Texto do Arquiteto.Situado no limite sul de Pêro Pinheiro, 8 km a norte de Sintra, o terreno, pela sua forma rectangular, topografia quase plana e contexto urbano, carece de referências significativas que pudessem ter dado uma origem específica ao projecto.
A nascente e a poente, duas habitações unifamiliares de escala semelhante enquadram o terreno no arruamento de acesso ao longo do limite norte do lote. A sul um conjunto de instalações industriais desactivadas limitam o lote com um dos edifícios existentes sobre a linha limite das propriedades.
Três ideias formam a base conceptual para o projecto desta habitação unifamiliar de três quartos: a) a compactação da área de implantação no sentido de maximizar a área de jardim a sul e minimizar as áreas exteriores non edificandi de 3m ao longo dos limites laterais do terreno a nascente e poente; b) o diálogo na coexistência de dois volumes no sentido de contrabalançar a ausência de referências no contexto em que se insere; c) e a sobreposição das noções de transparência espacial e solidez volumétrica, através da abertura de vãos que promova variação da profundidade de campo na narrativa espacial da casa.
Neste sentido, a concepcção volumétrica da casa é estabelecida pelo desfasamento de dois volumes gerando dois espaços exteriores diferenciados, ambos de 5m de largura, permitindo assim a abertura de vãos orientados a nascente e poente. O primeiro espaço formaliza o acesso pedonal, permitindo também que a zona de estar orientada para o interior do terreno vigie a entrada e se relacione com a rua. A janela do quarto principal no primeiro piso orientado a nascente contribui também para a espacialidade da área exterior de entrada. O segundo espaço, orientado para o interior do lote prolonga o espaço da cozinha para o exterior, estabelecendo um acesso secundário que se relaciona com o jardim, com acesso automóvel e com a garagem.
No piso térreo, o volume a sul contém a zona de estar e de jantar orientada para o jardim enquanto no volume fronteiro à rua situam-se lavabo, despensa, escritório, cozinha e lavandaria. Enquanto o escritório se relacciona com a narrativa do acesso principal – directamente ligado à entrada da casa e vigiando o acesso pedonal a partir da janela fronteira à rua – a cozinha perfura o volume norte na sua profundidade desvendando parcialmente o interior do lote a partir da rua. Entre os dois volumes, a partir da entrada principal estabelece-se a circulação térrea e vertical transvesal ao terreno.
A partir da entrada (0.00), as cotas de pavimento establecem-se ao longo da suave topografia do terreno atingindo o nível mais baixo na cota da sala de estar (-0.70m), enquanto a cozinha e a zona de jantar formam o nível intermédio (-0.35) do piso térreo. Esta topografia interna é enfatizada pelas variações de pé direito geradas, aumentando o sentido de privacidade ao longo do percurso espacial conforme se progride pelo interior da casa até à intimidade da sala de estar. Aqui, um tecto falso a 2.40m sobre as aberturas para o jardim controla a luz natural a sul, e, ao contrastar com a generosidade do pé-direito de 3.20m no centro do espaço e com o quase-duplo pé-direito (4.80m) na extremidade nascente da sala de estar, confere à zona da lareira um sentido de conforto e intimidade. Esta zona de pé direito de 4.80m, enquanto se expressa interiormente como uma adição à genorisidade espacial da sala, no exterior revela-se como uma subtracção à rigidez volumétrica do conjunto, destacando a presença autónoma do volume vertical da chaminé.
No piso superior, o quarto principal, auxiliado por instalação sanitária e zona de vestir situa-se no volume norte enquanto os quartos individuais ocupam parcialmente o volume sul, partilhando o terraço orientado a sudoeste de onde se pode disfrutar de uma vista mais ampla para a Serra de Sintra.
Este terraço faz parte de uma série de subtracções volumétricas à massa edificada que pretendem suavizar a rigidez geométrica da casa. Sobre a entrada, o pequeno terraço que serve o quarto principal separa e define os volumes norte e sul no enquadramento da vista do acesso pedonal, donde também é visível o volume vertical da chaminé o recorte ao longo da fachada nascente anteriormente descrito. No alçado frontal, o recorte sobre a cozinha permite a abertura de uma clarabóia na extremidade deste espaço, contribuindo também para uma maior riqueza e complexidade geométrica do conjunto.
Na extremidade sul do conjunto, um muro de betão descofrado encerra no seu tardoz espaços de arrumos e parqueamento coberto. A sua curvatura acentua o sentido perspético e de profundidade do espaço de jardim, funcionando como um elemento cénico a partir da sala enquadrado pela presença de duas oliveiras de médio/pequeno porte. A configuração geométrica do muro minimiza a presença da ruína da propriedade vizinha.
As paredes exteriores da casa são revestidas a reboco areado fino pintado a tinta de areia cinza claro. Todos os capeamentos, lambris, pavimentos exteriores, soleiras e peitoris são executados em pedra Azulino de Cascais amaciado ou serrado. Os vãos da sala e escritório bem como as portadas exteriores são em madeira de afzélia enquanto os restantes vãos foram executados em caixilharia de alumínio termolacado preto. No interior os pavimentos são em soalho de madeira de carvalho francês e pedra Azulino de Cascais e as paredes em estuque projectado e azulejo cerâmico de lastra Vuiva Lamego.
Você pode assistir o filme realizado sobre o projeto aqui.