Como parte da comemoração dos seus 40 anos de existência, o INDA (Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço) convidou a FGMF para desenvolver um grande equipamento cultural na zona leste de São Paulo. O ICEMA (Instituto Cultural e Educacional – Museu do Aço) inclui um teatro completo para 500 pessoas, espaço de exposições temporárias, salas de capacitação profissional e o museu do aço.
A iniciativa faz parte dos esforços de posicionamento da cadeia do aço, enfatizando aspectos ambientais e reforçando a atuação social com programas junto às comunidades do entorno.
O edifício deveria demonstrar o aço em suas várias aplicações e formas, de maneira a se tornar uma referência prática da versatilidade do material. Porém, dada a relevância do equipamento e o aspecto social desejado, a proposta arquitetônica não partiu de um elemento sólido: o principal gerador do partido é o espaço público. Mais que uma construção, queríamos que o museu fizesse parte do tecido urbano, que fosse experimentado em todos os momentos e por todas as pessoas, e não somente por aqueles que se dispusessem a entrar no espaço expositivo.
No esguio terreno de 400m de frente para uma movimentada via expressa, ao lado de uma estação de metrô, liberamos o térreo e o deixamos visual e fisicamente permeável. Uma praça escavada, de acesso mais controlado, serve de abrigo ao foyer do teatro, às salas de aula, a um café e a espaços técnicos do complexo, além de se resguardar do barulho da avenida. Sobre esse vazio que simboliza as minas de onde é extraído o minério de ferro, paira um enorme volume revestido em aço cor-ten, suspenso por finas hastes tracionadas presas a uma estrutura periférica simples e esbelta. Tal como uma nuvem metálica, essa grande nave apresenta-se num formato inusitado e orgânico, em contraste à rigidez e precisão da estrutura que a sustenta.
Representando as infinitas variações de forma que o aço permite, esse volume suspenso cria um elemento curioso que desperta nos transeuntes o desenho de entrar e descobrir seu conteúdo. O espaço interno, tal como a forma externa denuncia, é um ambiente de contorno irregular e mezaninos soltos e interligados por rampas. Dentro do museu, a forma irregular que se vê de fora transforma-se num espaço rico e de dimensões variadas, com aberturas eventuais de vidro e tela perfurada que permitem vislumbrar a praça logo abaixo. Intervalos e vãos entre os mezaninos acomodam instalações, esculturas, projeções e outros elementos que não precisam estar apoiados no piso dos pavimentos. Além de diversificar as opções de exposição, a solução faz com que o passeio pelo acervo multimídia seja uma experiência sensorial única.
O acesso ao museu é feito diretamente pela passarela que sai do metrô, numa derivação em treliça metálica que lentamente se transforma no museu, formando uma espécie de túnel. O acesso se dá, portanto, por um foyer elevado que também é alcançado pela torre de circulação vertical. Na outra extremidade do museu, uma passarela plana sobre a praça em direção ao teatro, onde ficam as exposições temporárias diretamente em contato com o público das peças e concertos, forçando uma interação maior entre os programas e frequentadores dessas funções inicialmente independentes.
Todo revestido em chapas negras de aço, o teatro se coloca como um monólito rígido e dá ao museu o protagonismo da cena. Ao mesmo tempo, a estrutura que sustenta o museu incorpora uma malha metálica inox que define melhor a praça coberta e a protege da insolação direta sem tirar a luminosidade natural. O microclima no espaço público é completado pelos espelhos d’água e árvores cujas copas oferecem-se ao transeunte – um espaço aberto e generoso aos usuários, mas protegido da confusão da via expressa que o margeia. Mais do que uma passagem, esse vazio construído é colocado como uma alternativa de destino, um ponto de interesse numa região que carece de espaços generosos e qualificados para a população.
A tela metálica, durante o dia, deixa o grande volume do museu ligeiramente enevoado, indefinido, como uma sugestão do que há ali. Em rasgos estratégicos na tela, por onde se dão os acessos ao espaço público, podem-se ver pedaços desse elemento. À noite, acontece o contrário: iluminado, o museu surge com força na paisagem, criando um marco imponente, uma escultura que homenageia não o material do qual é feito, mas a população do entorno. Faz parte do complexo, ainda, um edifício comercial que gerará recursos para a construção e manutenção do centro cultural, além da promoção de ações sociais.