- Área: 456 m²
- Ano: 2012
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Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
Descrição enviada pela equipe de projeto. A solução desenvolvida, inserida numa parcela com uma área de 917.00 m2, apresenta-se inserida num aglomerado de características predominantemente rurais, caracterizado pela dispersão das construções, diversidade de escalas e de tempos de atuação, assim como pela falta de unidade visual da paisagem.
Apresenta, contudo, condições de salubridade que resultam da exposição solar, da área e das altimetrias apresentadas, nomeadamente na relação de domínio perante as parcelas contíguas e, desta forma, registando uma relação privilegiada que permite a expansão visual e física da habitação proposta, em relação ao seu logradouro.
A habitação desenvolve-se em três níveis, sendo que em dois deles existe uma relação visual e física com o terreno exterior e no último piso, a relação com o logradouro é meramente visual, procurando atingir a amplitude visual máxima possível, a Sul e Poente.
Os acessos e espaços de serviço da habitação são geridos no piso intermédio, havendo como que uma propositada interposição destes com o espaço público de estar (situado no último piso) e os espaços de uso individual (situados no primeiro piso).
A solução potencia o espaço de acesso automóvel e pedonal a partir do caminho existente a Poente, libertando uma área coberta que encaminha as pessoas para o átrio da habitação, a Sul, permitindo o usufruto das vistas do jardim, possibilitando que o espaço de refeições e estar se volte para Nascente e que os espaços de serviço como lavandaria e cozinha se voltem para Norte, com acesso directo ao logradouro.
O nível inferior, gerido às custas duma artificialização da topografia, cria uma espécie de pátio, voltado a Sul, que se mantém de nível até intersectar-se com o talude que provoca o encontro com o terreno contíguo.
Este espaço, sendo de uso mais restrito, permite uma abordagem mais expansiva para o logradouro, se bem que a relação visual acontece predominantemente com os elementos naturais existentes no próprio terreno - os quartos desenham o alçado, acusando a sua predominante individualização através da modulação e divisão dos vãos exteriores.
Finalmente, o nível superior, espaço de estar por excelência, embora gerido com sub-espaços com características específicas, vocaciona-se quase totalmente para o usufruto das vistas que a envolvente oferece, havendo quase como uma triagem e propositada orientação dos espaços com relação para o exterior.
O desfasamento volumétrico dos vários níveis constituintes da habitação assim como a integração do nível inferior numa espécie de talude "naturalizado", permitem subtrair algum excessivo peso volumétrico da habitação tal como criam um certo dinamismo que valoriza a solução em si mesma.
A criação de um pátio de ventilação e iluminação no nível dos quartos, permite também evidenciar o peso visual, funcional e material da escada interior, elemento transversal aos três pisos que ganha desta forma uma maior preponderância.
Formalmente, a proposta acusa alguma despreocupação na assunção de convencionalismos, muito embora a volumetria tente interagir e integrar-se com a envolvente próxima. Esta abordagem procura evidenciar também relações com o meio não construído, nomeadamente pela adoção de soluções construtivas que possam envelhecer à medida do sítio, explorando as futuras patines e colorações a que os materiais se sujeitarão.
Exteriormente propõe-se uma cobertura maioritariamente em zinco, com alguns espaços ajardinados/pavimentados (situação do acesso pedonal, acima do volume do nível inferior), paramentos verticais em betão aparente, com vãos em vidro e estrutura de alumínio acetinado, assim como estrados exteriores em madeira, material que acaba por gerar o volume semi-enterrado da piscina exterior.
Interiormente, a predominância de paramentos rebocados e pavimentos em soalho de madeira darão lugar a um revestimento de pedra natural em zonas de serviço, permitindo que a materialidade da construção em geral se possa traduzir numa simplicidade aparente de recursos, valorizando a unidade e homogeneidade.
O projeto apresenta também uma gestão do espaço exterior à construção que se pretende que assuma uma vertente fortemente natural, com a implantação de espécies arbóreas diversas, incluindo um pátio de acesso à garagem e uma rampa de acesso pedonal à habitação e dois espaços de esplanada, vocacionados como apoio ao espaço de estar e aos quartos.
A materialização procura evidenciar algum despretensiosismo e uma certa acomodação à envolvente que, embora realizada com uma linguagem marcadamente contemporânea, não procura a ruptura, antes a continuidade.