Contexto
BusStopSymbiosis é uma arrojada peça de mobiliário urbano, vencedora de um concurso lançado aos arquitectos, designers e artistas portuenses, em meados de 2010. Com o intuito de anunciar na cidade um evento que debatia a criatividade no país, os concorrentes foram convidados a pensar em estruturas temporárias para o espaço público portuense cujo objectivo seria o de melhorar a vida quotidiana das pessoas.
Para além do orçamento bastante reduzido, os principais critérios de selecção incidiam sobretudo na procura de uma ideia inovadora e na sua pertinente integração no local seleccionado e determinavam que a proposta teria de ser de rápida produção e simples de implementar: capaz de surgir e desaparecer na baixa da cidade sem que nada fosse destruído quando fosse instalada e não causando qualquer dano quando fosse desmantelada.
Conceito
BusStopSymbiosis procura ser um novo acontecimento urbano: uma simpática e colorida instalação temporária surge junto a uma banal paragem de autocarro criando uma nova inter-relação urbana, benéfica para ambas as estruturas. Deste modo, trata-se de um equipamento urbano que visa não só aumentar o espaço para sentar da existente paragem de autocarro, como também entreter aqueles que ainda estão à espera do seu transporte ou os que apenas se passeiam nas proximidades. Mas ao contrário dos bancos já existentes, BusStopSymbiosis possibilita que os usuários se sentem voltados para qualquer um dos lados do largo, permitindo que decidam voluntariamente a sua posição no centro do espaço público.
Tirando partido da dicotomia entre o velho e o novo, a proposta apresenta-se como um plug-in pensado para o centro histórico, assumindo-o claramente como parte da cidade contemporânea, em contínua reformulação. Mais do que uma mera extensão ou prolongamento, a adição de um novo elemento marcadamente actual revela-se uma reconhecida estratégia capaz de valorização das preexistências como parte de um conjunto mais atraente. Embora num tom leve e divertido, BusStopSymbiosis chama assim a atenção para a importância da revitalização e reinvenção dos (espaços públicos nos) centros urbanos consolidados. Trata-se de uma nova abordagem na concepção de mobiliário urbano, de carácter interventivo ou mesmo provocatório.
O local seleccionado para esta intervenção – o Largo dos Lóios, no Porto – caracteriza-se pela ambiguidade com que o fluxo de transportes colectivos define o espaço público, assumindo como elemento central no largo um conjunto de (três) banais paragens de autocarro. Este projecto procura tirar partido dessa centralidade, chamando a si o agora desejado protagonismo, digno de uma intervenção artística que não só permite como encoraja o público a interagir activamente com ela.
Ao invés de ocorrer através uma massa densa, a formalização de BusStopSymbiosis acontece por uma sequência de planos paralelos, distanciados entre si cerca de dois centímetros, sendo assim alcançada a transparência que permite que atravessemos visualmente a peça – e é precisamente esta especificidade que lhe dá a pertinente leveza e delicadeza na sua implantação.
Por outro lado, foi sobretudo a sua divertida e atractiva forma (de uma geometria não euclidiana) que sugestionou as várias pessoas que por ali passaram e que rapidamente se foram apropriando do ‘estranho’ objecto – a sua aparente casual semelhança com uma enorme minhoca ou mesmo com uma versão vermelha do monstro de LochNess, procura na verdade alguma (pré) identificação do público com o objecto. Durante a semana da sua existência, BusStopSymbiosis causou admiração geral, surpresa e curiosidade. E parte da função foi precisamente a de por as pessoas a pensar na sua utilidade: um banco, uma obra de arte, um enorme porta revistas ou um pouco de isso tudo? Se, no começo, uns apenas olhavam ou tocavam com hesitação, rapidamente, todos se começaram a sentar e a sentir uma nova e divertida forma de estar na cidade.
Estratégia Construtiva
Sendo totalmente concebido e produzido de um modo digital, usando softwares de modelação tridimensional e, posteriormente, processos de corte por controlo numérico computorizado (CNC), BusStopSymbiosis é uma peça composta por 95 componentes geometricamente variáveis, totalmente fabricados dentro de um par de dias, e interligados por vários tubos de aço inoxidável.
A peça foi previamente testada em oficina e posteriormente transportada para o local, dividida em três partes. Uma vez montada, BusStopSymbiosis apresenta um comprimento de 3,80m e as suas outras dimensões variam entre os 0,4m e 3m de altura e 0,3 e 0,8m de largura. A sua implementação no Largo dos Lóios não durou mais do que um par de horas e aconteceu de madrugada para poder surpreender as pessoas que se deslocavam para o trabalho, logo pela manhã.
Estratégia Sustentável
A escolha do material que dá forma à peça faz parte de uma estratégia consciente. Assim, optou-se por produzir BusStopSymbiosis em VALCHROMAT©, um material fabricado em Portugal e com especificidades únicas no mundo. Produzido em diversas cores através de corantes orgânicos, este material consiste num um painel de fibras de madeira e resina com um elevado comportamento físico-mecânico, uma forte resistência à humidade e ainda um baixo esforço no acabamento.
Com o objectivo de reduzir ao máximo os resíduos sobrantes resultantes da fabricação desta peça, o design de cada um dos 95 componentes de BusStopSymbiosis soube adaptar-se inteligentemente (de um modo paramétrico) às dimensões comerciais do material seleccionado e também o processo de corte foi optimizado através de software próprio especializado (nesting) reduzindo ao máximo desperdícios de material e, por isso, os custos.
Futuras Implementações
Apesar da sua curta existência este projecto chamou a atenção dos media nacionais e internacionais tendo sido destacada a sua pertinência iconográfica e apresentado como um exemplo regenerativo do espaço público.
Assim, interessa-nos agora pensar em BusStopSymbiosis como uma intervenção piloto apta para se adaptar a novos contextos sendo, por isso, replicável na sua essência: trazer o lúdico até ao urbano de um modo eficaz e pertinente, capaz, por si só, de despertar lugares outrora adormecidos.