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Arquitetos: Takeru Shoji Architects
- Área: 154 m²
- Ano: 2013
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Fotografias:Murai Isamu
Descrição enviada pela equipe de projeto. Essa é uma residência privada para uma família de três pessoas, construída em uma paisagem muito particular no subúrbio de Niigata, Japão. A casa está situada na esquina de um jardim de pessegueiros, entre um interior histórico de vilas de fazendas, ao longo do rio Nakanokuchi e de uma rodovia de tráfego pesado que corre toda província de Niigata.
O contexto cria marcantes, mas de maneira bem menos respeitosa, justaposições entre os arrogantes outdoors e lojas ao longo da rodovia e do delicado meio ambiente da vila, composta por armazéns vernaculares japoneses chamados “Kura” e casas cercadas de vegetação proveniente das cercas-vivas. Há também justaposições mais sensíveis, como a combinação entre flores sazonais e pêssegos em contraste aos carros barulhentos e em alta velocidade na rodovia. Todas estas questões ambientais, que normalmente são apreciadas quando longe uma da outra, estão incoerentemente situadas nessa mesma área.
Yobitsugi como método de projeto.
Temos confrontado de forma crítica um problema atual da paisagem suburbana ao aceitar a incoerência, observando atentamente este aspecto e reagindo a ele de forma precisa. Consequentemente o processo de design foca-se naturalmente em editar a configuração espacial de todas as partes da vida em relação ao meio ambiente fragmentado. Esta abordagem tornou-se extremamente semelhante ao que chamamos de "Yobitsugi" na tradição japonesa, que é a reconstituição de potes de chá a partir de fragmentos de cerâmica quebrada, expressando a beleza da vida animada.
O pátio como elemento unificador
A tipologia do pátio, especialmente nesse local, funciona como um aparato de união entre o meio ambiente fragmentado. No piso térreo, três volumes principais acomodam independentemente a sala de chá, closet e uma sala individual, criando um pátio com distância razoável do exterior.
Entrada, passagem em direção à sala de chá, dormitório principal e espaço de estudo foram planejados entre os três volumes principais e cobertos com um grande volume posicionado no primeiro pavimento. É bastante ambíguo que esses espaços intermediários sejam concebidos hora como ambiente interno hora como externo, no entanto, geram o máximo de conforto possível em uma região sujeita a fortes nevascas.
A tipologia do pátio e a ambiguidade dos espaços intermediários trazem vida ao jardim de pessegueiros - uma conexão perfeita entre este e a rodovia, e ao mesmo tempo certa separação do ambiente indesejável de beira da estrada.
Yakisugi como uma materialidade para comunicação
A materialidade da parede exterior é particularmente importante aqui, porque tem um sentido popular significativo que coincide com a interação entre a comunidade local e a casa. A fachada é coberta com tábuas carbonizadas de cedro japonês chamadas "Yakisugi", comumente utilizadas para revestimento exterior no Japão, especialmente por ser a prova de fogo e de fácil preservação. A parede Yakisugi não é tão aleatória como nos pode parecer à primeira vista. Placas Yakisugi são regulares e sistematicamente organizadas com quatro tipos de larguras: 80 mm, 105 mm, 150 mm e 210 mm, além de serem fixadas com sarrafos disponíveis em três tipos de espessura: 12 mm, 24 mm e 36 mm.
A textura irregular da parede Yakisugi cria intervalos de sombra variáveis ao longo do dia, além de belos padrões e contrastes marcantes no inverno, entre a neve branca e o Yakisugi preto. Hoje, alunos de uma escola primária nos arredores divertem-se com as irregularidades da parede Yakisugi, contando o número de ripas durante suas viagens diárias à escola.
A Casa no Jardim de Pessegueiros tem como objetivo estabelecer uma possível forma de comunicação, atividade e, eventualmente, vida através do diálogo com o meio ambiente. Entusiasmo nas mudanças e redescoberta da vida virão da transformação desse local incoerente em um conjunto espacial, promovendo um diálogo com o meio ambiente, assim como "Yobitsugi”.