Durante a última semana de junho viajamos até Buenos Aires para assistir ao Congresso Latino-Americano de Arquitetura (confira a cobertura das conferências aqui) e para participar do juri no Concurso para Estudantes Taller de Integración Latinoamericano (TIL) 2012. Ambos organizados pela Universidad de Morón na Argentina, que reuniu participantes de toda a América Latina.
O concurso foi um exemplo revelador quanto ao atual cenário acadêmico das escolas latino-americanas e, ainda, quanto aos principais temas urbanísticos, sociais e ambientais que preocupam os alunos. Participaram estudantes de Arquitetura com projetos realizados ao longo do ano de 2012.
Durante o Congresso os participantes apresentaram suas propostas e os resultados foram divulgados durante a cerimônia de encerramento pelo Reitor da Universidad de Morón, o arquiteto Oscar Borrachia. As propostas vencedoras são apresentadas após o intervalo.
1. Martina Solari (Chile)
Território / Grieta
1. Utilizar a paisagem como abrigo natural.
2. Microclima natural: proteção do vento e calor.
3. Realidade Tangível que se faz presente através da relação entre o entorno e a percepção humana.
4. Único resquício do lugar que narra a formação do território.
Astronomia
1. É proposto um passeio turístico astronômico. A arquitetura como meio de observação que se liga com o conhecimento astronômico e com a paisagem.
2. Redefinição do Céu: Fontes de água refletem as estrelas. Estando no interior da grieta os olhares se dirigem ao céu.
2. Enrique Silva (México)
O projeto busca entender e resolver de forma crítica, estética e responsável o complexo problema da intervenção arquitetônica contemporânea no patrimônio histórico, assim como o impacto imediato em seu contexto geográfico e social.
O programa é de uma Escola de Artes e Ofícios com uma Biblioteca em ruínas de um convento fransciscano no século XVI, oferecendo a comunidade de Totimehuacan e a região metropolitana de Puebla, um novo espaço para a realização e difusão de atividades culturais e artísticas de interesse geral.
A proposta por uma linguagem de elementos metálicos leves e coberturas planas protege, enaltece e potencializa a ruína existente, conseguindo assim uma relação direta entre o objeto arquitetônico recém construído, seu entorno e o patrimônio ancestral. Arquitetura em tensão. Diálogo entre um passado glorioso, um presente insatisfatório e um futuro utópico.
3. Ignacio Minolli, Pablo Ochoa, Sergio Rainero (Argentina)
Em uma região na borda do rio na cidade de Córdoba com um alto grau de degradação, o projeto busca novas formas de integração entre escola e bairro, além de procurar ser um marco do início do processo de renovação da área. A proposta apresenta um programa complexo com atividades produtivas e extensivas em uma ideia de escola aberta a sociedade, o que é expressado nos diferentes espaços públicos encontrados no projeto.
Espelhos de água: Mostram as mudanças da água através das estações, aguapés, fontes, praças inundáveis e cultivos.
Sistema Produtivo e Conexão Entre Bairros: Como uma nova forma de sustento baseado na atividade alimentícia, de cultivo, venda e cozinha.
Escala Urbana: Não padronizada de caráter autônomo, diferente tanto entre espaços de trabalho quando de horários e colaborações.
Educação: Dada pelo desígnio de funções, educação, comércio e esportes nas margens. Busca a integração.
Menções
Primeira Menção: Consuelo Urrutia, Cristóbal Ruiz-Tagle, Iñaki Arrasate, Matías Estevez (Chile)
O projeto surge a partir do local, onde percebe-se que o pescador mora e passeia de modos diferentes, sua casa é próxima ao mar, e dali o avista e o monitora, enquanto sua presença adentra na busca pelo trabalho. Estes dois fatores determinam a posição do conjunto, onde as moradias são dispostas de forma paralela entre si e o traçado que as une e as enlaça imita o vai-e-vem do mar sobre a terra.
Em seguida se dá o processo de deformação, onde as linhas perpendiculares são desviadas e direcionadas para lugares de marco e relevância para o habitante com a finalidade de relacionar seu projeto ao entorno. Por fim, o que chamamos de intenção, onde se distinguem as partes essenciais de uma palafita para manutenção e enaltecimento, esta operação é vista na estrutura de metal no exterior e na marcação de verticalidade, assim como no projeto das habitações que parte da cozinha, o espaço mais relevante para as famílias locais, é seu ponto de encontro e de estar. Para esta última são removidos todos os corredores e é gerado um pé direito duplo que faz com que todo o espaço sempre esteja diretamente relacionado a este ambiente de relevância, o calor e o coração da habitação do sul.
Segunda Menção: Juliana Giraldo (Bolívia)
A partir da pesquisa sobre processos de produção, situações cotidianas, dinâmicas culturais e condições geográficas, na zona do Sudoeste de Antioquia é proposta uma Oficina de experimentação rural. No laboratório das árvores, as atividades educativas e oficinas, giram em torno da vocação ambiental do território e da riqueza natural da região, assim como na exploração de novas atividades que convidem a integração e ao aprendizado.
Os módulos apresentam variações na fachada, tal acabamento é associado a frequência da atividade que ali ocorre. A persiana funciona como um filtro entre exterior e interior. No interior os móveis também adaptam-se as possíveis dinâmicas. A premissa é desenvolver atividades de diferentes frequências: algumas podem ocorrem paralelamente, sem serem interrompidas, outras requerem simultaneidade e integração, e outras ocorrem de modo independente, permitindo sempre estar em contato com a paisagem predominante do lugar.
Tercera Menção: Victoria Fernández (Chile)
O projeto constituído por uma intervenção na Caleta de Pichicuy tem como principal objetivo recuperar a Borda Costeira, reativando a economia local, por meio da otimização das tarefas produtivas do huiro e potencializar as moradias a atual tipologia de habitação coletiva. Este espaço linear se configura por um sistema de circulação em forma de rede ao unir quatro elementos: [passarela estendida + passarela submersa + passarela suspensa + passarela domestica] gerando oficinas comunitárias, culinária voltada a pesca, e uma escola de mergulho, criando, conectando e articulando novos passeios, e pontos de vista no território.
A passarela estendida é a esplanada que estende-se da terra até o mar para a extração do huiro, facilitando assim as tarefas de produção, ao utilizar do mesmo movimento dos extratores de alga para penetrar no mar e remover algas. A passarela submersa é a que envolve desde o mar até a terra, configurando recintos programáticos para as tarefas produtivas do huiro, como as oficinas e escritórios administrativos, além de serviços para o estar e a observação das tarefas de trabalho. A passarela suspensa se configura por espaços para a secagem de algas gerando uma passarela contínua que articula, enlaça, relaciona e conecta todas as áreas litorâneas.
A passarela doméstica é constituída por terraços acoplados as fachadas das casas existentes, formando espaços como oficinas produtivas, lavanderias coletivas, armazéns, armários comunitários, mirantes, etc.