Dos arquitetos: A moradia situa-se numa ampla propriedade localizada em Comporta, Portugal. O terreno apresenta-se completamente límpido, apenas definido por um plano de solo arenoso, dotado de uma vegetação espontânea rasteira e fortemente pontuado pelas linhas verticais de inúmeros pinheiros.
Perante este cenário, o objetivo primordial do arquitecto Rui Pinto Gonçalves do atelier RRJ Arquitectos foi desenhar uma peça que se enquadrasse perfeitamente ao local. Registar na paisagem um gesto, sem o destacar. Fundir o objecto arquitetônico com o perfil da natureza existente.
Seguindo estas premissas, o processo conceptual resultou na composição de duas caixas, ligadas entre si por um volume menor. Duas caixas vazadas, que deixam o exterior circular pelo interior e que se diluem no mesmo.
O conjunto assenta no terreno, como se deste fizesse parte, horizontal e mimético, pela escala, materiais e cores, em peças de rigor geométrico, que abrem janelas para o próprio cenário e que simultaneamente difundem perspectivas do mesmo nos seus reflexos.
A linguagem contemporânea marca toda a existência do edifício, desenhado por linhas puras e por jogos minimalistas de planos e materiais.
Os volumes principais são dois paralelepípedos em concreto à vista, fundamentalmente delimitados por uma esquadria cinza mínima. O volume que os liga é revestido com painéis de Viroc Negro (painel de base cimentícia e fibras de madeira), com expressão bastante neutra.
Uma das grandes preocupações na concepção do projeto foi a proteção solar, a intenção de tornar a casa o mais permeável possível, de fundir os espaços interiores com os exteriores, originando grandes planos envidraçados obrigatoriamente protegidos da incidência da luz solar. Assim, todos os planos de vidro são recuados e possuem telas de sombreamento.
Os interiores procuram seguir a mesma linha de coerência, destacando-se um ambiente puro e despojado, onde predominam as transparências e os materiais nobres.
Valorizam-se os planos brancos, que revestem quase todo o interior, sobre um pavimento de madeira natural.
Acompanhando a filosofia do atelier RRJ, o edifício responde às características do lugar, ponto de partida para a criação de soluções que não se repetem.