O terreno, com uma área total de 1690.00 m2, apresenta-se inserido num loteamento com condições extremamente favoráveis ao desenvolvimento de uma solução de qualidade, não só paisagística como arquitectónica.
A envolvente é fortemente marcada pela presença de habitações implantadas em lotes rodeados por espaços densamente arborizados, pela abundância de pinheiros mansos que ensombram e protegem todo o conjunto construído, permitindo usufruir de um ambiente pouco transformado, aspecto este reforçado pelos terrenos envolventes e pelo mar e praia a pequena distância.
A necessidade de criar um espaço comum à habitação que pudesse servir utilizações diversas e polivalentes, e, paralelamente, a necessidade de autonomizar as células de descanso, com um carácter privado, potenciou o desenvolvimento de uma ideia de construção que pudesse derivar de uma espécie de somatório de partes distintas, a partir de um momento central, momento este que resolvesse simultaneamente as circulações e distribuições, horizontal e vertical.
Assim, a proposta resulta do acoplamento de uma espécie de caixas relativamente ao tal espaço de distribuição central e que, no piso inferior porque se trata de um programa público, permitem permeabilidade e união entre os diversos zonings funcionais mas que, no piso superior, porque se tratam de espaços individuais, evitam essa permeabilidade e desenham-se em completa autonomia entre si.
Paralelamente, a necessidade de adaptação ao clima mais quente, permite a exploração de conceitos que derivem no avanço e recuo de volumes, no tratamento menos unitário da construção, na exploração de planos de repleção e de ensombramento, na diminuição da dimensão das aberturas exteriores e no uso de materiais próprios da região.
O alojamento proposto resolve um espaço comum aberto sobre e para a paisagem, ligado entre si e que, à medida que se vai tornando menos público, ganha mecanismos de protecção e individualização, não obstante alguma propositada repetição formal que, pela sua implantação, rotação e exposição cria atmosferas diferenciadas entre si e algo anónimas, podendo ser apropriadas por pessoas diferentes em momentos diferentes – tal como o uso esporádico da habitação, como casa de férias, fez sugerir – a ideia desenvolvida visa a criação de um conjunto de espaços que, pelas suas características, possam por si só, induzir na criação de hábitos fora da norma e por conseguinte, permitir aos seus usufruidores, uma abordagem pouco formal e até bastante descomprometida – as férias são, por excelência, o lugar da excepção, e o reverso da rotina – o espaço deve potenciar isso mesmo.
A desmaterialização do volume de construção, visa assumir também um outro compromisso que se prende com a necessidade de negar uma massiva ocupação do lote, inclusivamente no sentido de valorizar as espécies naturais existentes e, desta forma, manter o carácter de calma e serenidade que se sente ao percorrer este espaço.
Assim, a criação de espaços diferenciados (quer públicos quer privados), permite também uma diferente relação destes com a envolvente directa, quer pelo desenvolvimento de soluções de relação meramente visual, quer pela criação de espaços exteriores, de transição, que funcionam como ampliações do próprio espaço interior, mas também outros que funcionam como penetrações do próprio espaço exterior existente – espera-se uma relação intensa entre o interior e o exterior e, mais do que isso, uma verdadeira relação entre o espaço construído e o espaço natural de forma a que se fundam, sem que, nem um nem outro se imponham desmesuradamente.