- Ano: 2012
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Fotógrafo:Federico Cairoli
Descrição enviada pela equipe de projeto. As cidades contemporâneas se moldam como resultado da disputa entre as vontades do estado, representante (teórico) dos cidadãos, e do Mercado. A luta entre estes atores condiciona, para bem ou para mal, a imagem urbana e a vida de todas as pessoas. Essa relação condicionante da macro escala pode ser lida análogamente na escala micro, em cada um dos edifícios que compõe esse cenário urbano. Todo edifício configura um ecossistema no qual, desde seu nascimento como interesse imobiliário, até sua materialização como habitat das pessoas, coexistem interesses que determinam por um lado o fim lucrativo de seus agenciadores e por outro o conforto e a qualidade de vida dos habitantes. Tal equação define um produto no qual o desejo de maior retorno financeiro resulta inversamente proporcional à qualidade de vida dos futuros moradores.
Em nosso caso a figura de arquitetos promotores traz a possibilidade de situar-se em ambos lados da equação. Nesta posição, nos propusemos a levar as características intrínsecas da escala urbana que conduzem a uma melhor convivência do bairro, traduzida ao interior do edifício. E cabe a nós arquitetos e construtores dessas micro realidades urbanas enfatizá-las ou ignorá-las. A partir disto, preferimos projetar mais que um edifício de apartamentos, ou conjunto de unidades, mas uma vizinhança em altura.
Esse projeto se inscreve em uma linha de empreendimento nos quais tentamos verificar em maior ou menor medida essas questões. Fundamentalmente, o que configura os espaços comuns, tal como ocorre na cidade, é o âmbito de não pertencer a ninguém e ao mesmo tempo pertencer a todos. Espaços menosprezados pela visão imobiliária ao considerá-los como "não vendáveis", produzindo com frequência lugares extremamente privados de luz natural, ventilação e visuais. Em oposição a isso, tomamos como premissa gerar espaços comuns completamente abertos, que sem deixar de ser eficientes na visão do construtor por conta de metragens excessivas, reproduzam as principais características de qualquer vereda da cidade. Esses espaços de convivência pública são os principais responsáveis de promover uma melhor vida em comunidade.
A conjugação de duas plantas tipo diferentes, em quantidade e localização em altura, gera distintas variáveis formais que buscam adaptar-se às mudanças que todo projeto de inversão sofre em seu processo. Ambas as opções de planta se conformam em torno de um vazio central, que em um ou outro caso se abre para frente, para o lado ou à parte de trás. Permitindo visuais diferentes pontos em cada nível e ventilando todo o conjunto desde seu interior. Ao localizar em dito espaço central circulações verticais e horizontais, se busca deslocar o núcleo típico fechado e escuro por um vazio que se dilata em múltiplas direções e deixa entrever desde diferentes pontos da cidade a estrutura interna de um conjunto habitacional que aspira converter-se em vizinhança.