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Arquitetos: Diego Guayasamin
- Ano: 2007
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Fotógrafo:Sebastián Crespo
Descrição enviada pela equipe de projeto. A escolha do terreno foi um processo longo e muito importante já que procurava-se um espaço diferente que potencializasse as expectativas do projeto, localizado nas imediações de Quito, ainda estando relacionado com a cidade, mas que atendesse a grande exigência de área. Esses objetivos se concretizaram em um lote no setor do Rancho San Francisco em Cumbayá. A localização implica uma complementaridade visual, uma presença significativa para a urbanidade local e uma vista privilegiada para o Vale de Cumbayá e arredores.
Uma vez que o lote possui grande declividade, o primeiro passo foi integrar o projeto à topografia e implantá-lo na parte mais elevada e predominante, ganhando altura. Aproveitando a queda do terreno foram desenhados taludes gramados que recebem a arquitetura proposta. As áreas sociais estão voltadas ao vulcão Cotopaxi. A área dos dormitórios está orientada diretamente com o sol da manhã e para a vista do Vale com a Cordilheira Oriental e os vulcões Antisana e Cayambe ao fundo. O escritório, a sala familiar e demais áreas internas voltam-se a um pátio interior dotado de um espelho d'água e de um obelisco desenhado pelo arquiteto Gustavo Guayasamin em referência aos marcos pré-colombianos, como um eixo vertical do projeto.
Como imagem, a casa é uma volumetria arquitetônica protagonista, dinâmica. É composta pela articulação de volumes brancos com ritmo claro e definido, paredes exteriores inclinadas, elementos que pretendem ser uma interpretação do entorno, especificamente da Cordilheira dos Andes. As coberturas têm o mesmo tratamento das paredes inclinadas, criando assim a ideia de uma "quinta fachada", igualmente importante na composição. Trata-se de um projeto moderno que resgata elementos da arquitetura tradicional equatoriana: presença das paredes e muro estruturais, embasamentos de pedra, pátio interno com elemento de água, cheios em contraponto a janelas recuadas para criar efeitos de luz e sombra, entre outros.
Uma das decisões do arquiteto foi de construir um diafragma arquitetônico exterior, que atua como uma tela em seu sentido mais literal. Como uma folha em branco que se integra à arquitetura e a projeta, discernindo o espaço da piscina da área de circulação de veículos.
A casa é dividida em três níveis: um subsolo onde estão a garagem e áreas de apoio com espaço para os empregados que funciona independentemente; uma planta principal onde se desenvolve a maioria do programa e um mezanino para hóspedes e sala de televisão.
A planta principal é zoneada em três grandes espaços: bloco de dormitórios, áreas sociais e suíte independente, distribuídos de maneira alternada ao longo do eixo de circulação principal que se inicia na entrada da residência e acaba, na outra extremidade, no ingresso à suíte. No centro do desenvolve-se um eixo de circulação vertical através de um elevador. Existe uma área recreativa adicional na qual está uma piscina com borda infinita em cascata, área verde e terraço-mirante.
Dentro da casa segue-se a mesma lógica do exterior, uma simplicidade com presença marcante. A cor branca das paredes e tetos contrasta com a base escura. A cor dos distintos espaços é ressaltada unicamente por obras de arte (colonial pictórica e escultórica, arqueológica pré-colombiana e peças contemporâneas pintadas por Guayasamin). Para cada cômodo desenharam-se espaços e nichos específicos como parte do design dos interiores.
Da mesma maneira é possível definir dois tipos de escalas e sensações. Uma convidativa para os espaços privados e outra ampla para as áreas sociais que trazem a ideia de museu. Complementando a arquitetura de interiores, foram desenhados móveis proporcionais ao espaço especificamente para o projeto. Mobiliário, objetos decorativos, telas e tapeçarias foram importados para o programa. Também foram empregados luminotécnica específica de museus, sistemas de áudio e segurança integrados, entre outros.
A intenção do projetista foi sempre propor algo diferente, mas com forte identidade. Coerente com seu contexto e estilo de desenho. Abordando dessa forma um referencial do que é ou pode ser arquitetura equatoriana contemporânea.
Este projeto pode ser entendido também como um experimento no qual se fundiu a experiência de um arquiteto maduro com as novas inquietudes e expectativas de um arquiteto jovem. Por si mesma, é o epílogo do trabalho do arquiteto Gustavo Guayasamin, com quase 60 anos de exercício profissional e que em seus 80 anos foi capaz de conceber um projeto com essas características.
Fachadas protagonistas em equilíbrio e harmonia; espaços fluidos e simples; luz, natureza e serenidade são algumas das qualidades que podem ser atribuídas a este projeto; uma casa, um lugar para receber e compartilhar, para disfrutar o cotidiano e exaltar o humano.
O resultado é uma casa museu que em si mesma é uma escultura arquitetônica.