiais ocres e terracota permitirão associar o colorido do edifício com os tons de Cerro de la Cruz e a geografia do Vale do Copiapó. Por sua vez, esta qualidade rochosa é uma referência direta com as riquezas mineiradoras características da Região do Atacama. Em seu interior, superfícies em marca d'água criadas por paredes que agem como cobogós de blocos de argila, e conferem uma qualidade distinta ao edifício. Mais leves e texturizadas, estas superfícies permitem a passagem de luz indireta e uma ventilação ótima para estas latitudes, mantendo a continuidade monolítica do edifício.
O projeto constrói virtualmente os 12,6 metros permitidos por lei na totalidade do terreno, solucionando a fachada principal frente à Alameda Manuel Antonio Matta com uma fachada contínua. Embora hoje ainda não está constituída a fachada contínua nesta quadra da Avenida, se considera fundamental que este Museu de caráter estatal e público mantenha a fachada contínua e marque a pauta para futuras construções. Com isso poderá se consolidar a qualidade deste bairro tradicional de Copiapó e a relevância do vazio urbano da rambla da Alameda.
A fachada contínua é construída por duas camadas de materiais, um primeiro pavimento térreo de 4,5 metros de altura, construído de concreto aparente pigmentado com óxido de cobre e um segundo corpo superior de blocos de argila, onde se alternam perfurações de tamanhos diferentes. Esta estratificação de materiais definem uma fachada clara, legível, e uma imagem pública duradoura. Dados seus materiais, estas superfícies envelhecerão de maneira digna e não irão necessitar manutenção.
A fachada principal, monolítica e hermética, se vê interrompida ou fraturada por 3 fissuras. Uma primeira quebra no extremo norte do terreno permite acesso ao estacionamento subterrâneo (único lugar possível para gerar o acesso veícular sem necessidade de derrubar as árvores existentes na calçada. Logo, um rasgo central não muito largo corta verticalmente o edifício e serve de acesso público ao Museu. Por último, um terceiro rasgo penetra a camada superior do programa e abre os escritórios da administração (no 2o pavimento) e uma parte da área de exposições do Museu (no 3o pavimento) em direção à rua. Esta fachada austera e opaca esconde o conteúdo do Museu mas também sugere o rico mundo interior que cria o edifício.
Acessando pela ranhura principal o visitante é introduzido num espaço incomum. Um vazio vertical esbelto, de cor terracota, de 12,6 metros de altura que penetra em direção ao interior do edifício. Este pátio interno, parcialmente coberto, tenta remeter às proporções espaciais, lumínicas e sonoras de um vale, gerando uma distância e a atmosfera necessária para mediar entre a intensidade da cidade e a história que deve transmitir o Museu à seus visitantes.
Uma vez dentro, o pátio interior é uma grande ante-sala pública à céu aberto de 280 m². Este espaço é uma prolongação do vazio da Alameda em direção ao interior da quadra e permite um amplo acesso para os visitantes. Esta superfície privilegiada serve como um terraço público e é utilizada pelo café do Museu. A sombra projetada pelas altas paredes perimetrais se complementará com a presença de uma grande árvore de folhas perenes. Por sua vez, o pátio central e seu papel articulador do edifício, cria uma forte relação entre este novo Museu Regional e a casa neoclássica e Monumento Nacional (1979) que hoje é sede do Museu na Rua Atacama. Ambas as construções, separadas por quase 200 anos, se organizam a partir do mesmo esquema tradicional, próprio da arquitetura chilena.
O Museu se organiza em torno do pátio central em quatro níveis.
No primeiro nível está localizada a Recepção Pública Geral a todas as dependências do Museu, a bilheteria, a loja do Museu, a cafeteria aberta, os banheiros, o acesso à Biblioteca e à Sala Introdutória Interativa. O hall de acesso se caracteriza por seu vazio de pé direito triplo de quase 12 metros, onde estarão pendurados os restos ósseos de um cetáceo que faz parte da coleção da área de paleontologia do Museu. A partir desta área, dois pavimentos superiores de Adiministração são conectados verticalmente por uma escada e um elevador de acesso restringido para o público geral.
O segundo pavimento é um nível de acesso restringido já que aqui é onde está a Adiministração do Museu, os escritórios, laboratórios, refeitório e zonas de descanso dos funcionários. A geometria irregular da planta permite acolher os departamentos diferentes em zonas independentes e martê-los vinculados à vida do Museu e à seus visitantes através dos vazios interiores e os diferentes pátios. Todas os rasgos que rompem o volume do edifício permitem criar vãos que iluminam e ventilam todos os recintos de trabalho de forma natural por pelo menos uma orientação.
No terceiro pavimento estão dispostos os espaços de exibição do Museu. A planta de geometria irregular permite ter uma grande planta livre, contínua, em torno do pátio central, e diferenciada por tamanhos diferentes. A planta irregular tem a flexibilidade da planta livre, mas com diferentes lugares e recantos que permitirão diferenciar as distintas áreas de exibição e caracterizar seus conteúdos. O percurso desta planta se organzia como uma sequência de espaços, mais ou menos contínuos, em torno do pátio central. Isto permite definir um ponto de acesso e um de saída, e fazer a exibição compreensível num só nível a qualquer visitante.
Concurso
Museo Regional de AtacamaPremio
Primer LugarArquitetos
Localização
Copiapó, Atacama, ChileArquiteto Responsável
Max Núñez ArquitectosEquipe de Projeto
Max Núñez, Stefano Rolla, Nicolás Stutzin, Santiago Valdivieso, Justus Menten, Tomás Tironi, Solene Veysseyre, Enrique IrisoArquiteto Associado
Nicolás StutzinCliente
DIBAMÁrea
6000 m²Ano do Projeto
2013Fotografías
Cortesia de Max Nuñez Arquitectos