- Ano: 2012
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Fotografias:Leonardo Finotti, Cortesia Carla Juaçaba + Bia Lessa
Descrição enviada pela equipe de projeto. Tentamos através desse projeto realizar uma exposição onde não houvesse separação entre o que estaria exposto e o prédio propriamente dito. Não havia uma arquitetura, no sentido de um espaço desvinculado de um conteúdo expositivo. O próprio espaço era a exposição.
O programa exigia um auditório, salas de reunião, espaços expositivos e assim por diante. Nosso primeiro movimento foi transformar tudo em espaços de conteúdos. Moveis, mesas, paredes, teto, chão, cadeiras tudo estaria a serviço de informações – não haveria separação entre áreas de serviços e áreas expositivas.Nesses espaços de tamanhos e funções variadas deveríamos explicitar as questões contemporâneas que envolvem o homem e suas atividades que transformaram nosso planeta radicalmente desde a revolução industrial até hoje –(antropoceno), todas as questões lançadas para reflexão pela Rio +20 e juntando a esses conteúdos de que forma o Brasil poderia contribuir para uma ação anexada a reflexão.
Tínhamos uma área (terreno) dentro de uma base militar, com um relevo instável, uma vista representante de um dos cartões postais do Rio de Janeiro – Praia de Copacabana e Ipanema e uma natureza viril, com um vento bem pouco delicado alcançando as vezes 120 km /hora por hora.
Nosso primeiro contato com o terreno foi conhece-lo durante um evento promocional (essa área e’ uma área de aluguel, para diferentes atividades). Lá estava instalado uma tenda plástica de 8.000 m quadrados, com um potente ar condicionado e uma varanda de uns 250m de onde se podia avistar Copacabana.Não queríamos em hipótese nenhuma, apesar de sabermos desde o inicio do provisoriedade do projeto, a utilização desses espaços concebidos para exposições temporárias (infláveis, tentas plásticas de diferentes formatos etc.).Para nós a inviabilidade desse material era obvia, abrir mão do vento, da vista e do terreno e trabalhar num espaço que poderia estar instalado em qualquer região, negando o que estava a sua volta. Para nos sustentabilidade representava a utilização dos elementos que o terreno e as condições climáticas apresentavam. Como negar o vento, o mar, o sol e a chuva tão imponentes e soberanos no forte de Copacabana?
A Carla Juaçaba (arquiteta responsável pelo projeto) foi quem primeiro olhou a estrutura dos andaimes e pensou em deixa-los a mostra recebendo a natureza. Revelá-los em vez de escondê-los. Andaimes que já davam suportes as tendas plásticas ali montadas, seriam libertados e dariam transparência a vista já existente,. Poderíamos utilizar o material que lá estava – pelo menos em parte.Isso foi o inicio da instalação. Pensamos então em soltar os espaços expositivos convencionais do chão. Eles seriam acessados pelo público através de rampas. No espaço térreo a estrutura criaria túneis que nos levavam a ver o mar, a receber o vento e a andar pelo terreno como ele lá estava.
Criaríamos um jardim nesses corredores – eles passariam a ser corredores expositivos. Desde esse momento a relação entre o espaço e o conteúdo já seria estabelecida. Esse jardim representaria simbolicamente a riqueza da vegetação em diferentes biomas e estariam dentro e fora da construção. Os andaimes explicitariam sua potencia de suporte, transparência e de acolhimento dos conteúdos através de seus enormes e pequenos vãos.
As salas seriam acessadas por rampas sutis, sem causar esforço ao visitante para que o desfrute da vista e das intempéries do tempo pudessem ser superiores ao esforço de acesso.Além de um espaço de reflexão, de interiorização, fechado, protegido da natureza na maioria das vezes –um chamamento a uma reflexão intima e solitária. Em algumas utilizaríamos o vento e a luz natural como elementos das instalações em outras necessitávamos o controle absoluta da luminosidade e da temperatura.
Queríamos estabelecer claramente que a utilização da tecnologia e das conquistas do homem frente a sua proteção a natureza não deveriam ser negados, mas absorvidos quando necessário sem preconceitos. Isso não significaria negar nossa ideologia – criar um espaço sustentável. As sala deveriam ser distante umas das outras para que o visitante pudesse sentir o contraste entre o interior e o exterior e usufruir dessa contradição. Fora estava o mundo, o clima, a natureza e a grande metrópole , dentro estava o visitante e sua interiorização. Sua relação com as instalações de uma forma subjetiva e individual.
Queríamos que a interferência da vista e do clima fossem materiais expositivos tanto quanto os textos, as esculturas, os desenhos, as maquinas etc. A metrópole que se via cada hora mais distante de acordo com a altura da edificação nada mais era do que uma obra lá exposta que se via de diferentes ângulos. A cidade é a maior invenção humana como diz o arquiteto Paulo Mendes da Rocha.
As paredes dos espaços que dariam vista para Copacabana seriam transformadas em paredes de leds com informações de conteúdos variados estabelecendo uma comunicação imediata com Copacabana – o bairro de maior densidade demográfica do Rio de Janeiro . Um edifício falante.A própria movimentação das pessoas no “edifício” transformava os visitantes em objetos de exposição visto de longe.Paralelo a esse pensamento era necessário criar uma agenda que fosse ampliada a todos os setores da sociedade e que abrigassem diferentes saberes, como ciência, tecnologia, arte , educação etc.Deveríamos conceber um espaço que estabelecesse uma possibilidade de convivência com os contrastes, tanto físicos como humanos.
A ideia de chama-lo de Humanidade 2012 veio radicalizar nossa intenção. O espaço seria de todos.Estabelecer um diálogo entre os diversos interesses e desejos..Unir os diferentes povos e colaborar concretamente para a transformação do planeta em que vivemos.Estamos diante de um limite, onde não há mais espaço para um pensamento voltado apenas ao acúmulo de capital isso deveria estar explicito e foi o que tentamos fazer.Estamos diante de um limite mais que real e isso esteve presente durante toda a idealização, construção e vivencia do Humanidade 2012.
A visitação maciça do publico transformou e reinventou o espaço. Já não era mais uma exposição dos conteúdos que tínhamos domínio, mas de uma infinidade de pessoas que interferiam com aqueles objetos e espaços criando uma vida própria e nos revelando com muita clareza a função de cada lugar. Uma apropriação direta sem cerimonia. Por lá passou chefes de estado e pessoas famintas – um dos objetivos havia sido cumprido.
A apropriação do público nos surpreendeu em alguns casos. Lugares imaginados para a reflexão se transformaram em espaços de alegrias múltiplas, espaços de convivência em espaços de passagem – enfim o olhar do outro é sempre uma revelação.
Todo material utilizado na construção já esta sendo transformado em outros conteúdos, no caso da estrutura novas construções, no caso dos conteúdos em livros, filmes, bibliotecas, enfim tudo será reaproveitado. Isso para nos significa sustentabilidade.
Durante esse processo de trabalho, algumas vezes nos percebemos ingênuos na tentativa de uma união real entre as diferenças. Mas diante da urgência da questão que se apresenta, ingênuos ou não, precisamos nos tornar uma HUMANIDADE e essa motivação se tornou o centro condutor de todo processo de trabalho, que se estendeu em regime de urgência por 4 meses da concepção a sua conclusão.