-
Arquitetos: ARX Portugal Arquitectos
- Área: 436 m²
- Ano: 2013
-
Fotografias:Fernando Guerra | FG+SG
Descrição enviada pela equipe de projeto. A concepção desta casa resulta de uma reflexão sobre a identidade da arquitetura de Lisboa, uma tipologia recorrente cujo lote tem 6 metros de largura por 15 de profundidade, terminando em um pequeno jardim posterior. Trata-se de um edifício de 5 pisos com duas fachadas radicalmente diferentes: a “pública“ em pedra de lioz branco (a mais utilizada em Lisboa) e a posterior em vidro, ligadas por um mundo interior em concreto aparente, pontuado pela presença de elementos em madeira de bétula.
A fachada segue a tradição local, sendo reforçada pela estrutura rítmica das janelas, abertas num sistema de vãos cegos criado por um conjunto de faixas horizontais e bandas verticais - característicos da arquitectura da cidade. Tal como a maioria dos edifícios antigos de Lisboa, é uma fachada plana cuja expressão resulta da sua natureza ritmada, e de efeitos de luz e sombra produzidos por recuos das superfícies que a compõem. Este dispositivo confere à fachada uma noção de tempo que se expressa através do movimento de suas sombras ao longo do dia, desde um registo matinal mais subtil - sem sol directo - a sombras fortemente contrastadas durante a tarde.
Além de uma evidente preocupação em vincular a fachada aos alinhamentos envolventes, o desenho evidencia um óbvio contraste entre a base - mais opaca - e o coroamento - mais desmaterializado. Se o piso térreo responde de forma defensiva à estreiteza da rua, bem como ao fato de os moradores estacionarem os carros em frente de portas e janelas, já o coroamento mais permeável e desmaterializado é um espaço simultaneamente interior e exterior - um pátio superior, faz a transição entre o edifício mais baixo - a sul - e o mais alto - a norte. Mas é também um espaço que, apesar do seu caráter intimista, permite o olhar sobre a envolvente e a distante estátua do Cristo Rei, a sul, no eixo da rua.
Na fachada posterior explora-se a extrema transparência que prolonga o interior em direção ao exterior e abre o campo visual para o jardim - onde domina uma esplêndida Tília - direcionando o olhar para os pisos superiores sobre as colinas de Lisboa, o Tejo, e a margem sul. Sendo um lado da casa radicalmente aberto para o exterior, a luz abundante que ali incide diretamente durante a manhã é equilibrada pelo fato de todos os planos serem construídos em concreto cinza.
No interior, a precisão do desenho do espaço, bem como da inclusão de 2 portas na generalidade dos compartimentos, confere aos cinco pequenos pisos uma forte sensação de desafogo, bem como, a quem ali vive, uma evidente sensação de fluidez e liberdade de movimentos. Em termos de investigação construtiva este projeto é um exemplo onde toda a estrutura conforma o espaço e torna-se em si mesma arquitetura. Ou seja, a totalidade da estrutura de concreto, constituída por apenas 3 planos - duas empenas e uma lâmina transversal - é exposta e pensada para definir o essencial do espaço da casa.
Como um espaço simultaneamente natural e cenográfico, de contemplação e vivência, o jardim é assumido como universo arqueológico, onde estão presentes as diversas camadas temporais desde a fundação da casa. Aqui, são perceptíveis as técnicas antigas de construir os espessos muros em pedra (por vezes re-aproveitada de outras construções) as posteriores sobreposições em tijolo, argamassa ou tinta, bem como as pedras da casa demolida que aqui passam a constituir os pavimentos.
Originalmente publicado em 28 Novembro, 2013