A Casa das Canoas, projetada pelo e para o próprio arquiteto Oscar Niemeyer entre 1950 e 1954, é sem sombra de dúvidas uma das obras mestras da arquitetura residencial moderna, ao lado das famosas Ville Savoye (1929) de Le Corbusier, Falling Water House (1935-37) de Frank Lloyd Wright, Glass House (1945-49) de Philip Johnson e Farnsworth House (1945-51) de Mies van der Rohe. Em Canoas, Niemeyer sintetiza seus ideais de forma já experimentados desde o Pavilhão Brasileiro para a Expo Nova Iorque de 1939 e no conjunto da Pampulha (1940-44) e que seriam implementados, pouco tempo depois, no Edifício Copan (1951-66) e no conjunto do Parque do Ibirapuera (1951-54).
A coberta, uma sinuosa laje plana, é mais uma vez o que define o projeto. Porém, aqui, a natureza cria um rico contraste em harmonia com o construido. A casa insere -se e destaca-se na paisagem, ao mesmo tempo que a natureza é enfatizada por ela. Essa inserção é enfatizada pela presença de uma grande rocha incrustada à casa. Todo o projeto gira em torno e parece surgir dela. Para quem está dentro, essa rocha parece atravessar as paredes e janelas, formando parte íntegra do ambiente. Pela área externa, a rocha parece brotar do interior da casa e deslizar suavemente pela piscina.
Mais que um condicionante do projeto, Niemeyer utiliza a natureza como um elemento configurador de projeto, assim como a laje, a piscina, os esbeltos pilares tubulares e as transparentes esquadrias de caixilhos negros.
Niemeyer novamente faz uso do artifício de enterrar ambientes. Na Casa de Canoas, o nível de chegada, protegido pela sinuosa coberta, é formado pelos ambientes sociais -salas de estar e jantar-, cozinha e lavabo, em um espaço aberto, sombreado e transparente. Já a área íntima da casa situa-se completamente do nível inferior, acessado por uma escada que também surge lateralmente àquela rocha.
No entanto, esse nivel, mais que enterrado, é mais uma estratégia projetual que dota o terreno descendente de caráter projetual. Os ambientes íntimos, assim como o nivel principal, também usufrui das visuais permitidas e, sobretudo, da luz natural, controlada através de singulares esquadrias e aberturas.
A Casa das Canoas repousa, assim, sobre um amplo platô, imperceptível como tal, criando patios externos planos e protegidos por discretos gradis, sob o qual está os ambientes específicos de uma casa. Esta mesma solução -uma laje plana ortogonal que se faz de piso, sobre a qual surge uma coberta sinuosa e marcante-, será determinante, alguns anos depois, para o projeto do Congresso Nacional em Brasília.