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Arquitetos: SANAA
- Área: 20455 m²
- Ano: 2012
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Fotografias:Christian Richters, Julien Lanoo, Human Wu, Nicole Berganski
Desenvolvimento do Campus Vitra
Após 1993 - ano que o Pavilhão de Conferências de Tadao Ando e a Estação de Bombeiros de Zaha Hadid foram completados, seguidos pela dedicação de Álvaro Siza na Fábrica Vitra um ano mais tarde - nenhum edifício novo foi erguido no Campus Vitra em Weil am Rhein por mais de uma década. Uma nova fase de expansão começou em 2006 com projeto assinado por Herzog & de Meuron e a equipe de japoneses do SANAA. Aos arquitetos de Basel foram confiados o projeto da VitraHaus num local fora da produção efetiva na parte Norte do Campus. A VitraHaus, que inaugurou no começo de 2010 serviu como um veículo de apresentação para a Vitra Home Collection e marca a entrada das premissas da companhia aliados ao Museu Vitra Design, de Frank Gehry. SANAA começou então a planejar um edifício para a produção da Vitrashop - uma empresa de montagem de lojas dentro do Grupo Vitra - na parte sul do Campus. O término destes dois novos edifícios também alcançam a reestruturação parcial do Campus através da separação logística operacional do trânsito do público visitante. O eixo central que leva à Estação de Bombeiros de Hadid é agora principalmente utilizado por visitantes, enquanto as entregas e despachos são principalmente encaminhados através da estrada de acesso, que se situa no lado leste das instalações.
A escolha de SANAA
Ao escolher SANAA para este projeto, Vitra continua a estratégia desenvolvida para os 25 anos anteriores de comissionamento de renomados arquitetos contemporâneos internacionais com a expansão do Campus. O escritório SANAA (Sejima and Nishizawa and Associates) que foi fundado por Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa em Tókyo em 1995, inicialmente havia estabelecido sua reputação com as estruturas residenciais e pequenos edifícios de museus no Japão. Na primeira década do século 21, eles completaram um grande número de projetos de destaque na Europa e América do Norte, incluindo a Escola de Zollverein de Administração e Design, o Teatro e Centro Cultural em Almere, o Pavilhão de Vidro no Museu de Arte de Toledo, o novo Museu de Arte Contemporâne em Nova York e o Centro de Aprendizagem Rolex em EPFL Lausanne. O ano de 2012 presenciou a abertura do Louvre Lens, um museu satélite do Louvre localizado próximo de Lille, no norte da França.
Rolf Fehlbaum, Presidente do conselho de administração da Vitra, explica seu interesse na abordagem arquitetônica de SANAA e os motivos que levaram à seleção da equipe japonesa: embora imbuído de leveza e precisão, sua arquitetura não é definida pelo formalismo rígido, originalidade trabalhosa ou minimalismo moralizante. Fehlbaum reconhece a característica fundamental na "remoção de tudo que não é essencial" - em outras palavras, a redutividade que finalmente dá forma visível para os requisitos do edifício em sua estrutura e arquitetura.
Uma das qualidades da arquitetura de SANAA é de fato a análise das necessidades espaciais e funcionais complexas e a vontade de desenvolver plantas correspondentes estritamente redutivas, que quebram as hierarquias tradicionais e oferecem liberdade no uso dos espaços. Um exemplo é o Museu de Arte Contemporânea do século XXI em Kanazawa de 2004, cujas galerias de vários tamanhos, formas e proporções, juntamente com as salas funcionais adicionais, são incorporados no espaço de circulação definido pelas paredes de vidros arredondados do perímetro, proporcionando uma grande variedade de opções para a apresentação de exposições.
Instalações de produção sem um modelo prévio a ser seguido
Quase todos os principais projetos que SANAA completou até agora foram edifícios para instituições culturais ou universidades. Em Weil am Rhein - com o primeiro edifício industrial a ser desenhado por SANAA - a ideia é empregar uma abordagem semelhante para a construção de um galpão de produção.
A planta para a nova estrutura foi iniciada pelo desejo dos administradores de Vitra em substituir um antigo edifício da fábrica próximo ao sul das premissas que sobreviveram o grande incêndio de 1981, com apenas danos leves. O edifício existente não só foi demostrando a sua idade, mas também era pequeno demais para as demandas atuais. As novas instalações deveriam fornecer 20.000 metros quadrados de área útil de piso - comparados aos 12.000 metros quadrados da estrutura antiga.
O brieffing arquitetônico apresentado à SANAA pela administração da empresa especificou a divisão do espaço total em quatro áreas separadas que poderiam operar independentemente umas das outras, mas também forneceria condições ótimas para operações que solicitassem o uso do espaço inteiro. Após fazer uma análise detalhada do brieffing, SANAA sugeriu que as decisões preliminares fossem revisadas, substituindo os quatro volumes ortogonais que eram correlatos ao grid existente do Campus com um edifício circular. Essa proposta, que primeiramente poderia parecer incomum, era baseada na constatação que os métodos de logística e produção não mais aderem aos princípios estritamente hierárquicos, mas sim, requerem flexibilidade. Isto era especialmente verdadeiro no caso dos futuros ocupantes da nova instalação, a loja de montagem da empresa Vitrashop. Embora essa empresa utilize principalmente componentes padrão nos interiores que cria para os clientes de varejo e comercial, os elementos são customizados para se adequar às especificações e desejos dos clientes individuais. Isso contradiz um fluxo estritamente linear de bens e métodos de fabricação. Consequentemente, o interior do pavilhão é dividido em duas zonas diferentes: o setor norte fornece armazenamento de altos racks para materiais entregues além de bens e produtos semi-acabados; o setor central é reservado para operações de montagem; e o setor sul contém área de armazenamento para produtos acabados antes das entregas. A configuração circular do edifício permite o carregamento e entrega de mercadorias em locais completamente diferentes, de modo que o fluxo de tráfego no interior do corredor é reduzida, optimizada e simplificada. A zona de montagem no centro do edifício também pode ser configurada em uma variação que atenda novas exigências com base em ordens atuais.
Uma configuração circular é incomum para um edifício de fábrica, mas todas as condições em Weil favoreceram esta solução, tanto que SANAA conseguiu convencer o cliente a aceitar sua proposta. Outra característica ideal da estrutura circular é a relação proporcional da área da superfície da fachada com o volume do espaço interior.
Com um diâmetro de mais de 160 metros, o pavilhão de produção redondo - que na verdade não circunscreve um círculo exato - cobre uma superfície maior do que qualquer outro edifício no Campus Vitra. Medindo 11,4 metros de altura, o pavilhão contém um subsolo para armazenamento na metade sudoeste com um espaçoso estacionamento subterrâneo e várias salas de apoio. O edifício foi erguido em duas fases para minimizar interferências com operações diárias. A primeira estrutura semi circular foi construída próxima à antiga fábrica, que foi consequentemente demolida para dar lugar ao correspondente a segunda metade que completa a planta. A fachada e a parede do diâmetro que separa as duas metades do edifício são feitas de elementos de concreto pré fabricados. Posicionados como retângulos verticais, os elementos de concreto da parede dupla foram preenchidos in loco, portanto se conectam um ao outro. Devido às enormes dimensões do perímetro, não foi necessário que os elementos individuais fossem curvos. Junto com a parede central, a forma circular cria uma estrutura perfeita, rígida, que contém uma armadura ortogonal de aço em seu interior. A construção do telhado está apoiada em colunas de aço de 9,5 metros de altura, posicionados numa malha baseada em unidades de 17,5 x 22,8 metros. Já que as paredes exteriores em concreto amarram a estrutura, foi possível minimizar as dimensões das colunas internas.
Uma das maiores dificuldades para os arquitetos era encontrar uma solução para a instalação da tecnologia do complexo de edifícios - eletrônicas, ventilação, drenagem do telhado, dispersores de água, que estão distribuídos em diferentes configurações ao longo do espaço interno - que fosse compatível com os componentes de filigrana da estrutura de suporte do pavilhão. Este problema foi resolvido com precisão impressionante, resultando em interiores que são claramente diferentes dos típicos espaços fabris. Os arquitetos não trataram esse interior como um espaço flexível e multifuncional dentro de um envelope da fachada, mas sim como um aspecto central do desafio arquitetônico. Cada detalhe, desde os parafusos das prateleiras de estocagem, revelam as intenções de projeto dos arquitetos, que não deixaram nada ao acaso. Excelentes condições de iluminação contribuem à atmosfera agradável para o trabalho no pavilhão, graças ao ritmo de repetição dos elementos da iluminação zenital na cobertura. Eles são aumentadas por janelas individuais situadas na parte superior da fachada. Outro elemento essencial para a qualidade da atmosfera interior é a radical redução na utilização de cor. Vários tons de cinza e branco definem os espaços interiores, enquanto que as cores de destaques de sinalização tão comuns aos interiores industriais típicos estão completamente ausentes.
O sistema de prateleiras, o qual está posicionado em filas paralelas que seguem o grid estrutural do interior - juntamente com a parede central e janelas fracamente distribuídas - proporciona um sentido de orientação num edifício com enormes dimensões. O sistema de armazenamento de racks pode ser removido ou reconfigurado conforme necessário. Os setores de carga e descarga estão dispostos em ambos os lados do edifício em espaços ao longo da fachada que também abriga escritórios. A disposição radial das paredes das partições é quase imperceptível devido ao grande diâmetro do pavilhão. Dependendo das necessidades futuras, os espaços de carga e descarga podem ser transformados em escritórios e vice-versa. Uma oficina para atividades de emissão de ruídos intensivos ou de altos decibéis é a única outra sala fechada no lado leste do pavilhão, o deck superior aberto serve como uma área de lounge.
Fachada de Cortina
A concepção da fachada, cujos elementos estão suspensos frente ao isolamento externo das paredes de concreto e engloba todo o volume edificado representou um grande desafio. Os elementos da fachada são de acrílico com uma superfície ondulada, medindo 1,8 metros de largura e 11 metros de comprimento - igual à altura do edifício. A camada externa do acrílico é completamente transparente, enquanto a camada interna é de coloração branca opaca. Os painéis individuais foram fundidos primeiramente em folhas planas, em seguida, aquecidos a 60 graus Celsius e moldados a vácuo para criar a estrutura ondulada. Uma vez que nenhum fabricante capaz de moldar peças nessas grandes dimensões pôde ser encontrado, um forno tinha que ser especialmente construído para esse fim.
Uma das principais preocupações dos arquitetos era evitar uma repetição visual óbvia. Por esse motivo, foi desenvolvido três elementos diferentes com padrões ondulares variáveis, de dobras mais estreitas alternando com mais largas. Já que os painéis suspensos - cujo sistema de montagem é oculto - pode ser rotacionado 180 graus e montado em cada extremidade, isto resultou numa série de seis tipos distintos. O objetivo era configurar sua disposição de maneira que evitasse o reconhecimento do padrão repetitivo que também conforma perfeitamente as aberturas na fachada (janelas, áreas de carga e descarga, portas).
Apresentando uma aparência homogênica de certa distância, com uma aura quase surreal devido a sua luminosa superfície branca, a fachada ganha vivacidade e profundidade à medida que se aproxima do edifício. Uma vez que só é possível ver apenas uma parte de todo o volume, o edifício parece ser muito menor do que realmente é. Dá uma impressão de leveza e transparência, mesmo que não permita vistas para o interior. Pelo contrário: o edifício continua a ser um enigma, revelando quase nada sobre sua função. O caráter quase imaterial do pavilhão da fábrica é enfatizado pelo fato de que, do lado de fora, apenas a envoltória da fachada - sugestivo de um revestimento têxtil - é visível, enquanto as paredes exteriores, telhado e estrutura permanecem escondidos.
Visto do exterior, não é possível reconhecer - ou mesmo suspeitar - que a geometria da planta baixa deriva de um círculo perfeito; ainda que talvez essa inconformidade é inconscientemente perceptível. Assim como SANAA evita o uso da simetria clássica em sua arquitetura, frequentemente utilizam figuras geométricas levemente distorcidas. Isto pode fazer um apelo aos conceitos estéticos de wabi sabi, a noção japonesa que imperfeição e consumação estética não são necessariamente contraditórias. As formas sutis do 'Jogo de Chá Alessi' (2004) por SANAA aponta nesta direção. Fazendo referência ao seu projeto para Vitra, Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa também comentam sobre a transferência de parte da vivacidade inerente ao desenho à mão livre, que sempre está no início de seu processo de projeto, para a realidade de cálculos de computador. Ou, em suas próprias palavras: "A minha impressão é que o círculo, o círculo perfeito, é um pouco rígido demais".