- Área: 350 m²
- Ano: 2004
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Fotografias:Cristobal Palma
Descrição enviada pela equipe de projeto. Quando encontramos o cliente pela primeira vez, ele nos pediu para fazer uma casa cor de sombra. Pareceu uma pergunta interessante e aceitamos então desenhar uma casa privada para um cliente rico, um encargo que normalmente não pegamos por ser pouco relevante.
Nos encargou uma casa de veraneio (e inverneio) num terreno remoto e virgem do sul do Chile. Mais que um desenho, o cliente pedia que formulássemos uma equação que incluisse todas aquelas variáveis que vieram ao caso e logo buscar uma forma que fosse a pura expressão de tal equação: um terreno vulcânico, 4000 mm de precipitações anuais, forte radiação UV, ventos de norte e leste, vistas ao lago (norte), ao parque (sul) e a alguns outros pontos específicos, insolação adequada, consideração sobre a condição remota da obra no momento de escolher os materiais e tecnologias construtivas, desmembramento pormenorizado da maneira em que se usaria a casa, eliminação de qualquer possível romanticismo assim como de contemporaneidade a priori na definição da linguagem arquitetônica, eram os ingredientes deste prato desconhecido, mas que deveria resultar familiar uma vez feito.
Dado que o clima era uma das condições mais extremas, partimos por arriscar o menos possível: um convencional teto de duas águas apto para as precipitações. De pouco em pouco, começamos a extender as águas para as bordas até tocar as janelas no perímetro, buscando respeitar as vistas e ao mesmo tempo esquivar os ventos segundo fosse o caso. A regra para as janelas seguiu o mesmo princípio de um surfista entrando no mar procurando se esquivar das ondas: ou eram estreitas ou eram baixas. Se a janela buscava enquadrar um elemento vertical, como uma árvore ou uma trilha adentrando no bosque por exemplo, então a janela era alta porém esbelta; se elas enquadravam uma vista horizontal, como o lago ou o vulcão, então eram largas porém baixas.
Esta mesma lógica da vista e do esquive, expressada em janelas como marcos muito secos, explica a geometria da planta do segundo andar. A planta do primeiro andar, ao contrário, é uma caixa regular e resistente (pelos sismos e pelo terreno vulcânico, mas também pela segurança necessária para casas que passam parte do ano fechadas).
As pedras saíram de pedreiras próximas e as madeiras, da clareira no bosque que teve que ser feita para poder construir. A escuridade do objeto será a maneira de restituir parte da densidade e virgindade original do lugar.