Elemento conhecido da cultura artesanal brasileira, o fuxico tem origem um tanto nebulosa. Poucos se arriscam a afirmar e dar apenas uma possibilidade para o surgimento do objeto em si e do momento em que passou a ser conhecido como fuxico.
A origem deste curioso pedacinho de pano parece ter se dado nas senzalas dos engenhos de açúcar do nordeste, onde as escravas eram, muitas vezes, obrigadas a costurar as roupas a partir de restos de tecido e roupas velhas, herdadas da casa grande.
Produzidos do norte ao sul do país e de identidade eminentemente brasileira, o fuxico saiu do artesanato popular para virar roupa de grife e ganhar o mundo. O módulo unitário e sua flexibilidade para adquirir as mais diversas formas, cores e texturas conquistaram caminhos poucas vezes trilhados por uma manifestação popular. Ainda assim, este pequeno notável continua sendo um produto autenticamente popular, bastante representativo dentro de nossa rica cultura.
A idéia de transformar o fuxico em móvel vem justamente de sua flexibilidade. Seu uso corriqueiro, que prima pela multiplicidade, transformou o fuxico em matéria prima para colchas, cortinas, bolsas, sapatos, vestidos e muito mais. O conceito deste projeto é aplicar esta idéia ao design, permitindo que o usuário possa conformar vários tipos de móvel a partir de um módulo único.
O ponto de partida é a explosão de escala, criando uma unidade matriz capaz de gerar diferentes tipos de combinação. Dessa forma, o fuxiquinho transformou-se numa almofada que pode ser usada individualmente ou em conjunto, conformando, a depender da montagem, um pufe, um colchão ou uma cadeira. O fuxicão respeita a construção do fuxico tradicional, uma espécie de “saco”, formado por uma linha puxada na extremidade de um círculo de pano de cerca de dez centímetros.
Seguindo este raciocínio, aqui o fuxico transforma-se numa almofada, confeccionada em espuma, posteriormente colocada numa capa de brim colorido que obedece ao mesmo princípio: um fio perimetral que, ao ser puxado, encerra o saco. A forma final é moldada pela almofada, um cilindro de sessenta centímetros de diâmetro e cerca de quinze centímetros de altura.
A unidade pode, então, assumir diversas funções: o pufe, formado pela sobreposição de três almofadas, o colchão, formado pela disposição horizontal das almofadas, ou mesmo uma cadeira de leitura. É peça fundamental do conjunto, como em qualquer peça que faça uso de fuxicos, a linha de costura. No caso do fuxicão, a linha também participa da explosão de escala, tornando-se uma corda naval de fio natural com diâmetro de 15 milímetros.
A criatividade é uma grande aliada do fuxicão. As almofadas e as cordas de amarração, que podem ser confeccionadas e oferecidas nos mais diversos comprimentos, são matéria prima para uma série de possibilidades. É possível ter um pequeno sofá ou um confortável assento para dinâmicas de grupo que utilizam o chão. Um aliado para as brincadeiras de roda das crianças, dentre outras possibilidades.
Tudo isso sem perder o bom humor e o prazer de redescobrir, dentro do cotidiano, a nossa cultura, as nossas tradições.