A Biblioteca Municipal de Ílhavo está instalada no que resta do Solar Visconde de Almeida, edifício nobre datado dos séculos XVII/XVIII e posteriormente alterado e demolido. Do edifício original subsistia apenas a fachada principal (sudeste) e a Capela, ambas em ruina. Da antiga cocheira, que rematava o conjunto a sudoeste, já nada restava, mas o que persistia do edifício eram elementos de uma arquitectura qualificada, nas proporções do desenho e elegância de todo o trabalho de cantaria.
São registos construídos que rareiam em Ílhavo, que ancoravam o palácio nas ruas e que por isso se entendeu preservar e integrar. O edifício localiza-se na periferia da actual povoação, numa zona de débil expansão urbana ainda muito desarticulada e problemática.
Nesse sentido optou-se não apenas de desenhar uma biblioteca, mas antes de mais articular as volumetrias diversas do contexto, clarificar e consolidar fragmentos urbanos sem aparente sentido de conjunto.
O programa preliminar, que pela sua extensão não era possível confinar aos espaços do solar, estabelecia a intenção de construír três núcleos distintos: Biblioteca, Capela e Fórum da Juventude.
Como ponto de ancoragem, dentro dos limites do antigo solar e encostados à fachada do palácio, agruparam-se as zonas administrativas, compostas por espaços mais compatíveis com a métrica dos vãos existentes, devolvendo o carácter de edifício, ao que era já um mero cenário decadente.Há contudo uma clara identificação de que se trata de uma nova arquitectura, que existe em ‘simbiose’ com as pré-existências.
A concepção do resto do edifício resulta essencialmente do nosso entendimento do seu carácter público e cívico que nos levou a reforçar o seu ‘desempenho’ urbano. No desenho dos corpos de salas de leitura e fórum da juventude, que constituem o corpo ‘exterior’ ao solar, são estabelecidas relações morfológicas directas com a envolvente.
Deste modo o edifício funciona no contexto como um compatibilizador ou espécie de ‘peça de fecho’ que incorpora na sua fisionomia os ‘caprichos’ da envolvente. Nunca faria sentido noutro contexto.
A capela, pese embora o facto de ter sido espoliada dos seus elementos decorativos mais importantes, como azulejos, talhas, lápides tumulares, ou mobiliário, é restaurada na sua essência espacial preservando as evidências possíveis de uma história perdida.
O mobiliário é redesenhado e inequivocamente contemporâneo, tal como o novo retábulo de Pedro Calapez, que repõe a tipologia e sentido de policromia original.Pretende-se reactivar o culto na capela, utilização que dela se fez até ao seu encerramento, com a demolição do palácio.