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Arquitetos: HS Arquitetos
- Área: 9616 m²
- Ano: 2006
Ícone da edificação religiosa, a cobertura de linhas ascendentes estimula a meditação e a busca da espiritualidade, como se fosse um manto que, singelamente lançado sobre a construção, abriga a nave principal, capelas e área de apoio, além de definir os acessos ao santuário.
Região que acolheu Amabile Visintainer quando ela imigrou com sua família, de Trento, na Itália, para o Brasil, no século 19, o bairro de Vígolo, em Nova Trento, SC, presta uma homenagem à madre que se tornou a primeira santa brasileira. Inaugurado 15 anos depois de concluído o processo de beatificação (etapa anterior à canonização, que ocorreu em 2002, ambas sob o pontificado de João Paulo II), o Santuário de Santa Paulina expressa o trabalho concebido pelo escritório HS Arquitetos, que, por meio da releitura da arquitetura sacra tradicional, procurou representar, em composições geométricas e volumétricas, a simplicidade que permeou a vida da religiosa.
O programa desenvolve-se integralmente sob uma cobertura modulada a cada 7,5 metros, de caimento em duas águas, com desenho que remete visualmente às tradicionais vestimentas de algumas ordens religiosas. São três setores distintos - nave principal, capelas e área de apoio -, além de circulações e acessos. Estes são marcados pelo movimento da cobertura, nas laterais da nave principal, onde se localizam as capelas, e pela torre central, representando a Santíssima Trindade, na entrada. A nave possui planta de formato cônico, permitindo a visualização do altar por todos os fiéis. A sacristia, localizada em ponto estratégico, tem fácil ligação com altares, capelas e confessionários.
“A forma ascendente da cobertura tem como propósito a busca da espiritualidade e a meditação, realçadas pela entrada de luz filtrada na parte mais alta. A iluminação e a ventilação naturais, através de faixa contínua no eixo central da cobertura, buscam a criação de um espaço repleto de luz vinda das alturas, como forma de inspiração à meditação e às preces”, afirmam os arquitetos. O ar entra por janelas laterais, circula pelo interior do templo e sai pelo lanternim central.
A solução construtiva atendeu às necessidades de amplitude dos espaços, com o objetivo de manter a nave e as capelas totalmente isentas de interferências visuais. Para isso foram eliminados pilares internos e suavizada a forma das vigas metálicas aparentes. A estrutura principal é composta de pilares de concreto moldado in loco, duas vigas de concreto protendido e estrutura metálica para apoio da cobertura.
Instaladas a 28 metros do piso, as vigas paralelas de concreto protendido apóiam-se em dois grandes pilares, a leste e a oeste da edificação. Elas vencem vão livre de 56 metros, equivalente a toda a profundidade da nave principal e capelas, e servem, também, para sustentar o lanternim. Apoiadas nos pilares das extremidades e nas vigas protendidas, as vigas metálicas aparentes, do tipo caixão, de apoio da cobertura, vencem vãos de 35 metros.
Para evitar variações bruscas de temperatura e minimizar o ruído externo, principalmente na ocorrência de chuvas, a cobertura termo-isolante foi construída com sistema de telha zipada, que oferece duplo isolamento termoacústico com lã mineral. Na parte inferior da cobertura, chapas de alumínio perfuradas funcionam como forro e também colaboram com a acústica do ambiente. A escolha dos materiais construtivos recaiu sobre elementos puros, que atendem às exigências de fácil manutenção e vida útil prolongada. Estas foram condicionantes do projeto, uma vez que o santuário foi projetado para receber cerca de 3 mil pessoas na nave principal, 150 na capela de Santa Paulina e mais cem na capela do Santíssimo. Para integrar o ambiente de orações à natureza do entorno, proporcionando amplitude visual da mata atlântica, no vale do rio Tijucas, os arquitetos optaram pelo envidraçamento das fachadas.
A face principal recebeu vidros laminados do piso ao teto. “Por se tratar de um santuário, o desejo inicial dos autores era utilizar um vidro azul de baixa reflexão, para permitir a integração interior/exterior”, explica a arquiteta Cláudia Mitne, gerente de marketing da Glassec. Mas os produtos disponíveis no mercado tinham reflexão interna muito elevada. “Com as luzes acesas, principalmente à noite, o reflexo traria desconforto”, afirma a arquiteta.
A solução veio com a utilização do vidro Azul Energy Special, que, mesmo não sendo refletivo, atendeu à cor especificada pelo projeto e às solicitações de conforto térmico. A fachada structural glazing é composta por 680 metros quadrados daquele produto, laminado de oito milímetros, e 570 metros quadrados no padrão opaco. Na face leste, foram aplicados 24 metros quadrados de vitrais.
Tinha-se como premissa de projeto a leveza e a segurança da construção, tornando o ambiente integrado à paisagem e, ao mesmo tempo, protegido. Como quesito para a especificação, foram definidos vidros laminados, partindo-se, então, para composições distintas em cada fachada, em função da incidência solar.
O acesso ao santuário ocorre por escadaria ou rampa, ficando a aproximação de veículos restrita a ocasiões especiais e a pessoas portadoras de deficiência física. A rampa começa na praça central, onde está localizada a igreja original de Santa Paulina. O percurso de veículos também tem origem na praça, passa por vários monumentos comemorativos e circunda o templo, possibilitando o embarque e o desembarque na área.
Texto resumido a partir da reportagem de Cida Paiva. Publicada originalmente em FINESTRA. Edição 45, Abril de 2006.